Paulinho dos Santos é Acadêmico de Ciências Sociais pela UFRGS e Militante de causas sociais
O
moralismo na agenda pública e a necessidade de um discurso de
esperança
A
insatisfação do eleitor com a política e com os políticos tem
aumentado a cada dia. Constantes investigações encampadas pelo
Ministério Público têm desnudado certos crimes de alguns (não
poucos) políticos que se utilizaram e, ainda, se utilizam da vida
pública para autopromoção e enriquecimento ilícito.
Agregado
a isso, a forte cobertura da imprensa, sobretudo em difundir
vazamentos seletivos dessas investigações, tem feito com que o
eleitor receba uma carga de constantes notícias negativas da classe
política, incorporando, então, um discurso que considera a política
como a geradora dos grandes males em uma sociedade que atravessa
determinado período de crise.
De
acordo com o site “Manchetômetro”1,
entre os meses de janeiro e setembro de 2017, os jornais Estadão,
Folha de São Paulo, Jornal Nacional e O Globo, apresentaram cerca de
7 mil matérias jornalísticas “contrárias” à política. No
entanto, somente 800 matérias “favoráveis” foram veiculadas por
esses mesmos jornais. Nesses cálculos, não estamos nos referindo
nem às matérias que apresentam certa “ambivalência”, nem
àquelas consideradas “neutras” pelos pesquisadores.
Quando
nos atemos aos “partidos políticos”, somente no mês de maio de
2017, os já referidos jornais apresentaram pouco mais de 200
matérias contrárias ao PT (mês em que o PT teve mais notícias
negativas). Já as notícias favoráveis, somando os nove meses em
questão, não chega a um número de 30 notícias.
Quando
o partido político pesquisado é o PSDB, o mês de junho é o de
maior número de notícias negativas, em que o partido quase alcança
80 notícias contrárias veiculadas na imprensa. No mesmo mês, o
PSDB quase alcançou 20 notícias favoráveis, praticamente superando
PT em notícias positivas somente em um único mês. Além disso,
paradoxalmente, junho também foi o mês em que o partido teve o
maior número de notícias positivas veiculadas.
Ao
compararmos as notícias sobre Lula e Aécio Neves, o petista superou
a marca de 225 notícias negativas somente no mês de maio, enquanto
Aécio, no mês de junho, mês em que teve o maior número de
notícias contrárias a si, alcançou cerca de 70 notícias. Quanto
as positivas, Aécio Neves superou Lula em todos os meses.
Como
é possível verificar, notícias negativas relacionadas à política
e aos políticos são amplamente difundidas para o eleitor. No
entanto, nem todos os partidos e nem todos os políticos recebem o
mesmo tratamento. Lula e o PT são alvos de constantes notícias
contrárias que são levadas diariamente à casa do eleitorado
brasileiro. O tucano Aécio Neves e o seu partido, o PSDB, estão bem
menos na mídia do que os petistas. E, quando as notícias são
negativas, as positivas também aparecem no sentido de minimizar os
ataques.
Ou
seja, por mais que Lula e o seu partido sofram diariamente com uma
grande quantidade de notícias negativas, nenhum partido e nenhum
político passam incólumes.
Nesse
sentido, é importante trazer ao debate o que fora escrito pelo juíz
federal Sergio Moro (2004, p. 57), juiz responsável pela Operação
Lava Jato no âmbito da Justiça Federal de Curitiba, no texto
“Considerações sobre a operação Mani
Pulite”,
que ocorrera na Itália:
A
independência judiciária interna e externa, a
progressiva deslegitimação de um sistema político corrupto e a
maior legitimação da magistratura em relação aos políticos
profissionais
foram, portanto, as condições que tornaram possível o círculo
virtuoso gerado pela operação mani
pulite.
(Grifo meu).
Ora,
como é possível perceber, há uma estratégia traçada nas
constantes investigações que estão sendo conduzidas no Brasil, que
é a estratégia da deslegitimação da política e dos políticos
profissionais. Para tanto, tende a ser extramente frutífero o
trabalho realizado conjuntamente pelos agentes do sistema de justiça
e a imprensa.
Assim
como a operação Mani
Pulite,
na Itália, buscou a deslegitimação da classe política, no Brasil,
para que quaisquer operações contra corruptos e corruptores fossem
bem sucedidas, supõe-se a necessidade de incorporar tal estratégia,
pois “enquanto ela (a ação judicial) contar com o apoio da
opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons
resultados” (MORO, 2004, p. 61).
Nessa
lógica, todos os políticos e todos os partidos políticos passam a
ser alvos da imprensa, pois a descontituição da política é a
legitimação da justiça. Ou seja, desconstituir é também
legitimar.
Seguindo
nessa linha de desconstituição e trabalho conjunto, o Ministério
Público começa a promover campanhas contra a corrupção e pela
moralização do setor público, se transformando em uma espécie de
“bastião da moralidade”. O Projeto Lei que cria as 10 medidas
contra a corrupção é apresentado e defendido a tal ponto que a
instituição cria um website para elucidar o texto e acompanhar, de
forma pública, a tramitação do projeto no Congresso Nacional.
O
projeto que prevê a utilização de provas em processos colhidos de
forma ilegal, desde que tenha sido realizada de boa fé, e, também,
limita a utilização do habeas
corpus
não é nenhuma unanimidade inclusive entre os agentes do sistema de
justiça. Segundo alguns juristas e membros do Supremo Tribunal
Federal, como o Ministro Gilmar Mendes, por exemplo, o Projeto de Lei
encampado pelo Ministério Público dificulta a defesa dos
investigados e restringe direitos.
Como
defesa, o Ministério Público cita a necessidade de limpar a
política da corrupção. Nesse sentido, o ambiente criado é de que
todos aqueles que se colocam de forma contrária ao projeto parecem
estar favoráveis a corrupção.
Ora,
quanto mais se debate sobre corrupção, mais há necessidade de se
apresentar um caminho de esperança. As investidas de alguns agentes
do sistema de justiça em conjunto com a imprensa têm levado o
debate, nas ruas, a centralizar naquele que eles elegeram como o
grande problema: a corrupção.
Não
que a corrupção não deva ser combatida. Longe disso! Só que,
enquanto passamos horas e horas falando da corrupção e elegendo os
políticos para atacar, políticas de redução do Estado e de
precarização do serviço público vem sendo implementadas.
No
governo federal, o orçamento para políticas sociais tem sido cada
vez menor. A educação, a saúde e a assistência social tem tido
cada vez menos investimento público.
No
Rio Grande do Sul, parcelamento de salários e a extinção de
fundações e autarquias estatais são a tônica do processo
político.
Por
isso, é preciso apresentar um novo caminho às pessoas. Um caminho
de esperança!
É
preciso relembrar que o Brasil já havia se livrado da fome. É
preciso relembrar que é possível aumentar os salários dos
servidores públicos estaduais e utilizar essa forma de governar para
aquecer a economia.
E é
preciso mais. É preciso construir saídas para toda essa crise com a
participação das pessoas. É preciso fazer com que as pessoas
voltem a acreditar na política, por mais difícil que isso pareça
ser nesse momento.
1
“Manchetômetro” é um website sobre temas de economia e
política, criado pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera
Pública (LEMEP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que
tem por objetivo acompanhar a cobertura jornalística dos principais
jornais do país em relação aos temas já citados.
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