Paulo
Kobielski
Licenciado
em História, FAPA
Especializações
em Filosofia e Sociologia, UFRGS
Organiza
junto com Denilson Reis, o Dia do Quadrinho Nacional Alvorada, Dia
Nacional do Fanzine Alvorada, Gibifest Alvorada, Mutação POA,
Os Parasitas e a Desigualdade Social
O
cinema no ano de 2019 apresentou alguns filmes que podem nos levar a
reflexões interessantes. Três dessas obras me chamaram atenção
por tratarem de um tema muito pertinente nas sociedades humanas: a
desigualdade social e suas mazelas. “Bacurau” (Brasil), “Os
Miseráveis” (França) e “Parasita” (Coreia do Sul) - nenhum
deles produzido em Hollywood -, estão ancorados nos preceitos de
dominação e da exploração do homem sobre o homem.
O
filósofo iluminista J. J. Rousseau (1712-1778) no seu clássico
“Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade social”,
publicado em 1775, nos adverte que toda desigualdade se baseia na
noção de propriedade particular criado pelo homem e o sentimento de
insegurança com relação aos demais humanos. Essa noção de
propriedade criou nos primitivos a ideia de acumulação de bens e,
consequentemente, superioridade frente aos demais. Essa suposta
superioridade foi o estopim para o início dos conflitos entre os
homens de uma mesma tribo e, posteriormente, entre cidades e nações.
O surgimento da propriedade privada levará necessariamente a uma
administração e a criação de uma instituição fundamental: o
Estado. Com isso, vimos que, além do advento do poder econômico –
a propriedade –, percebemos o surgimento do poder político – o
Estado. Que não por acaso, estarão interligados ao longo da
história.
2019.
A produção cinematográfica mundial está num crescente, nunca
antes visto. Os países periféricos – Brasil, França??? e Coreia
do Sul -; se não desenvolvem uma forte indústria no setor – como
em Hollywood -, estão produzindo obras que se, não dispõe de
grandes recursos, estão cheias de criatividade. Interessante nessas
obras é a percepção sobre suas realidades.
Em “Bacurau”( Brasil), longa metragem dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Mendonça, o sertão não vira mar, e sim numa distopia em que seus moradores reagem a dominação imperialista onde Tarantino fica no chinelo. Os Miseráveis, dirigido pelo malês Ladi Ly (França), inspirado no livro clássico de Victor Hugo (1862), retrata o ambiente no subúrbio de Paris (Montfermeil), no final do século XX, e mostra o barril de pólvora étnico e religioso que a França se tornou nas últimas décadas. Realizado em 2018, o longa mostra as condições em que os jovens e crianças de origem africana e da religião muçulmana vivem à margem da sociedade francesa. Onde as batidas policiais – ou a ação das milícias – são uma constante no bairro parisiense. Nada a ver com o Brasil, onde milícias não existem. Isso?
Em “Bacurau”( Brasil), longa metragem dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Mendonça, o sertão não vira mar, e sim numa distopia em que seus moradores reagem a dominação imperialista onde Tarantino fica no chinelo. Os Miseráveis, dirigido pelo malês Ladi Ly (França), inspirado no livro clássico de Victor Hugo (1862), retrata o ambiente no subúrbio de Paris (Montfermeil), no final do século XX, e mostra o barril de pólvora étnico e religioso que a França se tornou nas últimas décadas. Realizado em 2018, o longa mostra as condições em que os jovens e crianças de origem africana e da religião muçulmana vivem à margem da sociedade francesa. Onde as batidas policiais – ou a ação das milícias – são uma constante no bairro parisiense. Nada a ver com o Brasil, onde milícias não existem. Isso?
“Parasita”,
... aquele que “vive à custa alheia por pura exploração”. O
filme do cineasta sul-coreano Bong Joon Ho, estica a discussão sobre
o tema da desigualdade social, onde o rico é cada vez mais rico, e o
pobre, cada vez mais pobre. Dados nos informam a todo momento que a
concentração de riqueza mundial aumentou: em 2017, os mais ricos
somam 43 pessoas. A fortuna dos bilionários aumentou 12%, enquanto a
metade mais pobre teve seu patrimônio diminuído em 11%. No filme,
os Park representam as famílias ricas que só podem existir às
custas do empobrecimento e da exploração de famílias como a dos
Kim – os pobres do subúrbio da metrópole coreana abaixo de tudo,
inclusive d’água. Mas que teimam em resistir a tudo o que a vida
lhes apresenta.
E
aí, pra onde estamos indo? Da forma em que a economia capitalista se
apresenta, na progressiva escalada do mundo dos negócios, o ter se
sobrepõe ao ser, e aqueles que podem mais estão sempre pisando
naqueles que nada podem. Que esperança podemos ter? Nos três
filmes em que assisti, me chamou a atenção a forma em que cada
comunidade oprimida pelo sistema se organizou para resistir a
imposição da classe dominante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário