sábado, 23 de setembro de 2017

ESTAMOS DOENTES

Letícia Roxo é Licenciada em História pela FAPA - Professora da Rede Pública Estadual.













                                                          ESTAMOS DOENTES

                        Nos últimos dias tenho pensado sobre os motivos da licença saúde do governador do Estado do Rio Grande do Sul que alegou estar estressado. Não duvido do stress do governador, no entanto questiono a intensidade desse stress em comparação a qualquer servidor público do Estado. A atual realidade financeira e psicológica  dos servidores me parece muito mais complicada de resolver. Afinal, o governador entra em licença e vai para um Resort caríssimo no Costão do Santinho relaxar. E o servidor pode fazer o mesmo? Creio que não! Quando que um servidor que tem seu salário defasado e parcelado a 21 meses, onde Banrisul lhe cobra juros em cima de juros, onde ele deve aluguel, condomínio, luz, cartão de crédito e etc. vai poder descansar no litoral catarinense num Resort caro?

                        Especificamente, professores e funcionários de escola não conseguem sequer descansar, pois todo mês é um tormento. Chegamos a uma conclusão muito triste: profissionais da educação aqui no RS não têm qualidade de vida, seja pela desvalorização e humilhação em que tem vivido a quase dois anos com estes parcelamentos, falta de reajustes e aumento salarial, seja pelas condições nas quais trabalha: escolas sucateadas, salas lotadas, falta de infraestrutura, falta de incentivo no aperfeiçoamento educacional, indisciplina de alunos, falta de respeito da sociedade, e por ai vai.

                        O artigo QUALIDADE DE VIDA DOS PROFESSORES: UM BEM PARA TODOS de Martins Vicente Rodriguez Y Rodriguez e Joemar Braga Alves aborda o tema da qualidade de vida dos docentes.  Relaciona a qualidade de vida a fatores como saúde, ambiente de trabalho e motivação para a prática docente.

                        Os autores identificam a desvalorização da profissão, o desrespeito do profissional, péssimas condições de trabalho, falta de incentivo financeiro e acadêmico, geram problemas psicológicos, psiquiátricos, cardíacos, depressão e estresse, muito comum entre os professores.

                        O impedimento da profissão docente em função de adoecimento do profissional é um tema relevante, principalmente nos dias contemporâneos, e no Estado do Rio Grande do Sul, onde as preocupações dos profissionais com a qualidade do ensino é culpabilizada a nós, professores, onde o ambiente e a infraestrutura de trabalho são muitas vezes precárias, onde as políticas públicas que priorizam a educação não são cumpridas e por fim, o desrespeito e a desvalorização do professor, tanto pela sociedade quanto, principalmente, do governo são constantes.

             O ataque de um projeto de governo que ridiculariza a classe, parcela salários, que não cumpre com o que é estabelecido em lei e não é responsabilizado judicialmente e, ainda, faz declarações públicas ameaçando o servidor. Estas questões contribuem e muito para o adoecimento psicológico e o desespero financeiro do docente. Neste contexto, os autores, na pág. 12 citam Perrenoud e Nóvoa.

“Os problemas vividos pelos professores”, no atual contexto da pós-modernidade, são examinados e explorados para se tentar chamar a atenção da sociedade, de que o insucesso escolar não é de responsabilidade única do professor, mas está relacionado com a forma em que a sociedade atual trata a própria escola e a educação. Nessa perspectiva, um elemento importante, reconhecido com um dos responsáveis para desencadear e moldar o “mal estar docente”, é a falta de apoio, as críticas, a negação de legitimidade à escola para desempenhar um papel significativo na formação de sujeitos profissionais e cidadãos (PERRENOUD, 1997; ESTEVE, 1999; NÓVOA, 1995).


                     Como educar, ensinar, construir o conhecimento com a sociedade se não estamos saudáveis, motivados? É necessário que a sociedade e o governo percebam que é muito difícil melhorar a qualidade de ensino se não derem condições físicas, intelectuais, financeiras e psicológicas, além de reconhecimento e respeito que os profissionais em educação tanto precisam e merecem. Os autores trazem a síndrome de “burnout” como uma consequência direta desse quadro. Onde, conforme eles, o docente acaba desenvolvendo um stress crônico e passa a demonstrar sintomas agressivos a sua saúde e a sua profissão. 


“Está configurada num quadro de apatia, desânimo, situação crônica de tensão emocional e de insatisfação com o que fazem. Tem como indicadores: a baixa produtividade do professor como consequência da síndrome; uma situação crônica de tensão emocional, de insatisfação com o que fazem, enquanto persistem nessa situação de desconforto e permanência no trabalho; a revelação de atitudes negativas frente às tarefas típicas da sua função; apresentam dificuldades de relacionamento com os colegas de trabalho e com os alunos; estão em permanente esgotamento emocional e passam a justificar, com isso, sua apatia, sua falta de esforço no trabalho.” (pág. 15).

                          Por fim, afirmam que a motivação é um dos fatores que levam a melhoria da qualidade de vida pessoal e profissional do ser humano.  Logo a motivação atua na busca da satisfação em ter seus interesses realizados com êxito. Isso faz com que o ser humano encontre razão e busque realizar a suas necessidades. Essa motivação é de diversas origens, podendo ser respeito e valorização profissional, incentivos acadêmicos, elogios públicos, plano de carreira e remuneração atrativa e etc.

                         As relações de trabalho e as condições são determinantes para a boa ou má saúde do trabalhador, assim percebemos que o ambiente e a relação que se estabelece entre e o meio e o professor influência em seu comportamento e sua saúde. Desta forma, investir na qualidade de vida do profissional da educação é se preocupar com a evolução da sociedade, é repensar o significado de educação e concluir que saúde física, psicológica, psiquiátrica do professor é uma necessidade social.

                   Portanto, estamos doentes, é fato! Mas que a doença da categoria seja o gatilho, a faísca para exigirmos melhorias que possam nos curar. 

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