Márcia Antunes
Artista visual, arte terapeuta, educadora e artesã, bordadeira, ex-punk, reikiana, atéia, motoqueira, viciada em livros, chá e filme francês
Tem
algo de muito grotesco nesta história da morte do pequeno Miguel que
me assusta. A mãe decidiu falar da sua perda e denunciar o ocorrido,
só depois de entender que não foi um simples equívoco.
Ela
fala de modo triste, óbvio, mas quase RESIGNADA. Como se a MORTE DE
UM FILHO fosse sendo banalizada apenas pelo fato dele ser negro! E
vamos nos consternando, vendo a foto de seu rostinho, criando
hashtags de indignação, como se algo fosse nos livrar da dor.
Não
que o luto tenha um protocolo rígido a ser seguido, mas ao ver as
notícias sobre este caso SURREAL (a empregada nem era deles, mas
funcionária da prefeitura), a gente vai normalizando a estupidez que
é a morte, nos ensinando que este mundo “doido” é assim mesmo.
Mirtes,
a mãe do menino, é apenas mais uma mãe que sente na carne sofrida,
o NOJO e indiferença com que tratam empregados.
Estavam
todos infectados pelo covid e mesmo assim, não a dispensaram. Tinham
20 mil reais pra fiança, mas não a dispensaram.
Esta
maldita herança escravocrata normaliza as relações precárias de
trabalho das empregadas (na maioria, negras). Desumanizando a PESSOA
por trás da função. Então, seu filho era apenas um apêndice
incômodo a ser tolerado; uma mancha de sangue no piso térreo, que
quase nem se nota do alto das torres brancas.
O
mundo pandêmico não está pior. As pessoas apenas estão perdendo a
vergonha de serem cretinas!
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