Paulo dos Santos é Cientista Social pela UFRGS, mestrando em Ciência
Política pela UFRGS.
Só
agora, Bolsonaro?
Desde
já, preciso reconhecer que não transito muito bem pela ironia, mas
pretendo me utilizar dela no melhor sentido ao longo desse texto.
Iniciar
o dia tem sido sempre um exercício. Nunca sabemos o que vamos
encontrar ao acessar alguma plataforma de notícias, ou rede social.
Acessamos o Twitter
na expectativa de encontrar as mais variadas pérolas proferidas por
aquele que ocupa a presidência da República.
Nesse
dia 18 de fevereiro não foi diferente. Bolsonaro veio a público
ofender a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha. O conteúdo
sexual na sua fala é vil, repugnante. Reforça o machismo, a
misoginia, o sexismo, a cultura do estupro. Jair Bolsonaro, o
anti-Messias, é sórdido e canalha. Isso tudo a pouco mais de um ano
da sua vitória eleitoral contra Fernando Haddad e Manuela D’Ávila
nas eleições presidenciais. Afinal, como expresso no Editorial do
Estadão logo na abertura do segundo turno das eleições de 2018,
aquela eleição seria “uma escolha muito difícil”.
Mas
tudo bem, suas pérolas são bravatas de alguém que “pode
amadurecer”, até porque Bolsonaro teria a “chance de ouro de
ressignificar a política do Brasil”. Ao menos essa era a aposta de
Luciano Huck, o pré-presidenciável do PSDB para 2022.
No
entanto, Jair Bolsonaro, dessa vez, foi longe demais. Atacar uma
mulher da forma como ele atacou é algo inédito em sua biografia. Os
ataques às e aos profissionais do jornalismo já era algo palatável,
até porque as constantes bananas que ele tem distribuído à
imprensa não é algo tão ruim assim. Mas, ofender uma mulher em
pleno exercício da sua profissão, aí o anti-Messias foi longe
demais.
Que
bom que jornalistas importantes como Eliane Cantanhêde se
posicionaram em suas redes sociais demonstrando vergonha com o
ocorrido: “Hoje
estou com vergonha e raiva do que o presidente do meu país falou.
Não é contra uma jornalista, uma mulher, é contra nós, mulheres.”
Dessa
vez a ofensa ultrapassa os limites da civilidade e do decoro. Dessa
vez! Antes, quando gritávamos que Jair Bolsonaro era um assediador,
alguém que usava da atividade parlamentar para reforçar a cultura
do estupro, fazíamos sozinhos. Antes, quando dizíamos que ele era
misógino, não encontrávamos eco.
É
óbvio que a união das mulheres contra Bolsonaro e tudo o que ele
representa é mais do que importante, é fundamental! No entanto, por
que só agora? Por que Jair Bolsonaro não respondeu por quebra de
decoro quando levantou a mão contra Maria do Rosário e a chamou de
“vagabunda” no Salão Verde da Câmara dos Deputados? Por que não
perdeu o mandato quando disse, da tribuna da Câmara dos Deputados,
mais uma vez à Maria do Rosário: “só não te estupro porque você
não merece”? Por que Bolsonaro não saiu preso do plenário da
Câmara dos Deputados ao elogiar a memória de um dos maiores
torturadores do período ditatorial brasileiro durante sessão do
golpe da presidenta Dilma, enfurecendo apenas os “ativistas”,
como exposto pela BBC em matéria veiculada logo após aquela sessão
tenebrosa da Câmara dos Deputados?
Por
que os insultos às mulheres de esquerda não geram comoção e
arroubos democráticos da imprensa e dos partidos de direita?
Porque
Jair Bolsonaro os serve!
A
agenda econômica de destruição do Estado imposta por Paulo Guedes
é comemorada pelos jornalões e pela direita brasileira. Rodrigo
Maia abre as portas da Câmara para qualquer proposta de ataque às
trabalhadoras e aos trabalhadores. O Congresso Nacional tem
respondido aos interesses da elite brasileira. E Bolsonaro é
importante para que isso aconteça.
O
que Bolsonaro não aprendeu ainda é ficar calado. Mas, mesmo assim,
ele segue tendo alguma utilidade, afinal, como disse o humorista
Fábio Porchat, “a única coisa positiva que Bolsonaro fez foi
tirar o PT do poder”.
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