terça-feira, 7 de abril de 2020

Não há caminho que não seja o Fora Bolsonaro





Paulo dos Santos
Bacharel em Ciências Sociais pela UFRGS
Mestrando em Ciências Políticas pela UFRGS






Os rumores da saída de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde para dar lugar ao terraplanista Osmar Terra, bem conhecido dos gaúchos, tem alterado a conjuntura política de forma abrupta. Mandetta, do dia para a noite, passou a ser o grande nome do governo Bolsanaro no enfrentamento ao Covid-19 e, agora, procura se segurar na corda bamba do ególatra Jair.
Mandetta não errou, tampouco acertou (nem sempre, na política se trata de erros e acertos). A sua saída do governo se daria, como anunciado por Bolsonaro, pelo fato de ter se tornado “estrela”. Ou seja, ter alcançado popularidade enquanto que o Messias só cai no desgosto popular.
Jair Bolsonaro, a cada nova pesquisa de avaliação do seu governo, vê sua taxa de aprovação cair, enquanto que alguns ministros começam a ganhar certo destaque. Há pouco, Bolsonaro andou afastando Moro com medo de ser superado pelo ex-juíz celebridade. Agora, Bolsonaro volta seu ataque ao ministro da saúde a ponto de ameaçar sua exoneração durante uma pandemia global.
Nessa circunstância, setores da esquerda passaram a defender a permanência do atual ministro da saúde como se a sua atuação diante do ministério fosse, em certa medida, defensável. O que não é!
Luiz Henrique Mandetta, político filiado ao DEM, após votar pelo golpe de 2016 e ajudar a aprovar a Emenda Constitucional nº 95 (teto dos gastos), assume o ministério da saúde de Jair Bolsonaro e começa a promover cortes fundamentais na saúde pública. Um de seus primeiros ataques é ao Programa Mais Médicos, responsável por democratizar a saúde pública levando médicos para atender sobretudo a população mais pobre das regiões mais afastadas desse país.
Mandetta também foi o responsável pelo fim do Programa Farmácia Popular, que tinha como objetivo dar acesso a remédios essenciais à população.
Na área da saúde mental, o ministério da saúde, sob chefia de Luiz Henrique Mandetta, mudou a política que vinha sendo adotada de forma a permitir a internação de crianças em hospitais psiquiátricos e a compra de aparelhos de eletrochoque pelo SUS, indo na contramão dos movimentos de luta antimanicomial.
Mas há quem diga que é preciso separar os momentos buscando fazer uma análise entre o antes e o depois do coronavírus, o que eu, obviamente, discordo. Mandetta atacou a base do Sistema Único de Saúde e, agora, colhemos os resultados. Com o seu voto favorável ao teto dos gastos, perdemos, só em 2019, cerca de R$ 20 bilhões de investimentos na saúde pública do país.
Com Luiz Henrique Mandetta, o ministério da saúde não se abriu um único leito de UTI. Os hospitais não foram abastecidos com materiais e pessoal. Aliás, o governo do Brasil, mesmo vendo os sistemas de saúde da Europa prestes a entrar em colapso, demorou a agir no sentido de proteger a sua população. Demorou em repatriar os brasileiros que estavam na China. Demorou a implementar medidas restritivas em solo nacional. Demorou a atuar. E essa demora se dera por conta de uma política de mercado que não podia parar. Paulo Guedes e a equipe econômica não podiam ficar sem votar suas reformas que atacam o povo brasileiro.
Por conta disso, os governadores dos estados passaram a adotar medidas sérias de isolamento social, o que ocasionou um choque direto entre os interesses econômicos do governo, e das elites, e a política de restrição dos governadores. Bolsonaro e Mandetta fizeram coletiva de imprensa para falar em isolamento vertical. Bolsonaro chamou manifestações públicas contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Mandetta nunca o criticou, nem ao menos defendeu duramente as políticas restritivas implementadas pelos estados.
Ou seja, Luiz Henrique Mandetta não acerta em nenhum momento. Como política para a contenção da pandemia, o ministro da saúde fala em “torcer para que haja um escalonamento da doença” para que assim o ministério da saúde possa remanejar equipamentos e pessoal pelos estados, conforme forem aumentando os casos graves do Covid-19. Isso é tudo, menos política pública.
Luiz Henrique Mandetta não é melhor, nem pior, que Osmar Terra. A única diferença é que o primeiro não é terraplanista.
Nossa tarefa, portanto, não é pedir um “Fica Mandetta”, até porque não somos e nem queremos ser parte desse governo. Nossa tarefa é apontar os erros e anunciar políticas alternativas ao desmonte do Brasil feito por Jair Bolsonaro, seus filhos e sua equipe, da qual estão inclusos Luiz Henrique Mandetta, Sérgio Moro, Abraham Weintraub, Damares Alves, Regina Duarte, Paulo Guedes, etc.
É engano pensar que a permanência de Mandetta no ministério da saúde é um “ganho” para a população brasileira em tempos de coronavírus. Como bem escreveu o professor Juarez Guimarães ao portal da Democracia Socialista, em 21 de março, o que está sendo implementado é uma política de necropoder. A única forma de garantir saúde para as pessoas é com a luta pelo Fora Bolsonaro, o que inclui todo o seu povo que está destruindo o Brasil e a vida do povo brasileiro.
Não há como arredar pé disso.


2 comentários:

  1. Acho que o governo precisa colocar no radar sempre que o sistema público entrar em colapso por falta de leitos UTI de média e Alta complexidade ou o ministério da saúde pode entrar porta dentro dos hospitais privado e confiscar os leitos que certamente serão omitidos pela reserva de mercado que a elite vai travar

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  2. Ótimo Paulinho muito bom isso teria que ser regra achar que temos que unir forças pra combater o coronavírus primeiro é um erro da esquerda em geral

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