Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS
SONEGAÇÃO
FISCAL UMA PRÁTICA
DESTRUTIVA
Artigo
escrito para conclusão do Curso de Extensão em Educação Fiscal e
Cidadania 5ª Edição Dezembro de 2017.
RESUMO
O intuito desse artigo visa
refletir sobre a temática da sonegação fiscal, a qual, através
das aulas ministradas no curso de educação fiscal e cidadania, bem
como nas leituras efetuadas nas indicações bibliográficas e outras
fontes
consultadas, nos aponta uma
dinâmica no sentido de se trabalhar a conscientização da sociedade
para tentar diminuir os malefícios do ato de sonegar e também o de
fomentar o debate a cerca de medidas mais eficazes para combater essa
prática nociva a todos enquanto indivíduos inseridos em um coletivo
social.
Palavras-chaves:
Sonegação Fiscal, Carga Tributária, Coletividade, Sociedade,
Enriquecimento Ilícito.
1. INTRODUÇÃO
A
complexidade da vida em sociedade, por onde perpassam, inúmeras
variáveis dos mais diversos âmbitos que normatizam a nossa
convivência a todo momento, ainda que paradoxalmente, fomentam
elementos de ruptura contra a estrutura que deveria englobar a todos
indivíduos dentro de um processo coletivo.
Não se estabelecem apenas direitos,
são necessários a constituição de deveres, que se respeitados
forem, acabarão propiciando os direitos tão largamente desejados e
seguindo essa lógica, entendo a questão tributária como um pilar
para que a sociedade se desenvolva.
Colocar o interesse individual
exacerbadamente acima dos interesses coletivos é desprezar a ideia
de sociedade. Sonegar impostos é uma triste explicitação dessa
indiferença mesquinha e juridicamente ilegal e por isso a sonegação
fiscal deve ser estudada e combatida, pois o coletivo não pode
tombar diante dos interesses escusos de quem almeja enriquecer
ilicitamente, e em termos de ferramenta para esse enriquecimento
ilegal, a sonegação é um dos grandes braços fomentadores.
“O
Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional calcula que a
sonegação em 2015 alcançou R$ 388 bilhões, aproximadamente 10% do
PIB. Esse valor deverá atingir R$ 500 bilhões em 2017, o que coloca
o Brasil no vergonhoso segundo lugar na lista dos países em que mais
se sonega impostos.” (Cattani, Antônio David p-28)
2. A
FALACIA DE QUE O BRASIL TEM UMA CARGA TRIBUTÁRIA ABSURDA E OS
CAMINHOS DO SENSO COMUM QUE INSTIGAM A SONEGAÇÃO
Lembro-me
que dos tempos de ensino médio e até algum tempo atrás, eu também
parcialmente acreditava no exaustivo e repetitivo discurso tão
ardorosamente defendido por muitos setores da sociedade e amplamente
divulgado pela grande mídia, de que o Brasil possui uma elevada
carga tributária e que para empreender por essas terras seria
necessário muita coragem. Também percebia que pequenos e médios
comerciantes tinham a prática de não dar notas fiscais (ato de
sonegação) e que os indivíduos procuravam mascarar suas
declarações de imposto de renda sempre no intuito de restituírem o
máximo que pudessem e a frase popular para este ato era a de: “Não
vou deixar nada para o governo”.
A
noção de que os impostos são necessários e que a sua adequada
alocação é vital para sociedade, ainda passa longe dos bancos
escolares, da mídia (que na realidade representa os poderosos
“maiores sonegadores”) e do conhecimento geral da sociedade.
O
problema da nossa carga tributária para maioria das pessoas, é o
seu caráter meramente regressivo e incidente sobre o consumo, o que
de forma nada isonômica, faz com que os mais pobres paguem
proporcionalmente mais impostos.
“A
complexidade do sistema tributário nacional enseja interpretações
oportunistas. A judicialização das questões tributárias pelas
grandes empresas assessoradas por escritórios especializados
favorece
o
incivismo fiscal.
(Cattani,
Antônio David p-30)”
Enfim,
os meandros jurídicos, bem como a propagação de ideias de senso
comum exacerbando o sentimento de “se dar bem a qualquer custo”,
contribui para que a sonegação faça parte da sistemática dos
“grandes” e do ideário dos “pequenos e médios”.
Sendo
assim, um dos requisitos básicos para o pleno exercício da
cidadania, que é a consciência de que impostos devidamente cobrados
e alocados, são indispensáveis para uma boa gestão pública, cada
vez mais se dissolvem no imaginário coletivo.
No
artigo para revista Dat@venia
V 4, Nº 1(Jan./Jun.) 2012, p.157, Claudia Rayanne Alexandre Silva
diz que a benevolência estatal no tocante a punição perpetrada aos
sonegadores permite uma forte sensação de impunidade no seio
social. Refletindo sobre essas palavras da autora e relacionando com
outros aspectos característicos do processo de formação cultural
da sociedade brasileira, encontramos subsídios suficientes para
entender o porquê da brandura da nossa legislação face a esse
terrível delito e talvez isso ajude a explicar a forma estupefata
que a sociedade observa a sangria dos cofres públicos e dos seus
direitos por um estado de bem estar social e erroneamente prefira
atribuir aos serviços públicos o fel da sua contrariedade.
Em
artigo publicado na revista Carta Capital em 30/10/2015, Carlos
Drummond diz que a sonegação de impostos é sete vezes maior que a
corrupção e que a mesma acompanha a concentração de renda, pois
os processos envolviam 3,54 milhões de devedores, mas os chamados
grandes devedores eram apenas 18.728.
Um
paradoxo inquietante nos assola: Se os mais ricos e poderosos são os
que mais sonegam impostos no Brasil, como enfrentar e modificar essa
premissa? Se é que realmente podemos modificá-la.
3. O
CONHECIMENTO E A TENTATIVA DE DESCONSTRUÇÃO DE MITOS
Na
primeira aula dessa 5ª edição do curso de Educação Fiscal &
Cidadania, o Professor Dão Real Pereira dos Santos já explicitava a
importância de nos atermos e combatermos determinados mitos criados
em relação a questão tributária brasileira. No transcorrer do
curso, os demais Professores sempre reforçaram essa temática de
desmistificação e deixaram muito claro através das suas
explanações, bem como as diversas referências bibliográficas
compartilhadas de que se apenas o Brasil e a Estônia apresentam um
caráter tributário regressivo, o problema é a normatividade dessa
escolha e não a tributação em si.
O
fato terrível da assimilação de mitos em relação a carga
tributária por parte de vários setores da sociedade, e que não
pertencem ao grupo dos mais ricos, é que ao solidificarem esses
mitos e reproduzi-los em larga escala via senso comum, contribuem
para que a pressão por uma troca ideológica em termos de tributos
não aconteça. A classe média, por exemplo, acha que apenas ela
custeia o País e que os tributos arrecadados apenas de seus bolsos
sustentam os que não contribuem, o que é um grande engano, pois em
uma tributação de caráter regressivo, são justamente os mais
pobres que terão uma contribuição proporcional a sua renda bem
mais elevada, ao passo que os mais ricos (grandes sonegadores)
enriquecerão ainda mais sonegando e enviando suas divisas para os
paraísos fiscais.
Busquei
na internet uma imagem que pudesse ilustrar a concentração de renda
da população brasileira, justamente para reforçar que essa riqueza
toda não foi conquistada com ética e todas contribuições
efetuadas, a maior parte desse montante perpassa sem sombra de
dúvidas pela sonegação fiscal e incentivos permissivos que o poder
executivo confere, tudo é claro, com o bom e velho lobby junto as
outras instâncias deliberativas.
1
Gráfico
da repartição da riqueza no Brasil
O
conhecimento expandido e compartilhado é a principal ferramenta para
que inicie o processo de minar esse status quo ultrajante, devemos
nos empoderar desses conceitos e trabalharmos no sentido de que
devidamente ferramentados possamos contestar e forçar mudanças
desses paradigmas reinantes que são absolutamente nefastos.
“As
desigualdades socioeconômicas e as injustiças decorrentes não são
naturais. Elas são resultados da luta de classes provisoriamente
vencida pelos ricos e poderosos. (Cattani, Antonio David p-50)”
A
prática destrutiva da sonegação fiscal precisa ser devidamente
atacada. Saúde, segurança pública, educação, infraestrutura e
outros braços estruturais da sociedade não podem serem dilapidados
pela sonegação gigantesca que assola o Brasil, urge que
desmitifiquemos os absurdos a respeito de tributos e que apontemos os
ricos sonegadores como principais culpados dessa sangria e dessa
exportação de miserabilidade aos mais pobres e que façamos pressão
a uma maioria da classe política, para que ao menos uma vez na vida
não trabalhem em prol dos poderosos e atendam os anseios da
população.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
sonegação
fiscal, por si só, já é responsável por grande parte das mazelas
da sociedade brasileira, embora não seja a única responsável, é
inegável que o desfalque no erário implica em serviços públicos
precarizados e a solidificação da ideia que pagar impostos de nada
adianta. Embora manobras contábeis e jurídicas possam ludibriar a
maioria da população, hoje com a globalização das informações
ao menos uma grande perspectiva em relação a quem sonega está a
disposição de quem se interesse.
A oportunidade de refletir essa
temática, me foi muito ampliada nessa 5ª edição do Curso de
Extensão em Educação Fiscal & Cidadania, e justamente o
formato desse curso e outros similares são salutares para iniciarmos
de forma profunda a destruição dos mitos que envolvem a tributação
no Brasil. Acabar com os mitos, destituir o status do senso comum a
respeito dessa pauta, levar esse tipo de conhecimento junto a todos
os setores da sociedade que se deixaram enganar até hoje, articular
junto a classe política projetos que combatam essa distorção e se
enquadrem no que os demais países desenvolvidos e em desenvolvimento
realizam em termos de tributação e combate a sonegação fiscal,
aparelhar setores da policia federal, setores da auditoria fiscal são
as armas que dispomos para esse enfrentamento,cujo o combate não
podemos mais adiar.
5. BIBLIOGRAFIA
CATTANI, Antonio David Ricos, podres
de ricos Tomo Editorial.
SILVA,
Claudia Rayanne Alexandre A sonegação fiscal como crime antecedente
à lavagem de dinheiro Revista Dat@venia
V.4,No1(Jan./Jun.).
DRUMMOND, Carlos Sonegação de
impostos é sete vezes maior do que a corrupção Revista Carta
Capital/Economia artigo publicado em 30/03/2015.
Aulas expositivas do curso de extensão
em educação fiscal e cidadania 5ª edição.
6. IMAGENS
AVILA, Rober Iturriet Apropriação de
renda e de riqueza no Brasil contracapa da carta de conjuntura de
dezembro de 2014
1Apropriação
de renda e de riqueza no Brasil contracapa da carta de conjuntura
de dezembro de 2014
Muito bom artigo. Essa situação vem de muitos, mas muitos anos atrás. Acredito que desde nossa colonização, onde as falcatruas já aconteciam no reinado....Mas alguma hora tem que chegar o momento de melhorar essa situação. Parabéns Daniel Machado por esse artigo.
ResponderExcluirObrigado meu irmão.
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