terça-feira, 22 de maio de 2018

É hora da esquerda reconquistar!





Paulinho dos Santos é Acadêmico de Ciências Sociais pela UFRGS e Militante de Causas Sociais.






É hora da esquerda reconquistar!


Como queremos reconquistar a classe trabalhadora com a arrogância das elites?

Essa é uma pergunta que tenho me feito ultimamente, sobretudo com o resultado das políticas neoliberais impostas pelo governo Temer, sem a chancela do eleitorado, que tem levado a uma piora das condições de vida do povo brasileiro.

Michel Temer chegou à presidência da República após um golpe de Estado, planejado e conduzido pelo seu interlocutor na Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha, presidente daquela Casa naquele momento, levando consigo um programa de governo que não havia sido apresentado aos eleitores na eleição de 2014, por isso, um projeto não-eleito.

Essa condição configura o golpe que foi levado a cabo no Brasil em 2016: a retirada de uma presidenta eleita do poder, sem que ela tivesse cometido crime tipificado na legislação brasileira, promovido pelos partidos de oposição em conluio com setores dos partidos da base aliada descontentes com o governo, alavancado pela imprensa nacional e referendado pelo Poder Judiciário; além disso, a substituição do chefe do Poder Executivo se deu em conjunto com a troca do projeto político eleito em 2014, juntamente com uma completa alteração da base aliada que passou a compor o novo governo (os partidos da oposição ingressaram no governo e os partidos do governo migraram para a oposição).

Romero Jucá, senador do MDB pelo estado de Roraima, ferrenho apoiador de Michel Temer, classificaria o golpe como “um grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo”.

Ora, o discurso combativo ao PT, ao comunismo (sim, aquele discurso ridículo dos tempos da Guerra Fria ainda existe em pleno século XXI) e à corrupção, promovido pelas elites, ganhou a classe média e alguns setores entre os trabalhadores.

Erros de avaliação do governo petista, sobretudo em relação à economia (não esqueçamos o ajuste fiscal promovido pelo governo Dilma logo após a eleição de 2014, a mais acirrada dos últimos tempos), fizeram com que o governo passasse a ser mal avaliado inclusive entre as classes populares. Assim, o “grande acordo”, de Jucá, para a viabilização do golpe, provavelmente incluiria a população não ligada a movimentos sociais e partidos políticos.

Mesmo com focos de resistência por parte de militantes de alguns dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais, embora intimidados por algumas discordâncias com o governo, o golpe foi consumado.

E é inegável que um novo governo, seja ele resultado de um processo eleitoral ou fruto de uma ação golpista, sempre carrega consigo as esperanças daqueles que, de alguma forma, o apoiaram.

Jucá e os seus esperavam “estancar essa sangria” (se referindo às investigações de corrupção contra os políticos, por parte da Polícia Federal), a elite empresarial esperava pelas reformas trabalhista e previdenciária. Já as classes populares, paradoxalmente, esperavam o aumento do número de empregos e a melhoria do poder de compra.

A tentativa de atender aos primeiros fez com que os políticos dos partidos aliados de Temer fossem blindados pelo novo governo e as elites tivessem seus interesses, senão completamente, quase que integralmente atendidos.

O resultado dessas ações restringiu os direitos trabalhistas, piorou os índices econômicos, aumentou o número de desempregados, levou famílias à miséria, nos fez novamente conviver com meninos e meninas pedindo dinheiro nos sinais e nas paradas de ônibus... Ou seja, os duros anos da década de 1990 têm vindo figurar em nossa história que parecia ser de ascensão econômica e social do século XXI.

Mais uma vez os trabalhadores e as trabalhadoras foram enganados pelas elites. Mais uma vez, os poderosos do Brasil venderam um país e lhes entregaram outro. E isso acontece, exatamente, porque o seu projeto político é um projeto que exclui os mais pobres, não por considerar sua condição social como produto de um processo histórico de exclusão, mas por taxá-los como “vagabundos” diante de uma pseuda meritocracia natimorta em nossa sociedade tão desigual.

Então, refaço a questão: como queremos reconquistar a classe trabalhadora com a arrogância das elites?

A que me refiro?

Ora, diante desse cenário de piora das condições de vida das classes populares, tem sido comum encontrarmos militantes do Partido dos Trabalhadores, ou dos demais partidos de esquerda, ou dos movimentos sociais, dizendo, com certo ar de superioridade, frases de deboche àqueles que, por algum motivo, apoiaram a queda da presidenta Dilma.
Temos visto crescer o número de “profetas do acontecido” dizendo, do alto de sua sapiência, frases no mais asqueroso sentido do “eu avisei”, “agora chora”... Ou, até mesmo, interjeições como “ué?!”.

Não são essas frases, esse jogo de uma quase aposta pelo pior, que vai fazer com que reconquistemos os trabalhadores e as trabalhadoras que, encantados por uma promessa de superação da corrupção e da melhora das condições de vida, defenderam o fim dos governos petistas.

A esquerda brasileira precisa ser propositiva e não tripudiar sobre aqueles que têm sofrido os mais duros ataques do governo de Michel Temer e dos tucanos. O PT precisa apresentar um projeto sério à nação, reconhecendo todas as suas políticas positivas ao longo de 13 anos de governos Lula e Dilma, denunciar o fim dessas políticas e, com isso, a destruição do Estado brasileiro e dos mais pobres, e apresentar um plano que vá além do que já fora, outrora, conquistado.

É hora de sermos ousados! Só assim vamos reconquistar aqueles que fazem parte do nosso campo, caso contrário, afastaremos ainda mais aqueles que um dia puderam sonhar com as políticas de inclusão social e econômica implementadas por Lula e Dilma. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário