sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Precisamos falar sobre espaços vazios

 


Daniel da Luz Machado - Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.




    Vivemos um contexto político e social muito preocupante em nosso país. Não obstante uma economia balizada por uma desigualdade assustadora, estamos lidando com uma pandemia de proporções alarmantes no que tange a saúde pública e também com reflexos nefastos para população “na própria carne” e “no próprio bolso”, enfim um cenário perfeito para proliferação de discursos inconsistentes e vociferações vazias que no final ajudam a perpetuar o status quo que já era insalubre antes de sermos tombados pelo tsunami da covid – 19.

    Uma situação em especial eu gostaria de trazer para essa reflexão que dividirei com você leitor e que visualizo como uma das variáveis importantes para entender o vazio que convida o caos para bailar.

    No dia 04 de dezembro do corrente ano foi ao ar em suas plataformas digitais a primeira parte de um debate do Programa Ringue da PAN 85 com as participações de Guga Noblat, Kim Kataguiri , Fernando Holiday e o Professor Adriano Viaro, sendo o Professor Viaro um debatedor convidado representando um ponto de vista contrário ao do Fernando Holiday.

    O Professor Viaro é Mestre em História e um grande pesquisador das relações étnico-raciais, com especializações em sociologia, além de palestrante e Diretor de uma escola na cidade de São Leopoldo, enfim um educador em constante pesquisa e aprimoramento, que traz em sua argumentação a solidez por anos incansáveis de estudos. Do outro lado Fernando Holiday, o fruto político do vazio que proporciona o caos, com argumentações anacrônicas, inconsistentes e com uma densidade de castelo de areia construído perto do tradicional futebolzinho na praia.

    O Debate se deu com uma supremacia esperada por quem conhece o conteúdo do Professor Viaro face ao também esperado festival de inconsistências que Fernando Holiday certamente diria. Mas o que me causa bastante perplexidade são os comentários de algumas pessoas ligadas ao pensamento progressista ou de esquerda, que questionaram que o Professor não deveria “Ter dado voz e ibope” a um veículo de informação que saúda abertamente o establishment .

    Fico imaginando o quão nociva é a atitude de falar apenas com pares e os reflexos contundentes desse comportamento de caramujo que não sai da própria casca.

    Há poucos dias as eleições para prefeito aqui no estado do RS, para ficarmos na aldeia, trouxe vitórias de partidos conservadores , com histórico de governos jamais voltados para o bem estar da maioria da população que se aproveitam de discursos vazios de antipolítica , ou de medo de teorias comunistas (termo atualmente utilizado para definir tudo que não é de direita ou extrema direita) e parte da derrota dos campos mais progressistas, na minha opinião perpassam justamente por não encararem a realidade e acima de tudo por não ocuparem os espaços vazios.

    Fernando Holiday e Kim Kataguiri representam os oriundos do caos, representam o esvaziamento do discurso, a falácia do malabarismo retórico que não leva a lugar nenhum, representam o “velho” mal disfarçado de “novo” que construíram um capital social e político em cima da ausência do debate. Eles são malabaristas, mas quando contrapõem seus argumentos com quem seriamente estuda e se prepara e assume o papel de debater com eles sem se preocupar com o espaço e o momento, eles tremem, se anulam e mostram que parte do seu sucesso se deu pela falta de autocrítica e uma certa arrogância da esquerda e outros setores progressistas que se negam a discutir com eles.

    Os espaços estão ai. A direita está ocupando e se ferramentou bem antes da esquerda para isso. Ou avançamos e passamos a dividir esses espaços sem melindres e pompas, ou discursos vazios e muitas vezes desonestos intelectualmente como os do Holiday e do Kim se multiplicarão de tal forma que a mudança desse ciclo governamental distópico se prolongará por um período bem maior do que possamos aguentar.

  Façamos como o Professor Viaro que não se furtou do debate e não quis falar apenas aos seus pares, pois em tempo, somos minoria e se continuarmos apenas dentro da bolha, tenderemos a desaparecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário