Paulinho dos Santos é Acadêmico de Ciências Sociais pela UFRGS e Militante de Causas Sociais.
Direitos
humanos para todos
Segundo
o filósofo grego, Aristóteles, “devemos tratar igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”.
Esse princípio é importantíssimo na compreensão da importância
da constituição dos direitos humanos.
O
terror espalhado pelo mundo durante a Segunda Guerra Mundial, que
matou milhares de pessoas, desses, cerca de 6 milhões de judeus, no
extermínio étnico em massa durante o holocausto, promovido pela
Alemanha Nazista; que apresentou ao mundo o horror das bombas
atômicas norte-americanas, que fizeram por volta de 300 mil vítimas
no Japão; que devastou a Europa; etc., fizeram com que o mundo, após
o fim daquela que havia sido a pior batalha em escala mundial,
buscasse controlar a força dos Estados Nacionais e criar condições
de dignidade e proteção às pessoas.
Dessa
forma, em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral da Organização
das Nações Unidas aprovou e assinou a Declaração Universal dos
Direitos Humanos que tem por fundamento garantir que as pessoas
tenham direito à liberdade, à vida, à segurança, etc. Além
disso, a carta prevê que ninguém será submetido à perseguição,
à tortura, ou qualquer coisa do gênero, mas que terá tratamento
justo de acordo com os tratados da lei.
Ou
seja, a todas as pessoas será dado tratamento igual e digno.
No
entanto, em sociedades cuja desigualdade socioeconômica impera, a
desigualdade de posição dos indivíduos na sociedade faz com que
estratos sociais sejam criados e, com isso, direitos sejam negados a
uns, em detrimento de outros. O que passa a configurar, então, não
mais um direito substantivo, mas a uma dádiva a alguns poucos.
Por
isso, pessoalmente, gosto de utilizar a expressão “direitos
humanos são para todos”, pois, partindo do princípio aristotélico
de que “devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais, na medida de sua desigualdade”, significa que é preciso
lutar por aquilo que parece ser o mais básico em um Estado
Democrático de Direito, que é a garantia do direito a todas as
pessoas sem discriminação, garantindo a equidade social, econômica
e legal.
No
meu entendimento, referir que os direitos humanos devem alcançar
todas as pessoas, significa dizer que não pode ser aceito, nas
sociedades atuais, que alguns poucos tenham mais condições de
acessar os direitos fundamentais, do que a maioria da população,
pois, sendo assim, o direito dos poucos deixa de ser direito e passa
a ser benesse.
Além
disso, afirmar que os direitos humanos devem ser para todas as
pessoas, é fazer o contraponto urgente à ideologia que tem sido
difundida de que “direitos humanos devem ser para humanos
direitos”.
Ora,
quem são os tais “humanos direitos”? Alguns dirão que são
aqueles que não roubam, não traficam, não cometem nenhum tipo de
crime, que trabalham e se sustentam a si e sua família mesmo com
dificuldade. Poderia concordar facilmente com essa conceitualização
dada por determinado grupo, difusor da ideologia dominante, que faz
com que o senso comum abarque determinada ideia.
Entretanto,
é inegável que, diante das condições históricas do povo
brasileiro, esse conceito não se traduz tal qual o imaginário
social. Ou seja, somos uma sociedade que escravizava os negros até
130 anos atrás. Somos uma sociedade que, ao “abolir a escravidão”,
relegou o povo negro ao abandono e à miséria. Vivemos em um país
que, ao “acabar com o trabalho escravo” (???), deixou o povo
negro desempregado e abriu espaço aos imigrantes para comporem a mão
de obra assalariada.
Essa
postura do governo e da sociedade brasileira, fizeram com que bolsões
de miséria fossem criados no Brasil. Com a miséria, o crime passou
a ser uma saída contra a fome. E assim por diante.
Assim,
chegamos no século XXI com a quarta maior população carcerária do
mundo (atrás somente dos Estados Unidos, da China e da Rússia),
alcançando um total de 622 mil presos. Desses, 61,6% são negros e
negras.
Além
disso, o povo que mais morre, no Brasil, é negro. E é jovem.
Ora,
o grupo que defende que “direitos humanos devem ser para humanos
direitos”, defende que o direito continue a ser propriedade
daqueles à quem o direito sempre serviu: aos mais ricos e poderosos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário