Renata Tomaz do Amaral Ribeiro - Bacharela em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência nas áreas da antropologia da alimentação e antropologia urbana, da memória e da imagem, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura e alimentação, memória, meio ambiente, saberes e práticas sobre PANCs.
A ração humana de Doria: o que tem a ver cultura e
identidade com alimentação?
Renata Tomaz do Amaral Ribeiro
João Doria diz: “Pobre
não tem hábito alimentar, pobre tem fome.”
Doria e a sua politica liberal
estão desumanizando as pessoas!
Como assim pobre não tem hábito alimentar? Se fosse possível resolver o problema da fome com soluções meramente nutricionais (só que NÃO é), poderia existir mais divulgação e fortes campanhas incentivando o cultivo e o consumo de Plantas Alimentícias não Convencionais - PANC, por exemplo. Deveriam haver oficinas e campanhas nas periferias para o aproveitamento de caules e folhas que normalmente são descartadas. Isso para não falar, que no Brasil NÃO HÁ ESCASSEZ DE ALIMENTO; se produz muito, mas nem todo mundo tem acesso.
O fato é que o problema da fome
não é uma questão restritamente biológica, mas especialmente política e
cultural. No caso em questão, não existe preocupação alguma com segurança alimentar,
há, porém o evidente interesse do governo Doria de repassar ou isentar um valor
substancial a mais uma empresa mafiosa.
Não apenas isto, esta é uma politica de desumanização da população pobre. Pessoas em situação de vulnerabilidade social devem ter sua cidadania e direitos garantidos. E isso inclui fundamentalmente uma alimentação nutritiva e que faça parte do imaginário coletivo da nossa sociedade. Feijão com Arroz, polenta com ovo frito, aipim na panela de ferro, purê de batata inglesa, batata-doce no forno, são alguns dos tantos pratos comuns no cotidiano do brasileiro. A comida guarda e revela identidades, visões de mundo, tradições… E consequentemente, ela nutri o corpo e a alma. E por mais que muita gente não acredite pobre é ser humano, além de nutrientes também precisa se alimentar de simbologia.
Obviamente que eu, que estudo as
PANC, acho lindo que existam mais e mais pesquisas, campanhas e oficinas que
divulguem e incentivem o consumo destas plantas. Todavia, para tanto é
necessário que as politicas públicas estabelecidas levem em consideração as
representações simbólicas e sociais de cada grupo, para que estas plantas sejam
inseridas nos pratos cotidianos e típicos, respeitando a cultura e a identidade
destes indivíduos. Esta seria uma das tantas opções melhores do que a ração
humana do Doria!
Referências:
DA MATTA, Roberto. Sobre o simbolismo da comida no
Brasil. O Correio da Unesco, Rio de Janeiro, v. 15.
FISCHLER, Claude. Las funciones
de lo culinario. In: El ( h )omnívoro: el
gusto, la cocina y el cuerpo. Barcelona: Anagrama, 1995.
GARINE, Igor de. Alimentação,
culturas e sociedades. O Correio da Unesco, Rio
de Janeiro, v. 15, 1987.
MACIEL, Maria Eunice. Cultura e alimentação ou o que tem a
ver os macaquinhos de Koshima com
Brillat-Savarin? Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, v. 7. 2001.
MENASCHE, Renata; ALVAREZ, Marcelo;
COLLAÇO, Janine. Alimentação e cultura em suas
múltiplas dimensões. In: ________ (Org.). Dimensões
socioculturais da alimentação. Diálogos latino-americanos. Porto Alegre:
Ed. UFRGS, 2012.
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