segunda-feira, 2 de março de 2020

Os Parasitas e a Desigualdade Social

Paulo Kobielski 
Licenciado em História, FAPA
Especializações em Filosofia e Sociologia, UFRGS
Organiza junto com Denilson Reis, o Dia do Quadrinho Nacional Alvorada, Dia Nacional do Fanzine Alvorada, Gibifest Alvorada, Mutação POA,

Dirigiu e co-roteirizou o filme “Fanzine Tchê: 30 anos de resistência”


Os Parasitas e a Desigualdade Social

            O cinema no ano de 2019 apresentou alguns filmes que podem nos levar a reflexões interessantes. Três dessas obras me chamaram atenção por tratarem de um tema muito pertinente nas sociedades humanas: a desigualdade social e suas mazelas. “Bacurau” (Brasil), “Os Miseráveis” (França) e “Parasita” (Coreia do Sul) - nenhum deles produzido em Hollywood -, estão ancorados nos preceitos de dominação e da exploração do homem sobre o homem.
                 O filósofo iluminista J. J. Rousseau (1712-1778) no seu clássico “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade social”, publicado em 1775, nos adverte que toda desigualdade se baseia na noção de propriedade particular criado pelo homem e o sentimento de insegurança com relação aos demais humanos. Essa noção de propriedade criou nos primitivos a ideia de acumulação de bens e, consequentemente, superioridade frente aos demais. Essa suposta superioridade foi o estopim para o início dos conflitos entre os homens de uma mesma tribo e, posteriormente, entre cidades e nações. O surgimento da propriedade privada levará necessariamente a uma administração e a criação de uma instituição fundamental: o Estado. Com isso, vimos que, além do advento do poder econômico – a propriedade –, percebemos o surgimento do poder político – o Estado. Que não por acaso, estarão interligados ao longo da história.
                2019. A produção cinematográfica mundial está num crescente, nunca antes visto. Os países periféricos – Brasil, França??? e Coreia do Sul -; se não desenvolvem uma forte indústria no setor – como em Hollywood -, estão produzindo obras que se, não dispõe de grandes recursos, estão cheias de criatividade. Interessante nessas obras é a percepção sobre suas realidades. 

                 Em “Bacurau”( Brasil), longa metragem dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Mendonça, o sertão não vira mar, e sim numa distopia em que seus moradores reagem a dominação imperialista onde Tarantino fica no chinelo. Os Miseráveis, dirigido pelo malês Ladi Ly (França), inspirado no livro clássico de Victor Hugo (1862), retrata o ambiente no subúrbio de Paris (Montfermeil), no final do século XX, e mostra o barril de pólvora étnico e religioso que a França se tornou nas últimas décadas. Realizado em 2018, o longa mostra as condições em que os jovens e crianças de origem africana e da religião muçulmana vivem à margem da sociedade francesa. Onde as batidas policiais – ou a ação das milícias – são uma constante no bairro parisiense. Nada a ver com o Brasil, onde milícias não existem. Isso?
            “Parasita”, ... aquele que “vive à custa alheia por pura exploração”. O filme do cineasta sul-coreano Bong Joon Ho, estica a discussão sobre o tema da desigualdade social, onde o rico é cada vez mais rico, e o pobre, cada vez mais pobre. Dados nos informam a todo momento que a concentração de riqueza mundial aumentou: em 2017, os mais ricos somam 43 pessoas. A fortuna dos bilionários aumentou 12%, enquanto a metade mais pobre teve seu patrimônio diminuído em 11%. No filme, os Park representam as famílias ricas que só podem existir às custas do empobrecimento e da exploração de famílias como a dos Kim – os pobres do subúrbio da metrópole coreana abaixo de tudo, inclusive d’água. Mas que teimam em resistir a tudo o que a vida lhes apresenta.
            E aí, pra onde estamos indo? Da forma em que a economia capitalista se apresenta, na progressiva escalada do mundo dos negócios, o ter se sobrepõe ao ser, e aqueles que podem mais estão sempre pisando naqueles que nada podem. Que esperança podemos ter? Nos três filmes em que assisti, me chamou a atenção a forma em que cada comunidade oprimida pelo sistema se organizou para resistir a imposição da classe dominante.




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