Poeta, Contista & Cronista Social
Um
dia desses, recentemente com raros raios solares aqui pelo meu estado, no meu
intervalo de almoço na escola, aproveitei para dar uma “lagarteada” (Gíria
muito utilizada em partes do RS que significa pegar sol) no pátio da
instituição onde trabalho.
Paralelo ao ginásio de esportes da
escola há uma pequena quadra de futebol
sem cobertura onde além de servir para as práticas de educação física em dias
sem chuva, também serve para brincadeiras das crianças que chegam com muita
antecedência para o turno da tarde e por ali se dividem entre o vôlei e o
futsal, dependendo do grupo que chega primeiro e que têm a bola.
Detive-me introspectivamente e com o olhar de poeta
assistindo à alegre “pelada” que se desenvolvia entre meninos que literalmente
maltratavam a bola, erravam passes de centímetros , um dos goleiros nitidamente
fora escolhido pela inabilidade com os pés, sequer prestava atenção ao jogo e
conversava distraidamente com outro colega escorado junto a trave, eram garotos que certamente não jogavam nos times do bairro ou da escola.
Voltei no tempo pois, sempre sobrei nas peladas dos extintos campinhos da minha
infância, mesmo que a bola fosse minha nem isso me fazia ser escolhido nas
primeiras opções, eu era como aqueles garotos, mas assim como eles, eu e os
meus amigos da infância vivíamos momentos lúdicos de brincar e ser feliz sem
nos comprometermos em performar.
Tenho dois grandes amigos
intelectuais com os quais estou sempre aprendendo em nossas conversas que são os Professores Adriano Viaro e Eduardo
Schutz e seguidamente abordamos o tema da
necessidade exacerbada que a sociedade tem em mostrar-se vitoriosa e feliz,
excluindo a normalidade do cotidiano.
Cada passe mal dado, defesa mal
feita metaforicamente não mostramos no
nosso dia a dia, porque dentro dos desdobramentos do capitalismo só há espaço
para vencedores, aliás, indico que sigam o Professor Viaro em suas redes
sociais onde com mais propriedade e estudos ele costuma elucidar esses aspectos
da Pós-modernidade que se retroalimenta de uma fragilidade coletiva que busca
sempre aprovação.
Tornamo-nos tão competitivos, e como não há espaço para
que todos vençam, disfarçamos simbolicamente nossas imperfeições e derrotas em
busca de flashes por efêmeros momentos de glória. Somos sedentos por vitória,
ainda que o conceito da mesma seja totalmente
reformulado de maneira
controversa.
Eu hoje maduro fui representado por
aqueles garotos que simplesmente brincavam sem compromisso com a “vitória”, aliás,
esse compromisso megalomaníaco de buscá-la acima de tudo é estimulado por uma
figura nefasta da nossa sociedade que é o “Coach”, mas aí o meu amigo Viaro e
outros pensadores que se debruçam a desmascarar esses embusteiros têm mais
propriedade para abordar.
Eu sigo como a garotada no sol
divertindo-me e nem ai para o padrão
coletivo de sucesso, pois nas quadras da minha vida há espaços para os meus
iguais e não para os arautos do sucesso constante.
Em tempo! Só me faltou enquanto
assistia ao jogo a companhia de uma bergamota.