sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Queermuseu: as crianças viadas, a arte, a política e o capital.


Bruno Saldanha é Acadêmico de Ciências Sociais pela UFRGS



Queermuseu: as crianças viadas, a arte, a política e o capital.


Lembro de uma conversa com um aluno de 9 anos, quando ele me dizia que não gostava do nome “Gustavo”. Me dizia também que adorava os poneis (mas os poneis roxos). Que não se sentia bem em estar na fila dos meninos. O Gustavo era bastante “complicado” em sala de aula e sofria constantemente com as “brincadeiras” dos colegas o chamando de “viado”, de “bichinha”, ou com os deboches sobre a forma dele andar, de falar. Essas “brincadeiras” tinham respaldo da família. O “Gustavo” era uma criança nitidamente triste e desconfortável nos ambientes. Talvez “Gustavo” seja uma “Criança Viada Travesti da Lambada”. Talvez ele, os coleguinhas e a família só precisem entender que não existe problema em ser uma “Criança Viada”, que ele não precisa gostar de futebol, nem de super heróis, menos ainda de meninas. E isso não tem relação com pedofilia, mas com homofobia e machismo. Pedofilia, no contexto da exposição Queer no Santander, tem relação com os atos praticados por religiosos, mas que as Igrejas escondem a todo o custo. Os trabalhos artísticos da exposição Queer tem uma ótima relação com a sociedade, apesar de estar sendo ignorada: a hipocrisia que oprime os viados, os diferentes, desde a infância. Não é novidade que artistas e seus trabalhos sofram retalhos por exporem os problemas da sociedade doente em que vivemos.
A arte é, antes de tudo, liberdade. E não é novidade que grupos autoritários tentem cercear a liberdade de expressão artística. Não entendem sobre liberdade. Não aceitam que sejamos livres, que confrontemos os seus valores, os seus princípios já em decadência. Desta vez foi a exposição Queermuseu. Mas qual será a próxima censura? Se permitirmos que grupos como o MBL (Movimento Brasil “Livre”), financiados por “coronéis” da política brasileira, censurem e acabem com uma exposição de arte, estaremos fadados a um novo fascismo. Uma breve pesquisa virtual sobre o MBL torna claro a quem eles servem. Arte é vida, é movimento. E nesse movimento temos que “botar a cara no sol”. No dia 12 de Setembro foi realizado, em frente ao Santander Cultural, um ato em favor da liberdade de expressão artística e contra a LGBTfobia. As pessoas contrárias à exposição abriram discussões no evento de divulgação do ato no Facebook, instigando a violência e promovendo a imagem de Bolsonaro. Sim, promovendo a imagem de um político que discursa “aos quatro ventos” que ser gay é “falta de educação e de porrada”, e quando questionado sobre o que faria caso seu filho se apaixonasse por uma mulher negra, responde que “não discute promiscuidade, pois seus filhos foram muito bem educados”. São estas pessoas que conseguiram censurar a exposição Queermuseu. Não à toa estão em campanha pró-Bolsonaro: querem (ainda mais) “liberdade” para oprimir a todos que sejam diferentes dos seus padrões, e do “mercado”.
Sobre o fechamento da exposição, o Santander informou em nota que “entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo” e que “quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana”.
Assim, é importante refletirmos sobre o papel dos bancos quando existe uma situação tensa de disputa: o lado deles é sempre o do capital. Não podemos esquecer que em tempos de “politicamente correto”, como dizem, os bancos aproveitam para lucrar. E nesse contexto, temos os inúmeros projetos sociais e apoios dos maiores bancos privados do país. Ser viado não pode ser “moda” que gera lucro pra banco. Que a arte transcenda sempre. Que a arte se faça presente em todos os espaços. E sempre que houver censura, construamos ainda mais resistência, porque nenhuma criança viada será calada! Nem a arte censurada! 

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