quinta-feira, 23 de março de 2017

Ainda que, sem reducionismos dicotômicos, nunca a luta de classes no Brasil foi tão evidente


Ainda que, sem reducionismos dicotômicos, nunca a luta de classes no Brasil foi tão evidente

Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu  e  Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS



   Durante as minhas reflexões, intensifico sempre o cuidado de evitar certas nuances que flertem com o anacronismo, o reducionismo, a dicotomia e tudo isso por acreditar piamente na complexidade entrelaçada de variáveis que conduzem a análise de um determinado fato social. 

                            O atual momento político e econômico que estamos vivendo no Brasil vem municiado de golpes precisos para contestar e derrubar a minha postura a respeito de cada texto produzido, de cada palavra emitida diante do que presenciamos nesta nefasta atualidade, alguns de nós passíveis e inertes, outros lutando por uma causa perdida.

                      Os arroubos autoritários do Juiz Sergio Moro que se aproveita dos dispositivos e brechas que o complicado sistema jurídico propicia para explicitar sem nenhum constrangimento uma conduta híbrida entre política partidária e questões jurídicas, ou alguém esqueceu a conduta coercitiva para adversários ideológicos e a complacência com aliados ideológicos?

                               A Terceirização para todas as atividades das empresas aprovada pela Câmara dos Deputados os acenos e ameaças das mudanças previdenciárias, que certamente passarão também, as pressões desumanas que o governo federal exerce sobre a dívida pública dos estados a total falta de segurança pública para o cidadão comum e principalmente para os menos afortunados e integrantes de extrato social mais vulnerável e tantas outras nuances cotidianas que vem oprimindo a coletividade, enfim temores e dissabores não nos faltam, pelo contrário, se apresentam em larga escala.

                     Essas questões aparentemente surreais me remetem a alguns livros, pensadores, filmes que abordaram e elucidaram esse nefasto momento. Karl Marx tão citado, e às vezes pouco estudado e compreendido ao contrário da pregação do mantra limitado e perpetuado pelas elites, que vivem repetindo a estúpida ideia de um perigo de uma eventual doutrinação Marxista, que é coisa de esquerdopata bagunceiro, O grande livro 1984 de George Orwell, O Príncipe de Maquiavel, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e tantas outras obras parecem dançar em minha mente e repetir o conteúdo que tanto me atemoriza: “A volta do estado de exceção e a consolidação da segregação de classes. O Brasil parece ter retrocedido em termos de abismos sociais e falta de perspectivas.

                         As políticas progressistas e seus avanços parecem ter afrontado em demasia o status quo vigente, a ponto da égide neoliberal que comanda o país, realizar ataques sucessivos, não apenas com o intuito de coibir, mas no claro intuito de retirar o que já estava estabelecido e plenamente acordado sob a insana e mesquinha afirmativa que o País está quebrado e as reformas são imperiosas para o bem estar futuro. Bem Estar de quem?

                             Para minha e também para muitos, eis que perplexamente, o “Mito da Caverna de Platão” vem a tona da atmosfera brasileira, que de uma forma dantesca produz não detentores dos meios de produção que saem em defesa da lógica elitista, a lógica do lucro, do capital, enfim a lógica de que a austeridade e a total inflexibilidade das relações de trabalho serão remédios amargos, porém eficazes para a solução de todos nossos problemas.

                                 E assim seguimos, alguns lutando desesperadamente para esclarecer e tentar manter o que é seu por direito, compartilhando noções de cidadania e a manutenção do sonho de um mundo melhor, mais inclusivo, mais democrático, menos desigual e outros tristemente apoiando as medidas oriundas da elite, a mesma elite que abrirá um belo vinho de safra valiosa para comemorar ainda mais o fruto do seu espólio, espólio esse conquistado sobre o cadáver dos mesmos incautos que defendem a classe dominadora ao invés de si próprio.






sábado, 18 de março de 2017

O Triunfo inegável de Maquiavel



Jefferson Meister Pires  -  Bacharel em Ciências Sociais pela UFRGS e Acadêmico de Licenciatura em Ciências Sociais pela UFRGS




O TRIUNFO INEGÁVEL DE MAQUIAVEL


                      Maquiavel nos trouxe a ideia de que os fins justificam os meios, desde então a humanidade vêm se debatendo com as discussões sobre ética e moral, sobre o que é aceitável para atingirmos um objetivo.

           Embora Maquiavel tenha escrito um manual político, é provável que em praticamente todos os ramos da vida humana esta máxima seja adotada como mantra, o capital e seus capitalistas são exímios com esta fórmula, “corta-se na carne para obter maiores lucros”, mas na carne de quem? Segundo Maquiavel, na carne de quem não pode se opor, de quem não vai oferecer resistência ou perigo, pois cabe lembrar que desde o tempo de Maquiavel até os dias de hoje a política é, em última instância, violência.

               A violência assume diversas formas, uma das mais comuns, segundo Pierre Bourdieu, é aquela naturalizada, a simbólica, a que nos é ensinada desde os primeiros dias de vida e só é intensificada a partir daí: escola, faculdade, trabalho... No Brasil do século XXI, a violência assume todas as formas, porém apenas algumas são realmente identificadas como violência, apenas aquelas que podem destruir a vida de imediato, de cidadãos brancos que não moram em periferias e zonas de pobreza, para o resto é normal.

          Para os brasileiros que utilizam ônibus e trens lotados todas as manhãs isto é normal, para as mães que precisam percorrer quilômetros para deixarem seus filhos em creches isto é normal, para os jovens que querem beber e se divertir tocando música em alguma praça ou esquina à noite e não podem fazê-lo sem correr o risco de assalto ou violência policial isto é normal, para àqueles que se revoltam e tentam protestar mostrando aos demais cidadãos que nada disto é normal e acabam por sofrer violenta repressão de agentes policiais, isto é normal.

               Mas porque diabos eu estou falando em violência simbólica se o assunto proposto é Maquiavel e os fins que justificam os meios? Por que no Brasil do século XXI, para acabar com os direitos trabalhistas tão duramente conquistados, é preciso que os próprios atingidos por esta violência não a vejam como violência, vejam como necessidade, como normal.
               O grande público, as pessoas que vivem nas cidades, aqueles que trabalham e os que estão desempregados, não estão conseguindo visualizar a armadilha em que estão caindo. A partir do momento em que a lógica do lucro se tornou dominante, tudo o que for feito para maximizar os lucros é visto como aceitável e normal, mesmo que seja um lucro que jamais vai ser repartido, que jamais vai ser socializado. Muito pior do que isto, o lucro pessoal passou a ser avidamente desejado, visto como triunfo na “batalha” na “luta” do dia-a-dia, qualquer noção de coletividade, de classe, é cada vez mais contestada e refutada, a única luta que poderia ser triunfante contra a lógica do lucro, a luta coletiva, fica restrita a pequenos grupos cada vez mais marginais em diversos sentidos.

            A lógica do lucro é quem verdadeiramente triunfou, triunfou esta ideia onde eficiência é correlata do lucro de capital, onde serviço público é visto como desperdício, onde existe uma questão dominante: para que dar de graça (ou com valor justo) se isto pode gerar lucro? Porém, nós poderíamos estar agora mesmo formulando dezenas de questões que levam mais ao fundo deste debate: Quando as companhias elétricas e de água forem vendidas, quem irá lucrar com isto? Quem irá se beneficiar de empresas e patrimônios levantados ao longo de décadas de investimentos com recursos públicos? Existe alguma possibilidade real de retorno social a partir da apropriação privada dos recursos públicos?

               Se o pensamento dominante é o lucro pessoal, particular, alguém saberia dizer por qual motivo aqueles que comprarem o patrimônio público com preços diminutos e subsidiados iriam devolver para a população uma grande parte do lucro obtido? Mesmo na forma de maior qualidade nos serviços e ou menor tarifa ao consumidor? São inúmeras as perguntas que deveriam ser feitas neste momento, como disse certa vez o poeta Mário Quintana, “A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas”. Mas de que adianta alguns poucos encherem páginas e páginas de perguntas quando àqueles que deveriam estar questionando a tudo e todos simplesmente não conseguem fugir daquela primeira pergunta.

            O futuro que imagino é de uma enormidade de pessoas nascidas para trabalhar, produzir, quase que em tempo integral, com a ameaça permanente de perder sua renda e, conseguintemente, sua vida. Sem a menor noção de que é possível ousar, questionar, protestar, coletivizar, aliás, a noção de coletividade vai estar cada vez mais restrita às redes sociais, às relações frágeis e sem solidez que o saudoso Bauman tanto advertiu em suas obras. Ter uma renda vai ser o direito a ser mantido e tão somente, ter acesso à antena da TV por assinatura vai ser cada vez mais o direito à cultura e conhecimento, pagar a prestação será como nunca a meta de vida e a redenção virá com a renegociação da fatura. Nada que fuja da normalidade será visto como natural, mas, qualquer público será aceito, héteros, gays, trans, negros, brancos, pardos, índios, punks, yuppies, hippies, etc. desde que estejam inseridos na lógica do consumo e do lucro individual, estar fora do sistema é que não será natural.

          O escritor Aldous Huxley nos brindou com sua crítica á uma sociedade onde os papéis já estavam definidos desde o nascimento, a ordem, a classificação e a identificação são tudo, enquanto que a criatividade e sapiência existiam para pouquíssimos. Dentro deste espírito, afirmou que a natureza dos fins é determinada pelos meios usados para atingi-los, pobre Huxley, certamente não estaria disposto a jantar com os empresários brasileiros ligados à FIESP (e outras entidades empresariais) e os representantes do atual governo brasileiro pós-PT, enquanto do outro lado da rua um grupo de trabalhadores apanhava da polícia por estarem exercendo seu direito à manifestação pública ao tentarem defender seus direitos trabalhistas. 

          Provavelmente Huxley não entenderia como e por que o governo PT procurou se aliar com os mesmos que o derrubariam, não entenderia como seria possível manter direitos coletivos quando o lado mais forte da corda queria derrubá-los. Mas, se pudéssemos colocar frente a frente Huxley e Maquiavel no Brasil do século XXI, é muito provável que o primeiro iria sorrir e beber um gole de seu vinho, enquanto que o segundo iria dizer em tom baixo e engasgado: “é, eu venci”...

Referências:

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe
BOURDIEU, P. O poder simbólico
BAUMAN, Z. Modernidade líquida
HUXLEY, A. Admirável mundo novo

quinta-feira, 9 de março de 2017

Temer, o pequeno.

Temer, o pequeno.

Cristine Severo é Graduada e Mestre em Letras pela UFRGS e Graduanda em Ciências Sociais pela UFRGS e Professora da Rede Pública em Novo Hamburgo RS

  
      Temer, o Pequeno, no dia da mulher faz um discurso retrógrado, conservador, machista, ridículo, elogiando as tarefas domésticas, a criação dos filhos e a participação da mulher na economia: ir ao supermercado e saber os preços dos produtos.

        Aposto que as mulheres economistas do país sabem mais que ele de economia. 

                Aposto que muita gente sabe mais que o famigerado Temer sobre qualquer coisa. O cara é um coitado. Alem disso, falou mais que as mulheres presentes, no Dia da Mulher. 

                O discurso de Temer, o pequeno, não é uma falha, uma vergonha, é um projeto de poder, é uma visão de mundo, é o país que ele quer construir.


            Que tipo de "presidente" tumba, velho, machista e múmia essa elite podre, mesquinha e gananciosa colocou no poder.

                  Não tem como dizer que esse discurso volta no tempo, pois em tempo nenhum as mulheres serviram só pra isso.


             As mulheres pobres sempre trabalharam para ajudar no sustento da casa, em todas as épocas. Temer reduz a mulher a um papel decorativo, doméstico, maternal, e é esse cara que está lá criando leis e reformas para a vida das mulheres. 

                 Se ele sabe que a mulher tem mais responsabilidade com trabalho doméstico e criação dos filhos, como ele mesmo afirma, porque quer igualar as idades na reforma da previdência? 

              Pessoas como Temer, o pequeno, precisam entrar em extinção, esse mundo não tem mais espaço pra gente como ele. O mundo precisa evoluir e esse tipo de pessoa só atrasa o desenvolvimento do país, das mulheres. 

                Temer está querendo que o mundo se mantenha igual 100 anos atrás, quando as mulheres querem que ele ande 100 anos à frente. 

                 Temer deve entrar na sua tumba, levar todas suas idéias com ele e nunca mais aparecer em público. Ninguém quer ele aqui.