segunda-feira, 22 de maio de 2017

A Falange Espartana e a atual crise no Planalto...

Sérgio Pires - Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS, com ênfase em Antropologia.





A Falange Espartana e a atual crise no Planalto...

Como amante de cinema como sou, possuo uma grande coleção de filmes, dos mais variados gêneros, de cults aos blockbusters, e sempre que posso faço sessões de cinema com meus filmes favoritos, que obviamente tem um lugar de destaque na estante.

 Nesses dias enquanto estava organizando a estante, me deparei com o filme 300,  estrelado pelos atores Gerald Butler e Micheal Fassebender, que conta  saga de Leônidas, rei de Esparta, e seus 300 guerreiros que lutaram contra o numeroso exército de Xerxes, que buscava a dominação de Esparta pela Pérsia.

Uma das cenas do filme que sempre me chamou a atenção, mostra uma conversa entre Leônidas e o Efialdes, o corcunda, onde ele alerta o rei sobre um antigo caminho de bodes, que poderia servir de caminho para os persas atacarem os espartanos, saindo do estreito caminho de Termópilas, os atacando de surpresa. Nessa conversa, Efialdes pede ao rei para fazer parte no combate, como soldado espartano, e Leônidas, em resposta,  pede a ele que levante seu escudo o mais alto possível, tarefa que  não pode ser cumprida devido a sua deficiência física, e o rei então lhe explica que, o grande segredo da falange espartana é que o guerreiro protege o guerreiro ao seu lado, erguendo o escudo do joelho ao pescoço, uma só falha e a falange se estilhaçaria, e em virtude disso Efialdes não poderia ser utilizado como um guerreiro espartano.

Após essa ilustração, gostaria de falar um pouco sobre a atual conjuntura da crise política em nosso país, mas, qual a relação entre a crise política e a falange espartana? De modo algum quero comparar as duas histórias, e menos ainda os personagens de ambas, mas o que tenho observado no atual cenário político é justamente a explicação de Leônidas no que se diz respeito a proteção, obviamente não sob o aspecto da guerra, nem de guerreiros que lutam pela liberdade de seu povo e contra a opressão, mas sim no protecionismo que está muito presente na política brasileira, e nesse sentido quero falar pontualmente sobre a falange que está sendo armada para proteger e manter no poder o presidente Michel Temer.

As denúncias provenientes de farto material produzido por integrantes ao alto empresariado do país, mostram como um esquema gigantes de corrupção passiva e ativa, atua no país, além de evidenciar o envolvimento direto de integrantes dos 3 Poderes, perpassando por ministros do STF, senadores, deputados, ministros, e do próprio presidente da República, que já contava com altos índices de rejeição.

O que se espera em uma situação como essa é a busca de esclarecer todos os fatos, e que os culpados sejam punidos de acordo com seus crimes cometidos, contudo, o que se tem observado, seja na imprensa, seja nos pronunciamentos oficiais, é todo um estratagema sendo montado para proteger os envolvidos, capitaneado pelo próprio presidente Temer, que, em pelo domingo, realiza uma reunião na Sala de Banquetes do Palácio, para organizar e tecer estratégias políticas de sua manutenção no poder. Dentre os convidados, nada mais nada menos que o responsável por receber ou não os pedidos de impeachment, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do Democratas, que já afirmou, sem pestanejar que não aceitará nenhum pedido de impeachment, que já estão sendo enviados, inclusive da OAB.

Toda essa articulação do executivo federal, da câmara e do senado, e inclusive de membros do STF, me lembrou a falange espartana...mas apenas na função de proteger, pois em nada se compara com o que está acontecendo na capital federal, pois enquanto em 300, assistimos a história de  homens leais ao propósito de salvaguardar seu povo, sacrificando suas vidas para tanto, em nosso cenário político brasileiro, estamos assistindo homens, sem o menor escrúpulo, arquitetando maneiras de barrarem os processos que estão por iniciar e desqualificar todas as denúncias que incluem seus nomes, em total detrimento da ética, da honestidade, e da fé pública.


Escudos estão sendo levantados, os guerreiros do mal estão protegendo uns aos outros contra o ataque da verdade e da justiça, visando unicamente salvar suas peles, suas vidas políticas e seus vultuosos patrimônios construídos de maneira ilícita, através do suor do contribuinte e de dinheiro sujo decorrente de operações fraudulentas.

A nós, todos nós, cabe impedir que essa proteção resulte em um esquecimento de todas essas denúncias, não podemos nos calar diante de tais absurdos. Que nossa resistência possa ser maior do que a capacidade que eles tem de se protegerem, que nossas vozes possa ecoar mais alto e mais longe, seja de modo virtual, mas especialmente tomando as ruas, defendendo a legalidade e a justiça, e a punição para todos os envolvidos, a começar pelo próprio presidente Temer, que ascendeu ao poder através de um golpe e detentor de um dos índices de rejeição maiores da história do presidencialismo brasileiro.

Á Leônidas e seus 300 a história lhes relegou um lugar especial, de reconhecimento pelo seu sacrifício, e quanto ao nossos “protecionistas”, que a história possa lhes relegar o justo por seus atos obscuros, ou seja, que jamais se apaguem dos livros os atos por eles cometidos, e que nós, enquanto eleitores, possamos desenvolver a consciência e o hábito de buscar sim na história as informações necessárias para refutar qualquer candidatura de políticos como esses, que mancham a trajetória de  nossa jovem democracia, e nada mais fazem a não ser defender seus interesses próprios e dos grandes grupos que o representam.

terça-feira, 9 de maio de 2017

As minorias sob o peso dos meus pés


Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS

As minorias sob o peso dos meus pés


            Os mais céticos certamente não imaginaram o quadro de retrocessos históricos aos quais  o Brasil vem sendo submetido nos últimos meses. A cada  atrocidade contra direitos historicamente conquistados e consolidados, um certo estado letárgico parece tomar uma grande parte da população que já nem tenta reagir diante de tamanha desfaçatez gerada pela elite nacional.

            É claro que os movimentos sociais, bem como uma parcela significativa da juventude estudantil, as lideranças dos trabalhadores envolvidos  e alguns setores mais progressistas da classe média (infelizmente minoritários na sua classe), alguns políticos oposicionistas com compromissos honestos com seus eleitores tentam e não esgotam as tratativas de resistência e manutenção dos direitos adquiridos, porém na calada da noite com muita compra e venda de votos, muita pressão e maracutaias  as decisões mais esdrúxulas vão nos jogando quase que diariamente um banho de água fria.
            Mas em que momento histórico o trem resolveu descarrilar? Com o perdão do trocadilho, a justa falta do conhecimento histórico é o que mais prejudica a capacidade analítica da população, para escolher caminhos mais transitáveis.

            Falando especificamente de dois grupos minoritários que estão sendo muito atacados em seus direitos os Indígenas e os Quilombolas, basta ver  os constantes absurdos que estão sendo cometidos com esses dois coletivos. Em relação aos Índios a loucura é tanta que a presidência da FUNAI foi concedida a um pastor evangélico que desconhece como poucos as cosmologias dos povos indígenas, basta ver suas declarações absurdas que fazem corar a qualquer estudante de primeiro semestre de antropologia. Quanto aos Quilombolas a negativa e a morosidade na titulação de terras, além de CPIs esdrúxulas constrangendo técnicos e antropólogos  se fazem repetir por uma classe política que na sua maioria conhece apenas o cosmo de seus interesses ou dos jogos internos da vida partidária.


            Mas o porquê desses grupos minoritários estarem sendo tão atacados nesse governo de aura fascista que se instalou no Brasil? Ai entra o papel da história tão afastada da população para que ela não possa elucidar seus pensamentos e se torne presa fácil e venha a reproduzir o discurso do opressor.
            A historiografia brasileira é plural, controversa às vezes, porém muito rica com uma quantidade de obras que instruem e desmistificam determinadas posições maquiavelicamente orquestradas pela elite na intenção de se perpetuarem no poder.
            Mitos como a democracia racial caem por terra quando se tem acesso a obras do quilate de “A Construção Social da Cor” do professor José D’Assunção Barros que  traça um enorme panorama de como se constrói  socialmente diferenças que vemos a olhos nus na sociedade brasileira.

            Livros como As identidades do Brasil do Professor Jose Carlos Reis, mostrando como nossa identidade cultural foi concebida e tantos outros não fazem parte do cardápio literário brasileiro que fica “desnutrido” dessas informações altamente palatáveis e revigorantes e que pela sua ausência não conseguem entender o processo de exclusão indígena que iniciou desde a vinda dos portugueses até os dias atuais.
                                                                                                                                                                              Desta forma com tanta falta de informação, grande parte da sociedade  permanece imobilizada diante das botas das elites que pisam e esmagam sem a menor cerimônia.