Sérgio Pires - Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS, com ênfase em Antropologia.
A
Falange Espartana e a atual crise no Planalto...
Como amante de cinema como sou, possuo
uma grande coleção de filmes, dos mais variados gêneros, de cults aos
blockbusters, e sempre que posso faço sessões de cinema com meus filmes
favoritos, que obviamente tem um lugar de destaque na estante.
Nesses dias enquanto estava organizando a
estante, me deparei com o filme 300,
estrelado pelos atores Gerald Butler e Micheal Fassebender, que
conta saga de Leônidas, rei de Esparta,
e seus 300 guerreiros que lutaram contra o numeroso exército de Xerxes, que
buscava a dominação de Esparta pela Pérsia.
Uma das cenas do filme que sempre me
chamou a atenção, mostra uma conversa entre Leônidas e o Efialdes, o corcunda,
onde ele alerta o rei sobre um antigo caminho de bodes, que poderia servir de
caminho para os persas atacarem os espartanos, saindo do estreito caminho de
Termópilas, os atacando de surpresa. Nessa conversa, Efialdes pede ao rei para
fazer parte no combate, como soldado espartano, e Leônidas, em resposta, pede a ele que levante seu escudo o mais alto
possível, tarefa que não pode ser
cumprida devido a sua deficiência física, e o rei então lhe explica que, o
grande segredo da falange espartana é que o guerreiro protege o guerreiro ao
seu lado, erguendo o escudo do joelho ao pescoço, uma só falha e a falange se
estilhaçaria, e em virtude disso Efialdes não poderia ser utilizado como um
guerreiro espartano.
Após essa ilustração, gostaria de
falar um pouco sobre a atual conjuntura da crise política em nosso país, mas,
qual a relação entre a crise política e a falange espartana? De modo algum
quero comparar as duas histórias, e menos ainda os personagens de ambas, mas o
que tenho observado no atual cenário político é justamente a explicação de
Leônidas no que se diz respeito a proteção, obviamente não sob o aspecto da
guerra, nem de guerreiros que lutam pela liberdade de seu povo e contra a
opressão, mas sim no protecionismo que está muito presente na política
brasileira, e nesse sentido quero falar pontualmente sobre a falange que está
sendo armada para proteger e manter no poder o presidente Michel Temer.
As denúncias provenientes de farto
material produzido por integrantes ao alto empresariado do país, mostram como
um esquema gigantes de corrupção passiva e ativa, atua no país, além de
evidenciar o envolvimento direto de integrantes dos 3 Poderes, perpassando por
ministros do STF, senadores, deputados, ministros, e do próprio presidente da
República, que já contava com altos índices de rejeição.
O que se espera em uma situação como
essa é a busca de esclarecer todos os fatos, e que os culpados sejam punidos de
acordo com seus crimes cometidos, contudo, o que se tem observado, seja na
imprensa, seja nos pronunciamentos oficiais, é todo um estratagema sendo montado
para proteger os envolvidos, capitaneado pelo próprio presidente Temer, que, em
pelo domingo, realiza uma reunião na Sala de Banquetes do Palácio, para
organizar e tecer estratégias políticas de sua manutenção no poder. Dentre os
convidados, nada mais nada menos que o responsável por receber ou não os
pedidos de impeachment, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do Democratas,
que já afirmou, sem pestanejar que não aceitará nenhum pedido de impeachment,
que já estão sendo enviados, inclusive da OAB.
Toda essa articulação do executivo
federal, da câmara e do senado, e inclusive de membros do STF, me lembrou a
falange espartana...mas apenas na função de proteger, pois em nada se compara
com o que está acontecendo na capital federal, pois enquanto em 300, assistimos
a história de homens leais ao propósito
de salvaguardar seu povo, sacrificando suas vidas para tanto, em nosso cenário
político brasileiro, estamos assistindo homens, sem o menor escrúpulo,
arquitetando maneiras de barrarem os processos que estão por iniciar e
desqualificar todas as denúncias que incluem seus nomes, em total detrimento da
ética, da honestidade, e da fé pública.
Escudos estão sendo levantados, os
guerreiros do mal estão protegendo uns aos outros contra o ataque da verdade e da
justiça, visando unicamente salvar suas peles, suas vidas políticas e seus
vultuosos patrimônios construídos de maneira ilícita, através do suor do
contribuinte e de dinheiro sujo decorrente de operações fraudulentas.
A nós, todos nós, cabe impedir que
essa proteção resulte em um esquecimento de todas essas denúncias, não podemos
nos calar diante de tais absurdos. Que nossa resistência possa ser maior do que
a capacidade que eles tem de se protegerem, que nossas vozes possa ecoar mais
alto e mais longe, seja de modo virtual, mas especialmente tomando as ruas,
defendendo a legalidade e a justiça, e a punição para todos os envolvidos, a
começar pelo próprio presidente Temer, que ascendeu ao poder através de um
golpe e detentor de um dos índices de rejeição maiores da história do
presidencialismo brasileiro.
Á Leônidas e seus 300 a história lhes
relegou um lugar especial, de reconhecimento pelo seu sacrifício, e quanto ao
nossos “protecionistas”, que a história possa lhes relegar o justo por seus
atos obscuros, ou seja, que jamais se apaguem dos livros os atos por eles
cometidos, e que nós, enquanto eleitores, possamos desenvolver a consciência e
o hábito de buscar sim na história as informações necessárias para refutar
qualquer candidatura de políticos como esses, que mancham a trajetória de nossa jovem democracia, e nada mais fazem a
não ser defender seus interesses próprios e dos grandes grupos que o
representam.
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