Paulinho dos Santos é Acadêmico de Ciências Sociais pela UFRGS e Militante de Causas Sociais.
Às
pessoas que me leem, desde já preciso dizer que esse artigo não
está calcado em um grande conceito teórico, como os que costumo
escrever, tampouco tem seu sucesso garantido a partir de experiências
já vividas até o momento (ao menos que eu tenha conhecimento).
Todavia,
mesmo assim, não posso deixar de escrever as percepções que eu
tenho a respeito de todos os movimentos pelo quais temos passado.
Se
é verdade o que o sociólogo Albert Hirschman escreveu a respeito do
avanço das ondas conservadoras, e tendo a pensar que sim, será que
poderíamos esperar que o inverso disso também seja verdadeiro?
O
cientista político André Marenco resgata o pensamento de Hirshman
no artigo “as duas caudas de Gauss: minorias, protesto e
representação política” ao afirmar que “períodos de grande
mobilidade social costumam ser seguidos por ondas conservadoras,
marcadas por uma retórica de intolerância em relação à mudança
e à concessão de benefícios aos pobres”.
É
inegável as mudanças sociais que o Brasil viveu nos primeiros 15
anos do século XXI. A economia brasileira foi uma das que mais que
cresceu, no mundo, nesse período. O Brasil se tornou um dos países
mais respeitados politicamente na comunidade internacionais.
Internamente, milhares de pessoas saíram da miséria, ingressaram em
universidades, ocuparam bons espaços no mercado de trabalho (com
salário mínimo valorizado), passaram a ter poder compra e crédito,
adquiriram imóveis, automóveis e demais bens.
Ora,
se todo esse período de grande mobilidade social vivido no Brasil
não foi capaz de conter o avanço dos conservadores, com sua
política moralista, fazendo com que fôssemos inundados por essa
grande onda que parece não ter fim, tendo a pensar que todas as
políticas antiprogressistas, anti-igualitárias, antipovo, que estão
sendo implementadas por esse grupo político nos espaços de poder em
que eles estão ocupando, em algum momento, mais cedo ou mais tarde,
cairão por terra.
Não
quero dizer aqui que o pensamento de Hirschman seja determinista, até
porque, penso, se assim fosse, não seria possível, em momento
algum, fazer a revoluçãoi
tão necessária para a construção de uma sociedade extremamente
democrática e humanitária.
No
entanto, levando em consideração esse pensamento sobre a ascenção
da onda conservadora, que cresce à medida da mobilidade social em
uma sociedade, tendo a pensar que o resultado desastroso às camadas
mais populares das políticas implementadas após anos de sucesso
econômico e social, levam ao ressurgimento dos grupos progressistas
e/ou das políticas progressistas a que outrora a sociedade esteve
exposta.
Ou
seja, o fracasso das políticas conservadoras, moralistas e,
paradoxalmente, de cunho neoliberal, está exatamente atrelado ao seu
êxito em encontrar espaço na sociedade e ascender aos espaços de
poder.
Por
isso, não vislumbro outra realidade que não seja a de superação
da onda conservadora, pois, enquanto esses grupos procuram fazer
“terra arrasada” de tudo o que foi construído para, com isso,
implementarem seu programa ideológico que ataca, sobretudo, os mais
pobres, estes, que passaram a ser abandonados pelo Estado, passam a
rememorar os tempos de superação da miséria a que viviam.
E
ao fazerem esse processo de relembrar e, acima de tudo, compreender e
reconhecer as mudanças pelas quais passaram, é que as trabalhadoras
e os trabalhadores passam a aspirar por novos rumos que as façam
“crescer na vida”, novamente.
Nesse
sentido, cabe às esquerdas um discurso de esperança, um discurso de
confiança na capacidade das pessoas em voltar a transformar a
realidade brasileira de forma inclusiva, democrática.
Fazer
com que as pessoas voltem a sonhar com um futuro onde mulheres e
homens sejam livres. Um futuro onde haja fraternidade, igualdade,
humanidade. Um futuro onde a democracia seja plena e todas e todos
tenham acesso ao que desejarem. Um futuro onde ninguém esteja sob o
domínio de ninguém.
Mas,
que acima de tudo, esse futuro possa ser construído em conjunto com
a sociedade, pois, somente desse forma é que será possível, após
anos de avanços e mobilidade social, superar qualquer ensaio
conservador que possa querer fermentar nos porões de nossa
sociedade.
Ao falar em
revolução, não me refiro, necessariamente, àquelas revoluções
comunistas até aqui conhecidas no mundo, que tiveram seu valor
histórico, mas que ficaram no tempo. As revoluções armadas, como
a da Rússia e a de Cuba, por exemplo, penso, não têm mais espaço
em uma nova sociedade. No entanto, me refiro a revoluções
culturais, que são constituídas, em grande parte, por uma educação
libertadora e comprometida com as classes populares.
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