quarta-feira, 29 de junho de 2016

O descaso que custa caro a toda uma sociedade







Daniel Machado da Luz - Bacharel em Administração pela São Judas, bacharelando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.









O descaso que custa caro a toda uma sociedade

             Imagine que o seu carro teve uma pane assim sem mais nem menos e você chama o guincho, leva-o até a oficina e tem das mãos do mecânico responsável o orçamento e a descrição dos problemas que afetaram o veículo e você simplesmente o desqualifica dizendo que achas que o problema é outro. Detalhe você mal sabe trocar um pneu, ou você pode imaginar-se também indo ao médico, fazer um exame e quando ele for lhe explicar a enfermidade que te acomete, você simplesmente desqualificar o seu médico e dizer que achas que o diagnóstico é outro.    

          Nesses dois exercícios de ficção ninguém desacredita o profissional em questão, caso tenha dúvida da competência, o que se faz é consultar uma segunda opinião que lhe transmita mais credulidade.   Por que não utilizar em relação aos conceitos das ciências humanas a mesma lógica de ação?     

            Ninguém é dono exclusivo da verdade e, além disso, todos os saberes podem ser salutares e consideráveis. Opinar é importante e também se constitui em uma das premissas básicas de um ambiente democrático e falando em democracia não podemos desconsiderar a juventude de nossa experiência democrática, pois  ainda não faz 30 anos que após o nefasto golpe militar voltamos a eleger diretamente um Presidente da República.    
           O Golpe político impetrado pelo “Presidente Interino” respaldado por políticos de “Vida e Ficha” amplamente sujas, Os descontroles dos gestores públicos como, por exemplo, o Governo do Estado do RS e outros que sequer cumprem a prerrogativa legal de pagarem o funcionalismo em dia, Os retrocessos que ameaçam políticas públicas consolidadas,  As ameaças em torno da CLT e da Previdência Social, a truculência militarizada da polícia em relação a estudantes e professores no caso de ocupações  enfim para todos esses aspectos que norteiam a sociedade, não está vedado a nenhum cidadão o direito de opinar a respeito, mas quando essa opinião não se baliza em estudos ou ao menos o bom senso de ouvir e ler profissionais que se debruçam nessas pautas, é claro que na leitura você pode desfrutar de várias tendências, muitas até maldosas como costumam alguns políticos desonestos ou jornalistas de grandes veículos midiáticos que ao seguirem os interesses dos seus patrões procuram moldar a opinião do seu público leitor, ou ouvinte para reproduzir o mantra do senso comum.         

             Mas se o cidadão, apesar da correria cotidiana, começar a desenvolver o hábito de ouvir mais de uma opinião e refletir sobre ela e passar a considerar que Historiadores, Antropólogos, Sociólogos, Cientistas Políticos  tem a dizer e mais se acrescerem a leitura antes de posicionarem-se enfaticamente  a respeito de qualquer pauta, certamente a democracia sairá ganhando.     
  
      Em hipótese alguma reverencio o saber acadêmico como guia absoluto do conhecimento, muito pelo contrário, fora da academia consolidamos muitas questões que em função de certa elitização passam despercebidamente, mas desacreditar as ciências humanas como  costumeiramente  se faz  no Brasil em nada contribuirá para avanços que a sociedade precisa. 
            Por aqui respeitamos a opinião do médico, do engenheiro, do eletricista, do estilista, do astrólogo enfim da maioria das pessoas, mas quando se trata de uma análise de pessoas que se debruçam por horas a fio na interpretação desses fenômenos, simplesmente elege-se o mantra do senso comum como guia absoluto e inquestionável e sendo assim voamos rasantemente na consolidação de ideias que não foram aprofundadas e o que é pior desconsideramos as opiniões construtivas que esses profissionais poderiam nos passar.       
                                                                                    
          Temas de grande vulto e relevância não merecem a binarização e o reducionismo de uma conversa de bar, onde as metáforas imbricam-se com a descontração e o tema abordado não urge a nossa porta, temas relevantes merecem análises mais aprofundadas e contributivas  para um aprimoramento no status quo.     

         Portanto, antes de simplesmente  dar seu veredicto final sobre determinada pauta social, procure não deslegitimar quem se debruça nessas análises. O conhecimento não deve ficar em uma redoma onde poucos se locupletam, mas a humildade de buscarmos informações com os que se dedicam a determinada causa sempre é salutar, caso contrário correremos o risco de opinar sobre robótica ou física quântica baseada na manchete do Jornal Nacional ou em alguma postagem do Facebook.

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