Bruno Saldanha é Acadêmico de Ciências Sociais pela UFRGS
Queermuseu:
as crianças viadas, a arte, a política e o capital.
Lembro
de uma conversa com um aluno de 9 anos, quando ele me dizia que não
gostava do nome “Gustavo”. Me dizia também que adorava os poneis
(mas os poneis roxos). Que não se sentia bem em estar na fila dos
meninos. O Gustavo era bastante “complicado” em sala de aula e
sofria constantemente com as “brincadeiras” dos colegas o
chamando de “viado”, de “bichinha”, ou com os deboches sobre
a forma dele andar, de falar. Essas “brincadeiras” tinham
respaldo da família. O “Gustavo” era uma criança nitidamente
triste e desconfortável nos ambientes. Talvez “Gustavo” seja uma
“Criança Viada Travesti da Lambada”. Talvez ele, os coleguinhas
e a família só precisem entender que não existe problema em ser
uma “Criança Viada”, que ele não precisa gostar de futebol, nem
de super heróis, menos ainda de meninas. E isso não tem relação
com pedofilia, mas com homofobia e machismo. Pedofilia, no contexto
da exposição Queer no Santander, tem relação com os atos
praticados por religiosos, mas que as Igrejas escondem a todo o
custo. Os trabalhos artísticos da exposição Queer tem uma ótima
relação com a sociedade, apesar de estar sendo ignorada: a
hipocrisia que oprime os viados, os diferentes, desde a infância.
Não é novidade que artistas e seus trabalhos sofram retalhos por
exporem os problemas da sociedade doente em que vivemos.
A
arte é, antes de tudo, liberdade. E não é novidade que grupos
autoritários tentem cercear a liberdade de expressão artística.
Não entendem sobre liberdade. Não aceitam que sejamos livres, que
confrontemos os seus valores, os seus princípios já em decadência.
Desta vez foi a exposição Queermuseu. Mas qual será a próxima
censura? Se permitirmos que grupos como o MBL (Movimento Brasil
“Livre”), financiados por “coronéis” da política
brasileira, censurem e acabem com uma exposição de arte, estaremos
fadados a um novo fascismo. Uma breve pesquisa virtual sobre o MBL
torna claro a quem eles servem. Arte é vida, é movimento. E nesse
movimento temos que “botar a cara no sol”. No dia 12 de Setembro
foi realizado, em frente ao Santander Cultural, um ato em favor da
liberdade de expressão artística e contra a LGBTfobia. As pessoas
contrárias à exposição abriram discussões no evento de
divulgação do ato no Facebook, instigando a violência e promovendo
a imagem de Bolsonaro. Sim, promovendo a imagem de um político que
discursa “aos quatro ventos” que ser gay é “falta de educação
e de porrada”, e quando questionado sobre o que faria caso seu
filho se apaixonasse por uma mulher negra, responde que “não
discute promiscuidade, pois seus filhos foram muito bem educados”.
São estas pessoas que conseguiram censurar a exposição Queermuseu.
Não à toa estão em campanha pró-Bolsonaro: querem (ainda mais)
“liberdade” para oprimir a todos que sejam diferentes dos seus
padrões, e do “mercado”.
Sobre
o fechamento da exposição, o Santander informou em nota que
“entendemos
que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam
símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa
visão de mundo” e
que “quando
a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde
seu propósito maior, que é elevar a condição humana”.
Assim,
é importante refletirmos sobre o papel dos bancos quando existe uma
situação tensa de disputa: o lado deles é sempre o do capital. Não
podemos esquecer que em tempos de “politicamente correto”, como
dizem, os bancos aproveitam para lucrar. E nesse contexto, temos os
inúmeros projetos sociais e apoios dos maiores bancos privados do
país. Ser viado não pode ser “moda” que gera lucro pra banco.
Que a arte transcenda sempre. Que a arte se faça presente em todos
os espaços. E sempre que houver censura, construamos ainda mais
resistência, porque nenhuma criança viada será calada! Nem a arte
censurada!
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