sábado, 8 de fevereiro de 2025

Atualidade ou estagnação caminhando de mãos dadas

 



Poeta, Contista & Cronista Social








                Acabei de assistir novamente o fantástico filme “Eles não usam Black-Tie”, adaptado da grande peça teatral de mesmo nome do genial Gianfrancesco Guarnieri. Essa maravilha do cinema nacional lançada em 1981 conta com um elenco maravilhoso, uma verdadeira constelação com Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, Milton Gonçalves, Bete Mendes, Lizzete Negreiros, Francisco Milani, Carlos Alberto Ricceli, Lélia Abramo, Anselmo Vasconcelos entre outros.

            O filme traz uma narrativa situada em plena ditadura, onde as temáticas de luta de classes, lutas sindicais, racismo, machismo, alcoolismo, exploração do trabalhador em detrimento das benesses dos grandes empresários.

            Otávio e Tião interpretados por Gianfrancesco e Carlos Alberto, formam um núcleo familiar. São pai e filho, colegas de fábrica, irmãos de infortúnio, de pobreza ainda que tanto produzam. Têm cotidianamente seus sonhos negados e estão sujeitos as mesmas exclusões sociais e não participação do banquete econômico que só contempla os ricos exploradores.

            O que poderia irmanar ainda mais o seus contextos, esbarra  na personalidade de ambos e o senso de coletividade e justiça que os envolve. O pai abraça o coletivo, a luta, a vontade de justiça social. O filho abraça o seu mundo, a paternidade que se aproxima e a vontade de ascender individualmente e garantir aos seus uma melhor oportunidade, mas  que se exploda o resto.

            Conversei com meu amigo Sérgio Pires sobre o “rever a obra” e o quanto ela é atemporal em relação às dinâmicas sociais que nos deparamos e o meu amigo Sérgio me inquietou com a seguinte colocação: O Filme ainda é atual ou fomos nós que não mudamos? O “Tião” me soa como os milhares de brasileiros que mesmo que estejam lado a lado com o “Otávio”, não querem se conscientizar, ou melhor acham que a conscientização não os levará a lugar algum e desprezam o coletivo, sendo tocados pelo “canto da sereia da individualidade narcísica incapaz de expandir além do espelho.

            Ainda somos Otávios, Braulios, Romanas, Marias, Silenes, Sartinis e todo núcleo que sonhava com um mundo melhor, mas estamos sendo derrotados de goleada por um universo de “Tião” que só enxerga a circunferência do seu umbigo e estende o tapete para o explorador passar.