O
dinheiro de plástico e a falta de percepção de classe
Nos
dias 20 e 22 de dezembro do corrente ano estive em dois eventos até
certo ponto distantes, porém que interligaram minha reflexão diante
de um tema precioso que é o caminho declinante que se apresenta para
nossa educação pública a níveis fundamental e médio.
O
primeiro evento que compareci foi uma assembleia geral dos
trabalhadores da educação pública estadual na cidade de São
Leopoldo no dia 20 de dezembro promovido pelo sindicato da categoria
CPERS, onde a categoria definiu os rumos da atual greve que realizam
na tentativa de não terem mais os seus direitos vilipendiados de
forma grotesca pelos ataques do neoliberalismo da União e do Estado
capitaneados e afinados pelo projeto de destruição do funcionalismo
organizado pelo Ministro Paulo Guedes .
Nesse
evento, o semblante dos educadores desnudava-se diante dos meus olhos
com um misto de apreensão, perplexidade, cansaço e até desânimo
por parte de alguns que perceberam que a árdua missão de
resistência parece ligar-se através do piloto automático, visto
que os governantes atuais deixam bem claro que não cederão ao bom
senso e ao respeito que os educadores e usuários da educação
pública merecem.
O
segundo evento foi a solenidade de formatura (que já estava agendada
e contratada pelos alunos dos 3º anos do ensino médio) do Instituto
Estadual Nossa Senhora do Carmo em Alvorada, ainda que o ano letivo
não esteja encerrado a equipe diretiva participou da solenidade
junto com os alunos e seus familiares e convidados e as palavras da
sua Diretora foram repleta de afeto para com os alunos e a comunidade
escolar, porém não deixou passar a oportunidade de demonstrar seu
engajamento com a luta e todos os sofrimentos que os educadores
estaduais estão enfrentando. Que palavras!!! fico a pensar diante da
disposição de quem já está se aposentando, a explicitação da
coragem de abordar um tema com tamanho comprometimento. Era festa
para os jovens, ela foi amável, mas não deixou de demonstrar o
espírito aguerrido que parece ter abandonado uma outra parte dos
educadores públicos, que mesmo diante do aviltamento de seus
direitos, parecem estar inertes ao seu contexto.
Conversando
com outros colegas em outras ocasiões, concluímos que alguns
educadores não se enxergam como trabalhadores. Parecem não entender
que vendem sua força de trabalho, ainda que intelectualizada, não
conseguem compreender os mecanismos nefastos do neoliberalismo e essa
ausência de compreensão é vital para que migalhas como “crédito”
“cartões” (dinheiro de plástico) que dão acesso a TV em 12
vezes, ou pacote de férias em 10 vezes etc. não lhes outorga o
acesso a elite burguesa, alguns sequer acessam a classe média, mas
mesmo assim em função de prerrogativas de consumo abstêm-se de
participarem da greve. É bem verdade que alguns por pressão
financeira ou ameaças de perdas referentes a convocações,
aposentadorias não tem como baterem de frente com direções
perseguidoras e reprodutoras do status quo dominante, mas boa parte o
que não quer é abrir mão das férias programadas, ou da pseudo
ideia de que o problema da classe não os atinge.
O
discurso da extrema direita raivosa e ignorante é o tal “MARXISMO
CULTURAL” tomando conta da educação , mas como repetir os
conceitos marxistas se sequer a consciência de classe parece fazer
algum sentido para alguns educadores que insistem em manter o
comportamento de gado rumando para o abatedouro.
Muitas
derrotas nos movimentos grevistas não são originadas pelos
opressores e sim pela apatia dos que deveriam estar conosco nas
trincheiras.
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