sábado, 2 de setembro de 2017

ALIENAÇÃO COLETIVA

Letícia Roxo é licenciada em História pela FAPA, atua como professora da Rede Pública Estadual.











ALIENAÇÃO COLETIVA

Humilhação! Essa é a palavra correta. Nunca na minha trajetória no magistério gaúcho me senti tão humilhada como profissional. Sempre me disseram: faça o teu melhor, planeje, nunca pare de estudar, trate teus alunos com amor e tenha um olhar diferenciado. Não seja preconceituosa, machista, homofóbica, misógina.  E eu busco fazer o meu melhor. Mas não é porque trabalho com amor, porque gosto do que faço, que meu trabalho é voluntariado, como quer a primeira dama e seu marido golpista.

  Como todo trabalhador tenho o direito de receber integralmente. Me sinto péssima por não poder saldar as minhas dívidas, por negar TUDO a minha filha, por não ser capaz de colocar um prato de comida a mesa, por perder meu direito de ir e vir, por simplesmente, ter certeza que antes, quando recebíamos integralmente, sobrevivíamos com o salário miserável. Mas e hoje? Isso não é sobreviver! É passar 24 horas preocupada em como será amanhã? Estamos ficando doentes, morrendo de desgosto, tristeza, apatia e inércia.

A esperança sempre foi a responsável por seguirmos em frente. E quando não existe mais esperança? Quando vemos que não iremos aguentar por mais muito tempo?  Me recordo das leituras e aulas sobre alienação e mais-valia, de Marx. Percebo que o capitalismo, com todas suas desigualdades e meritocracias, se renova e renasce, com o “aval” do trabalhador.

Mas como pode? A alienação para Marx é uma condição onde o trabalho não é libertador, pelo contrário, escraviza e é desumano, pois condiciona o homem pelo seu poder de acumular e consumir. E conforme a produção se moderniza mais afastado fica o homem daquilo que ele mesmo produz. Não percebendo sua atuação, seu trabalho no produto final, muitas vezes, não sendo capaz economicamente de possuir o fruto de seu trabalho.

Mas e nós da educação? Não conseguimos nos ver no produto final do nosso trabalho? Muitos, infelizmente não, pois já estão tão alienados e escravizados pelo sistema neoliberal de produção, de metas, meritocracia, resultados que esquecemos do nosso papel de construir o conhecimento, ou, o que é pior, para que finalidade construímos o conhecimento com nossos alunos. 

É uma condição desumana para quase toda a sociedade, profissionais da educação, alunos, comunidades escolares que dependem de uma educação, pública e de qualidade, libertadora desse molde alienante, mas que para o governo é útil. O que nos falta é formação aos professores, eles não sabem o que é pensar coletivamente, não sabem o que é autonomia, não sabem o que é cidadania, por isso fica difícil que mude alguma coisa, pois todos ficam esperando que a solução aconteça por vontade divina. O professor não se reconhece como trabalhador social.

A precarização dos serviços públicos, o desmonte do estado vem ao encontro dos objetivos desses governos, e onde o parcelamento de salários ou até mesmo o não pagamento deste, falta de investimentos em educação, saúde e segurança, legitimam as práticas de privatizações.

Hoje, vivemos num Estado que está levando ao auge esse projeto de desmonte. E desculpe-me o trocadilho, desmontando com a vida do funcionalismo, por falta de salários e tudo o que isso acarreta, como da sociedade como um todo pela falta de serviços. Vejo a maioria alienados, afastados da realidade e preocupados apenas com seus dramas pessoais. Mas o drama é coletivo, o caos é todos.


 Meus amigos, lamento informar, aqueles tempos trevosos, o qual falamos a todo momento para o futuro, já chegaram, e se instalaram, e estão nos dizimando. Ou nos unimos e lutamos ou vamos seguir derrotados e morrendo a míngua com o neoliberalismo da atualidade.

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