segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O dinheiro de plástico e a falta de percepção de classe

Daniel da Luz Machado - Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.











O dinheiro de plástico e a falta de percepção de classe



                     Nos dias 20 e 22 de dezembro do corrente ano estive em dois eventos até certo ponto distantes, porém que interligaram minha reflexão diante de um tema precioso que é o caminho declinante que se apresenta para nossa educação pública a níveis fundamental e médio.
                      O primeiro evento que compareci foi uma assembleia geral dos trabalhadores da educação pública estadual na cidade de São Leopoldo no dia 20 de dezembro promovido pelo sindicato da categoria CPERS, onde a categoria definiu os rumos da atual greve que realizam na tentativa de não terem mais os seus direitos vilipendiados de forma grotesca pelos ataques do neoliberalismo da União e do Estado capitaneados e afinados pelo projeto de destruição do funcionalismo organizado pelo Ministro Paulo Guedes .

                  Nesse evento, o semblante dos educadores desnudava-se diante dos meus olhos com um misto de apreensão, perplexidade, cansaço e até desânimo por parte de alguns que perceberam que a árdua missão de resistência parece ligar-se através do piloto automático, visto que os governantes atuais deixam bem claro que não cederão ao bom senso e ao respeito que os educadores e usuários da educação pública merecem.

             O segundo evento foi a solenidade de formatura (que já estava agendada e contratada pelos alunos dos 3º anos do ensino médio) do Instituto Estadual Nossa Senhora do Carmo em Alvorada, ainda que o ano letivo não esteja encerrado a equipe diretiva participou da solenidade junto com os alunos e seus familiares e convidados e as palavras da sua Diretora foram repleta de afeto para com os alunos e a comunidade escolar, porém não deixou passar a oportunidade de demonstrar seu engajamento com a luta e todos os sofrimentos que os educadores estaduais estão enfrentando. Que palavras!!! fico a pensar diante da disposição de quem já está se aposentando, a explicitação da coragem de abordar um tema com tamanho comprometimento. Era festa para os jovens, ela foi amável, mas não deixou de demonstrar o espírito aguerrido que parece ter abandonado uma outra parte dos educadores públicos, que mesmo diante do aviltamento de seus direitos, parecem estar inertes ao seu contexto.

              Conversando com outros colegas em outras ocasiões, concluímos que alguns educadores não se enxergam como trabalhadores. Parecem não entender que vendem sua força de trabalho, ainda que intelectualizada, não conseguem compreender os mecanismos nefastos do neoliberalismo e essa ausência de compreensão é vital para que migalhas como “crédito” “cartões” (dinheiro de plástico) que dão acesso a TV em 12 vezes, ou pacote de férias em 10 vezes etc. não lhes outorga o acesso a elite burguesa, alguns sequer acessam a classe média, mas mesmo assim em função de prerrogativas de consumo abstêm-se de participarem da greve. É bem verdade que alguns por pressão financeira ou ameaças de perdas referentes a convocações, aposentadorias não tem como baterem de frente com direções perseguidoras e reprodutoras do status quo dominante, mas boa parte o que não quer é abrir mão das férias programadas, ou da pseudo ideia de que o problema da classe não os atinge.

              O discurso da extrema direita raivosa e ignorante é o tal “MARXISMO CULTURAL” tomando conta da educação , mas como repetir os conceitos marxistas se sequer a consciência de classe parece fazer algum sentido para alguns educadores que insistem em manter o comportamento de gado rumando para o abatedouro.

                   Muitas derrotas nos movimentos grevistas não são originadas pelos opressores e sim pela apatia dos que deveriam estar conosco nas trincheiras.

sábado, 21 de dezembro de 2019

A velha crueldade de Eduardo Leite

Paulinho dos Santos é Cientista Social formado pela UFRGS ,, Mestrando em Ciência Política pela UFRGS e Militante de Causas Sociais.














Não existe nada mais velho, do que aquele que se reivindica novo para defender as ideias mais antiquadas e cruéis que existem.

O governador Eduardo Leite (PSDB) aprovou, com ampla maioria, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul o Projeto de Lei Complementar nº. 503/2019 – PLC 503. Esse projeto não é um simples projeto, mas sim, uma reforma da previdência ainda mais drástica do que a aprovada no Congresso Nacional.

Leite usou da sua base parlamentar no Legislativo gaúcho para atacar diretamente a vida das trabalhadoras e dos trabalhadores do Estado, sem nenhum diálogo com aquelas e aqueles que fazem o serviço público acontecer.

Nisso, não há nada de novo. Antônio Britto acabou com carreiras, privatizou setores estratégicos para o Estado e desestimulou a economia gaúcha; Yeda Crusius, com sua famigerada política de “déficit zero” arrochou a vida dos trabalhadores; Sartori passou quatro anos parcelando salários, sem sequer fazer a reposição inflacionária anual no salário dos que trabalham, e muito, para o desenvolvimento do Estado. Eduardo Leite prometeu “tirar a bunda da cadeira” e fazer gestão, pois segundo ele “dinheiro há, o que falta é gestão”.

O que há em comum entre eles? A mesma cartilha neoliberal. E Paulo Guedes, o Ministro da Economia de Bolsonaro, é o seu malvado favorito, pois personifica o discurso de ataque ao serviço público e à política econômica de indução à economia.

Eles têm horror ao público. Eles têm aversão a quaisquer tipos de políticas que possam usar do Estado para regular e induzir o desenvolvimento socioeconômico. O neoliberalismo deles é uma paixão exacerbada ao mercado. Sua ideologia é conduzida pelo mais puro “mercadismo”. E eles não têm pudor algum em defender isso e acusar os seus adversários de estimularem uma “guerra ideológica”.

Na noite do dia 18 de dezembro de 2019, Eduardo Leite aprovou o confisco da aposentadoria dos servidores públicos. Professoras, professores, policiais e demais servidores aposentados terão um valor de 14% ou mais confiscados do seu salário. Aqueles que se aposentaram com um salário mínimo terão que devolver mensalmente ao cofres do Estado o percentual de 9%.

Eduardo Leite é cruel ao imputar aos servidores públicos a culpa da desorganização do caixa do Estado do Rio Grande do Sul. E é ainda mais cruel ao cobrar dessas trabalhadoras e trabalhadores um esforço diferenciado do que cobra dos mais poderosos. Aos ricos são oferecidas as mais diversas isenções fiscais, desonerações, parcelamentos e perdão de dívidas, aos servidores públicos taxas, cobranças e confiscos.

Tudo isso é parte de uma mesma ideologia que vem tomando conta do país desde 2016. As mais diversas reformas que atacam direitos já foram apresentadas e aprovadas, o resultado tem sido o aumento do desemprego, a desvalorização do salário, a queda no poder de compra e a retração da economia. Se essas são as políticas que eles têm a nos oferecer, contra ela (a ideologia neoliberal) nós iremos nos opor!

Nossas bancadas de deputados e deputada estaduais, bem como as bancadas de vereadores e vereadoras nos nossos municípios, estão firmes na luta contra todos esses projetos que atacam o serviço público. Estamos nas ruas e nos parlamentos, ao lado das trabalhadoras e trabalhadores, em defesa do nosso povo, afinal, atacar o servidor público é atacar indiretamente todas as pessoas que precisam do Estado e de suas políticas públicas. No fim, quase todos sofrem, exceto os ricos.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

A precarização exacerbada do funcionalismo público.

Daniel da Luz Machado - Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.











A precarização exacerbada do funcionalismo público



         O neoliberalismo ,à brasileira, há muito intenta a total implosão do contexto de bem estar social. Passaram governos um pouco mais a esquerda e outros um pouco mais a direita, porém ambos a seu modo, privatizando mais ou menos, ainda conseguiram garantir um mínimo de dignidade ao funcionalismo e por via de regra a garantia de uma prestação de serviços razoável, com falhas, porém com acertos que contemplassem as camadas mais pobres que são as que mais precisam dos serviços públicos.

         Com a chegada ao poder de uma extrema direita raivosa, que fez da bandeira da luta contra corrupção o seu simbolismo maior, embora em termos de corrupção a “Nova corte e seu séquito de seguidores” façam corar até quem tirava pirulito de criança, nunca a agenda dos neoliberais brasileiros obtivera tanta vantagem na sua implementação.

         O governo estadual do RS completamente afinado com o Governo Federal de Bolsonaro e capitaneado pela batuta do Ministro Paulo Guedes à serviço do grande empresariado (Que é quem realmente manda no País) acelera de uma forma quase distópica a destruição da estrutura pública.

         A mão invisível do mercado já havia precarizado de forma acentuada as relações formais de trabalho na iniciativa privada, com a falácia dos discursos inconsistentes dos famigerados empreendedorismo e meritocracia, o processo de “uberização” das relações profissionais coloca todos no “informal” abrindo mão de direitos tão dolorosamente conquistados no curso da história.

         O Governador Eduardo Leite, eleito no vácuo da falta de politização e consciência de classe de grande parte da população, apresenta uma agenda que não apenas pune os cidadãos que dependem dos serviços públicos, mas também precariza e humilha servidores ativos e inativos. Creio que não haverá mercado informal suficiente para fornecer o famoso “bico” aos servidores que excetuando os privilegiados dos poderes judiciário e legislativo e alguns do primeiro escalão do executivo, irão precisar para complementar as suas combalidas receitas que muito longe passam da valorização e dos reajustes necessários.

         Os ataques do Jovem Governador (de velhas práticas) ao funcionalismo transcende ao menor aspecto de empatia com quem está na base e tem as menores remunerações. “O leite oferecido é insalubre” e ao submeter os servidores com menores salários ao esdruxulo pacote de ajuste fiscal quem realmente perderá é a população mais pobre que depende desses serviços, além dos pequenos comerciantes que sentirão no fluxo de caixa o caos dessas medidas abusivas, pois certamente o consumo de muitos passará por uma reestruturação, pois a prioridade serão as contas básicas e alimentação.

         Enquanto isso os ricos sonegadores gozam de imunidade na hora do ajuste e me vem a memória a leitura de duas obras excelentes para o entendimento dessa conjuntura que são: “Ricos, Podres de Ricos” e “A Riqueza Desmistificada” ambas do Professor da UFRGS Antonio David Cattani que ao elucidar nuances do processo de acumulação de riquezas , me faz entender a quem Paulo Guedes serve e por consequência a quem “A família real bolsonarista” e o Governador Eduardo Leite também procuram servir.

         E a grande parte do funcionalismo gaúcho, se não tiverem outro ofício para reforçar o orçamento doméstico, em um período não muito distante estarão fadados a extinção.

Referências Bibliográficas:

CATTANI, Antonio David. "Ricos e Podres de Ricos". Ed. Tomo Editorial, Porto Alegre - RS. 2014.

CATTANI, Antonio David. "Desmistificando a Riqueza". Ed. Marca Visual. Porto Alegre - RS. 2013.