Paulinho dos Santos é Acadêmico de Ciências Sociais pela UFRGS e Militante de Causas Sociais.
É
hora da esquerda reconquistar!
Como
queremos reconquistar a classe trabalhadora com a arrogância das
elites?
Essa
é uma pergunta que tenho me feito ultimamente, sobretudo com o
resultado das políticas neoliberais impostas pelo governo Temer, sem
a chancela do eleitorado, que tem levado a uma piora das condições
de vida do povo brasileiro.
Michel
Temer chegou à presidência da República após um golpe de Estado,
planejado e conduzido pelo seu interlocutor na Câmara dos Deputados,
deputado Eduardo Cunha, presidente daquela Casa naquele momento,
levando consigo um programa de governo que não havia sido
apresentado aos eleitores na eleição de 2014, por isso, um projeto
não-eleito.
Essa
condição configura o golpe que foi levado a cabo no Brasil em 2016:
a retirada de uma presidenta eleita do poder, sem que ela tivesse
cometido crime tipificado na legislação brasileira, promovido pelos
partidos de oposição em conluio com setores dos partidos da base
aliada descontentes com o governo, alavancado pela imprensa nacional
e referendado pelo Poder Judiciário; além disso, a substituição
do chefe do Poder Executivo se deu em conjunto com a troca do projeto
político eleito em 2014, juntamente com uma completa alteração da
base aliada que passou a compor o novo governo (os partidos da
oposição ingressaram no governo e os partidos do governo migraram
para a oposição).
Romero
Jucá, senador do MDB pelo estado de Roraima, ferrenho apoiador de
Michel Temer, classificaria o golpe como “um grande acordo
nacional, com o Supremo, com tudo”.
Ora,
o discurso combativo ao PT, ao comunismo (sim, aquele discurso
ridículo dos tempos da Guerra Fria ainda existe em pleno século
XXI) e à corrupção, promovido pelas elites, ganhou a classe média
e alguns setores entre os trabalhadores.
Erros
de avaliação do governo petista, sobretudo em relação à economia
(não esqueçamos o ajuste fiscal promovido pelo governo Dilma logo
após a eleição de 2014, a mais acirrada dos últimos tempos),
fizeram com que o governo passasse a ser mal avaliado inclusive entre
as classes populares. Assim, o “grande acordo”, de Jucá, para a
viabilização do golpe, provavelmente incluiria a população não
ligada a movimentos sociais e partidos políticos.
Mesmo
com focos de resistência por parte de militantes de alguns dos
partidos de esquerda e dos movimentos sociais, embora intimidados por
algumas discordâncias com o governo, o golpe foi consumado.
E
é inegável que um novo governo, seja ele resultado de um processo
eleitoral ou fruto de uma ação golpista, sempre carrega consigo as
esperanças daqueles que, de alguma forma, o apoiaram.
Jucá
e os seus esperavam “estancar essa sangria” (se referindo às
investigações de corrupção contra os políticos, por parte da
Polícia Federal), a elite empresarial esperava pelas reformas
trabalhista e previdenciária. Já as classes populares,
paradoxalmente, esperavam o aumento do número de empregos e a
melhoria do poder de compra.
A
tentativa de atender aos primeiros fez com que os políticos dos
partidos aliados de Temer fossem blindados pelo novo governo e as
elites tivessem seus interesses, senão completamente, quase que
integralmente atendidos.
O
resultado dessas ações restringiu os direitos trabalhistas, piorou
os índices econômicos, aumentou o número de desempregados, levou
famílias à miséria, nos fez novamente conviver com meninos e
meninas pedindo dinheiro nos sinais e nas paradas de ônibus... Ou
seja, os duros anos da década de 1990 têm vindo figurar em nossa
história que parecia ser de ascensão econômica e social do século
XXI.
Mais
uma vez os trabalhadores e as trabalhadoras foram enganados pelas
elites. Mais uma vez, os poderosos do Brasil venderam um país e lhes
entregaram outro. E isso acontece, exatamente, porque o seu projeto
político é um projeto que exclui os mais pobres, não por
considerar sua condição social como produto de um processo
histórico de exclusão, mas por taxá-los como “vagabundos”
diante de uma pseuda meritocracia natimorta em nossa sociedade tão
desigual.
Então,
refaço a questão: como queremos reconquistar a classe trabalhadora
com a arrogância das elites?
A
que me refiro?
Ora,
diante desse cenário de piora das condições de vida das classes
populares, tem sido comum encontrarmos militantes do Partido dos
Trabalhadores, ou dos demais partidos de esquerda, ou dos movimentos
sociais, dizendo, com certo ar de superioridade, frases de deboche
àqueles que, por algum motivo, apoiaram a queda da presidenta Dilma.
Temos
visto crescer o número de “profetas do acontecido” dizendo, do
alto de sua sapiência, frases no mais asqueroso sentido do “eu
avisei”, “agora chora”... Ou, até mesmo, interjeições como
“ué?!”.
Não
são essas frases, esse jogo de uma quase aposta pelo pior, que vai
fazer com que reconquistemos os trabalhadores e as trabalhadoras que,
encantados por uma promessa de superação da corrupção e da
melhora das condições de vida, defenderam o fim dos governos
petistas.
A
esquerda brasileira precisa ser propositiva e não tripudiar sobre
aqueles que têm sofrido os mais duros ataques do governo de Michel
Temer e dos tucanos. O PT precisa apresentar um projeto sério à
nação, reconhecendo todas as suas políticas positivas ao longo de
13 anos de governos Lula e Dilma, denunciar o fim dessas políticas
e, com isso, a destruição do Estado brasileiro e dos mais pobres, e
apresentar um plano que vá além do que já fora, outrora,
conquistado.
É
hora de sermos ousados! Só assim vamos reconquistar aqueles que
fazem parte do nosso campo, caso contrário, afastaremos ainda mais
aqueles que um dia puderam sonhar com as políticas de inclusão
social e econômica implementadas por Lula e Dilma.