Poeta, Contista & Cronista Social
Acabei
de assistir novamente o fantástico filme “Eles não usam Black-Tie”, adaptado da
grande peça teatral de mesmo nome do genial Gianfrancesco Guarnieri. Essa
maravilha do cinema nacional lançada em 1981 conta com um elenco maravilhoso,
uma verdadeira constelação com Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri,
Milton Gonçalves, Bete Mendes, Lizzete Negreiros, Francisco Milani, Carlos
Alberto Ricceli, Lélia Abramo, Anselmo Vasconcelos entre outros.
O filme traz uma narrativa situada
em plena ditadura, onde as temáticas de luta de classes, lutas sindicais,
racismo, machismo, alcoolismo, exploração do trabalhador em detrimento das
benesses dos grandes empresários.
Otávio e Tião interpretados por
Gianfrancesco e Carlos Alberto, formam um núcleo familiar. São pai e filho,
colegas de fábrica, irmãos de infortúnio, de pobreza ainda que tanto produzam.
Têm cotidianamente seus sonhos negados e estão sujeitos as mesmas exclusões
sociais e não participação do banquete econômico que só contempla os ricos
exploradores.
O que poderia irmanar ainda mais o
seus contextos, esbarra na personalidade
de ambos e o senso de coletividade e justiça que os envolve. O pai abraça o
coletivo, a luta, a vontade de justiça social. O filho abraça o seu mundo, a
paternidade que se aproxima e a vontade de ascender individualmente e garantir
aos seus uma melhor oportunidade, mas que se exploda o resto.
Conversei com meu amigo Sérgio Pires
sobre o “rever a obra” e o quanto ela é atemporal em relação às dinâmicas
sociais que nos deparamos e o meu amigo Sérgio me inquietou com a seguinte
colocação: O Filme ainda é atual ou fomos nós que não mudamos? O “Tião” me soa
como os milhares de brasileiros que mesmo que estejam lado a lado com o “Otávio”,
não querem se conscientizar, ou melhor acham que a conscientização não os
levará a lugar algum e desprezam o coletivo, sendo tocados pelo “canto da
sereia da individualidade narcísica incapaz de expandir além do espelho.
Ainda somos Otávios, Braulios,
Romanas, Marias, Silenes, Sartinis e todo núcleo que sonhava com um mundo
melhor, mas estamos sendo derrotados de goleada por um universo de “Tião” que
só enxerga a circunferência do seu umbigo e estende o tapete para o explorador
passar.
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