Rafael Freitas
Professor. Militante do PCB.
Rafael Melo
Trabalhador da saúde. Sindicalista. Militante do PCB.
O ano de 2020 encerra com um conjunto de mobilizações de caráter antirracista, que foram perpetradas mais uma vez, por trágicas e cruéis expressões do racismo estrutural que solidifica nossa sociedade de classes. Em Porto Alegre, diversas lutas em separado, movimentam a política local.
No dia 19 de novembro, um dia antes da data da Consciência Negra, João Alberto é morto, após ser espancado pelos seguranças do Carrefour, chamados MAGNO BRAZ BORGES e GIOVANE GASPAR DA SILVA- também da Brigada Militar. Após esse brutal assassinato, no dia seguinte teve manifestação em frente ao Carrefour onde aconteceu o fato, no bairro Passo D’Areia. E no dia 23, em frente o Carrefour da Bento Gonçalves. Nos dois atos, a Brigada Militar reprimiu os manifestantes, que revidaram com pedras e barricadas.
Na tarde do dia 8 de dezembro, a Brigada Militar invade sem mandato a residência da Promotora Legal Popular Jane Beatriz Silva Nunes, que foi morta em seguida pelos policiais armados e racistas. No seu local de moradia, espontaneamente os moradores da Vila Cruzeiro, usam a avenida Tronco para se manifestarem, e mais uma vez a Brigada Militar reprime os manifestantes, que revidam, queimando objetos nas duas vias da avenida e um carro. Dias mais tarde, há nova manifestação, dessa vez pacífica, na esquina entre as ruas Caixa Econômica e Cruzeiro do Sul, ainda assim com forte aparato polícia presente.
Essas mobilizações em especial, aliadas à um conjunto de mobilizações populares que muitas vezes passam despercebidas, podem ter um sentido muito importante na correlação de forças, contra o governo Bolsonaro-Mourão.
Primeiro, por seu caráter agregador, englobando em um cenário de descrença com o sistema político-burguês, a necessidade de ação do povo e de luta de classes. Dentro de um cenário político extremamente favorável ao avanço do conservadorismo, e em alguma medida, de um fascismo rejuvenescido, de nosso tempo, essas mobilizações têm um poder importante de mobilização. A combatividade política do povo negro sempre esteve ativa e necessária, mas em um contexto como o nosso, acabam servindo como estopim de uma explosão que acaba desacomodando até setores médio-progressistas, pela necessidade de reação popular imediata.
Nesse fluxo, grandes mobilizações populares, além de serem táticas na luta de posição contra as opressões, acabam chamando atenção para uma luta mais imediata, distante da burocracia político-eleitoral e portanto, mais acessível à população. O conflito social fica em nossa frente, em nossas mãos.
Também, precisamos compreender que pautas como o racismo, bate taticamente com força em um governo como o de Bolsonaro-Mourão. Mexem em microestruturas sociais de reprodução de poder, e quando massivamente organizadas, podem atrair forte reação popular. Podem inclusive reativar a necessidade de luta por outras pautas mais gerais que atingem toda a classe trabalhadora.
Sabemos o quanto por vezes, faltam direção única e organização em atos de massas como esse. Mas esse quase-espontaneísmo inicial, serve de ingrediente atrativo para massificação. Por isso, nossa tarefa é colocar força nas mobilizações populares- com todos os cuidados sanitários devido a pandemia do COVID-19. A agenda é essa! Muito mais que belos acordos de frentes mirabolantes, focadas em eleições, precisamos agora investir forças na construção de um “caldeirão de lutas populares”. Em muitos países deu certo a estratégia de massificação das lutas. Acreditamos nessa linha. O governo reúne contradições, desestabilidade e incompetências o suficiente, para que a mobilização popular ao menos tencione sua base, coisa que “tuitaços”, memes e palavras de ordem como “eu avisei”, não vêm conseguindo fazer.
A saída é o poder popular!
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