ESTAMOS DOENTES
Nos últimos dias
tenho pensado sobre os motivos da licença saúde do governador do Estado do Rio
Grande do Sul que alegou estar estressado. Não duvido do stress do governador,
no entanto questiono a intensidade desse stress em comparação a qualquer
servidor público do Estado. A atual realidade financeira e psicológica dos servidores me parece muito mais complicada
de resolver. Afinal, o governador entra em licença e vai para um Resort
caríssimo no Costão do Santinho relaxar. E o servidor pode fazer o mesmo? Creio que não! Quando que um servidor que tem seu salário
defasado e parcelado a 21 meses, onde Banrisul lhe cobra juros em cima de
juros, onde ele deve aluguel, condomínio, luz, cartão de crédito e etc. vai
poder descansar no litoral catarinense num Resort caro?
Especificamente,
professores e funcionários de escola não conseguem sequer descansar, pois todo
mês é um tormento. Chegamos a uma conclusão muito triste: profissionais da
educação aqui no RS não têm qualidade de vida, seja pela desvalorização e
humilhação em que tem vivido a quase dois anos com estes parcelamentos, falta
de reajustes e aumento salarial, seja pelas condições nas quais trabalha:
escolas sucateadas, salas lotadas, falta de infraestrutura, falta de incentivo
no aperfeiçoamento educacional, indisciplina de alunos, falta de respeito da
sociedade, e por ai vai.
O artigo QUALIDADE DE VIDA DOS PROFESSORES:
UM BEM PARA TODOS de Martins Vicente Rodriguez Y Rodriguez e Joemar Braga Alves
aborda o tema da qualidade de vida dos docentes. Relaciona a qualidade de vida a fatores como
saúde, ambiente de trabalho e motivação para a prática docente.
Os autores identificam a
desvalorização da profissão, o desrespeito do profissional, péssimas condições
de trabalho, falta de incentivo financeiro e acadêmico, geram problemas
psicológicos, psiquiátricos, cardíacos, depressão e estresse, muito comum entre
os professores.
O impedimento da
profissão docente em função de adoecimento do profissional é um tema relevante,
principalmente nos dias contemporâneos, e no Estado do Rio Grande do Sul, onde
as preocupações dos profissionais com a qualidade do ensino é culpabilizada a nós,
professores, onde o ambiente e a infraestrutura de trabalho são muitas vezes
precárias, onde as políticas públicas que priorizam a educação não são
cumpridas e por fim, o desrespeito e a desvalorização do professor, tanto pela
sociedade quanto, principalmente, do governo são constantes.
O ataque de um projeto de governo que
ridiculariza a classe, parcela salários, que não cumpre com o que é
estabelecido em lei e não é responsabilizado judicialmente e, ainda, faz
declarações públicas ameaçando o servidor. Estas questões contribuem e muito
para o adoecimento psicológico e o desespero financeiro do docente. Neste
contexto, os autores, na pág. 12 citam Perrenoud e Nóvoa.
“Os
problemas vividos pelos professores”, no atual contexto da pós-modernidade, são
examinados e explorados para se tentar chamar a atenção da sociedade, de que o
insucesso escolar não é de responsabilidade única do professor, mas está
relacionado com a forma em que a sociedade atual trata a própria escola e a
educação. Nessa perspectiva, um elemento importante, reconhecido com um dos
responsáveis para desencadear e moldar o “mal estar docente”, é a falta de
apoio, as críticas, a negação de legitimidade à escola para desempenhar um
papel significativo na formação de sujeitos profissionais e cidadãos
(PERRENOUD, 1997; ESTEVE, 1999; NÓVOA, 1995).
Como educar, ensinar, construir o
conhecimento com a sociedade se não estamos saudáveis, motivados? É necessário
que a sociedade e o governo percebam que é muito difícil melhorar a qualidade
de ensino se não derem condições físicas, intelectuais, financeiras e psicológicas,
além de reconhecimento e respeito que os profissionais em educação tanto
precisam e merecem. Os autores trazem a síndrome de “burnout” como uma
consequência direta desse quadro. Onde, conforme eles, o docente acaba
desenvolvendo um stress crônico e passa a demonstrar sintomas agressivos a sua
saúde e a sua profissão.
“Está
configurada num quadro de apatia, desânimo, situação crônica de tensão
emocional e de insatisfação com o que fazem. Tem como indicadores: a baixa
produtividade do professor como consequência da síndrome; uma situação crônica
de tensão emocional, de insatisfação com o que fazem, enquanto persistem nessa
situação de desconforto e permanência no trabalho; a revelação de atitudes
negativas frente às tarefas típicas da sua função; apresentam dificuldades de relacionamento
com os colegas de trabalho e com os alunos; estão em permanente esgotamento
emocional e passam a justificar, com isso, sua apatia, sua falta de esforço no
trabalho.” (pág. 15).
Por fim, afirmam que a motivação é
um dos fatores que levam a melhoria da qualidade de vida pessoal e profissional
do ser humano. Logo a motivação atua na
busca da satisfação em ter seus interesses realizados com êxito. Isso faz com
que o ser humano encontre razão e busque realizar a suas necessidades. Essa
motivação é de diversas origens, podendo ser respeito e valorização
profissional, incentivos acadêmicos, elogios públicos, plano de carreira e
remuneração atrativa e etc.
As relações de trabalho e as
condições são determinantes para a boa ou má saúde do trabalhador, assim
percebemos que o ambiente e a relação que se estabelece entre e o meio e o
professor influência em seu comportamento e sua saúde. Desta forma, investir na
qualidade de vida do profissional da educação é se preocupar com a evolução da
sociedade, é repensar o significado de educação e concluir que saúde física,
psicológica, psiquiátrica do professor é uma necessidade social.
Portanto, estamos doentes, é fato!
Mas que a doença da categoria seja o gatilho, a faísca para exigirmos melhorias
que possam nos curar.