Daniel Machado da Luz - Bacharel em Administração pela São Judas, bacharelando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O descaso que custa caro a toda uma sociedade
Imagine que o seu carro teve
uma pane assim sem mais nem menos e você chama o guincho, leva-o até a oficina
e tem das mãos do mecânico responsável o orçamento e a descrição dos problemas
que afetaram o veículo e você simplesmente o desqualifica dizendo que achas que
o problema é outro. Detalhe você mal sabe trocar um pneu, ou você pode imaginar-se
também indo ao médico, fazer um exame e quando ele for lhe explicar a
enfermidade que te acomete, você simplesmente desqualificar o seu médico e
dizer que achas que o diagnóstico é outro.
Nesses
dois exercícios de ficção ninguém desacredita o profissional em questão, caso
tenha dúvida da competência, o que se faz é consultar uma segunda opinião que lhe
transmita mais credulidade. Por
que não utilizar em relação aos conceitos das ciências humanas a mesma lógica
de ação?
Ninguém é
dono exclusivo da verdade e, além disso, todos os saberes podem ser salutares e
consideráveis. Opinar é importante e também se constitui em uma das premissas
básicas de um ambiente democrático e falando em democracia não podemos
desconsiderar a juventude de nossa experiência democrática, pois ainda não faz 30 anos que após o nefasto
golpe militar voltamos a eleger diretamente um Presidente da República.
O Golpe político impetrado pelo
“Presidente Interino” respaldado por políticos de “Vida e Ficha” amplamente
sujas, Os descontroles dos gestores públicos como, por exemplo, o Governo do
Estado do RS e outros que sequer cumprem a prerrogativa legal de pagarem o
funcionalismo em dia, Os retrocessos que ameaçam políticas públicas
consolidadas, As ameaças em torno da CLT
e da Previdência Social, a truculência militarizada da polícia em relação a
estudantes e professores no caso de ocupações
enfim para todos esses aspectos que norteiam a sociedade, não está
vedado a nenhum cidadão o direito de opinar a respeito, mas quando essa opinião
não se baliza em estudos ou ao menos o bom senso de ouvir e ler profissionais
que se debruçam nessas pautas, é claro que na leitura você pode desfrutar de
várias tendências, muitas até maldosas como costumam alguns políticos
desonestos ou jornalistas de grandes veículos midiáticos que ao seguirem os
interesses dos seus patrões procuram moldar a opinião do seu público leitor, ou
ouvinte para reproduzir o mantra do senso comum.
Mas se o cidadão, apesar da correria
cotidiana, começar a desenvolver o hábito de ouvir mais de uma opinião e
refletir sobre ela e passar a considerar que Historiadores, Antropólogos,
Sociólogos, Cientistas Políticos tem a
dizer e mais se acrescerem a leitura antes de posicionarem-se
enfaticamente a respeito de qualquer
pauta, certamente a democracia sairá ganhando.
Em hipótese alguma reverencio o saber
acadêmico como guia absoluto do conhecimento, muito pelo contrário, fora da
academia consolidamos muitas questões que em função de certa elitização passam
despercebidamente, mas desacreditar as ciências humanas como costumeiramente se faz no Brasil em nada contribuirá para avanços que
a sociedade precisa.
Por
aqui respeitamos a opinião do médico, do engenheiro, do eletricista, do
estilista, do astrólogo enfim da maioria das pessoas, mas quando se trata de
uma análise de pessoas que se debruçam por horas a fio na interpretação desses
fenômenos, simplesmente elege-se o mantra do senso comum como guia absoluto e
inquestionável e sendo assim voamos rasantemente na consolidação de ideias que
não foram aprofundadas e o que é pior desconsideramos as opiniões construtivas
que esses profissionais poderiam nos passar.
Temas
de grande vulto e relevância não merecem a binarização e o reducionismo de uma
conversa de bar, onde as metáforas imbricam-se com a descontração e o tema
abordado não urge a nossa porta, temas relevantes merecem análises mais
aprofundadas e contributivas para um
aprimoramento no status quo.
Portanto, antes de simplesmente dar seu veredicto final sobre determinada
pauta social, procure não deslegitimar quem se debruça nessas análises. O
conhecimento não deve ficar em uma redoma onde poucos se locupletam, mas a
humildade de buscarmos informações com os que se dedicam a determinada causa
sempre é salutar, caso contrário correremos o risco de opinar sobre robótica ou
física quântica baseada na manchete do Jornal Nacional ou em alguma postagem do
Facebook.
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