terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Por que iremos superar essa onda conservadora: breves considerações






Paulinho dos Santos é Acadêmico de Ciências Sociais  pela UFRGS e Militante de Causas Sociais.






Às pessoas que me leem, desde já preciso dizer que esse artigo não está calcado em um grande conceito teórico, como os que costumo escrever, tampouco tem seu sucesso garantido a partir de experiências já vividas até o momento (ao menos que eu tenha conhecimento).

Todavia, mesmo assim, não posso deixar de escrever as percepções que eu tenho a respeito de todos os movimentos pelo quais temos passado.

Se é verdade o que o sociólogo Albert Hirschman escreveu a respeito do avanço das ondas conservadoras, e tendo a pensar que sim, será que poderíamos esperar que o inverso disso também seja verdadeiro?

O cientista político André Marenco resgata o pensamento de Hirshman no artigo “as duas caudas de Gauss: minorias, protesto e representação política” ao afirmar que “períodos de grande mobilidade social costumam ser seguidos por ondas conservadoras, marcadas por uma retórica de intolerância em relação à mudança e à concessão de benefícios aos pobres”.

É inegável as mudanças sociais que o Brasil viveu nos primeiros 15 anos do século XXI. A economia brasileira foi uma das que mais que cresceu, no mundo, nesse período. O Brasil se tornou um dos países mais respeitados politicamente na comunidade internacionais. Internamente, milhares de pessoas saíram da miséria, ingressaram em universidades, ocuparam bons espaços no mercado de trabalho (com salário mínimo valorizado), passaram a ter poder compra e crédito, adquiriram imóveis, automóveis e demais bens.

Ora, se todo esse período de grande mobilidade social vivido no Brasil não foi capaz de conter o avanço dos conservadores, com sua política moralista, fazendo com que fôssemos inundados por essa grande onda que parece não ter fim, tendo a pensar que todas as políticas antiprogressistas, anti-igualitárias, antipovo, que estão sendo implementadas por esse grupo político nos espaços de poder em que eles estão ocupando, em algum momento, mais cedo ou mais tarde, cairão por terra.

Não quero dizer aqui que o pensamento de Hirschman seja determinista, até porque, penso, se assim fosse, não seria possível, em momento algum, fazer a revoluçãoi tão necessária para a construção de uma sociedade extremamente democrática e humanitária.

No entanto, levando em consideração esse pensamento sobre a ascenção da onda conservadora, que cresce à medida da mobilidade social em uma sociedade, tendo a pensar que o resultado desastroso às camadas mais populares das políticas implementadas após anos de sucesso econômico e social, levam ao ressurgimento dos grupos progressistas e/ou das políticas progressistas a que outrora a sociedade esteve exposta.

Ou seja, o fracasso das políticas conservadoras, moralistas e, paradoxalmente, de cunho neoliberal, está exatamente atrelado ao seu êxito em encontrar espaço na sociedade e ascender aos espaços de poder.

Por isso, não vislumbro outra realidade que não seja a de superação da onda conservadora, pois, enquanto esses grupos procuram fazer “terra arrasada” de tudo o que foi construído para, com isso, implementarem seu programa ideológico que ataca, sobretudo, os mais pobres, estes, que passaram a ser abandonados pelo Estado, passam a rememorar os tempos de superação da miséria a que viviam.

E ao fazerem esse processo de relembrar e, acima de tudo, compreender e reconhecer as mudanças pelas quais passaram, é que as trabalhadoras e os trabalhadores passam a aspirar por novos rumos que as façam “crescer na vida”, novamente.

Nesse sentido, cabe às esquerdas um discurso de esperança, um discurso de confiança na capacidade das pessoas em voltar a transformar a realidade brasileira de forma inclusiva, democrática.

Fazer com que as pessoas voltem a sonhar com um futuro onde mulheres e homens sejam livres. Um futuro onde haja fraternidade, igualdade, humanidade. Um futuro onde a democracia seja plena e todas e todos tenham acesso ao que desejarem. Um futuro onde ninguém esteja sob o domínio de ninguém.

Mas, que acima de tudo, esse futuro possa ser construído em conjunto com a sociedade, pois, somente desse forma é que será possível, após anos de avanços e mobilidade social, superar qualquer ensaio conservador que possa querer fermentar nos porões de nossa sociedade.



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Ao falar em revolução, não me refiro, necessariamente, àquelas revoluções comunistas até aqui conhecidas no mundo, que tiveram seu valor histórico, mas que ficaram no tempo. As revoluções armadas, como a da Rússia e a de Cuba, por exemplo, penso, não têm mais espaço em uma nova sociedade. No entanto, me refiro a revoluções culturais, que são constituídas, em grande parte, por uma educação libertadora e comprometida com as classes populares. 

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