sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Reconstrução de caminhos não tão fáceis para estabelecer uma agenda positiva para população brasileira



Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS
Reconstrução de caminhos não tão fáceis para estabelecer uma agenda positiva para população brasileira

A derrocada da esquerda brasileira nas urnas, desde 2014, vem sendo evidenciada a “olhos nus” e bem destacada na “nada tendenciosa” grande mídia brasileira. Neste declínio eleitoral, uma série de agendas progressistas e propositivas de políticas sociais mais abrangentes deixa de avançar na esfera pública e por consequência deixam de contemplar uma numerosa quantidade de brasileiros que aos olhos dos poderosos, simplesmente saíram do campo de visão.
A eterna disputa política entre dois polos antagônicos (às vezes nem tanto) a julgar pela sua práxis, acentua um radicalismo e uma intolerância cada vez mais assustadores no cotidiano.
A esquerda que vem sofrendo derrotas acachapantes, mesmo que, diante de um governo federal pautado pela falta de ética e golpismo e de um governo estadual bizarro capitaneado por Sartori e seus seguidores volta-se agora para reflexões que já deveriam ter sido efetuadas anteriormente, tipo: Somente há verdade em nossas propostas? Estamos isentos aos erros estratégicos? Como devem ser encaradas as coligações e demais negociações partidárias? Como amplificar nossas vozes? e tantas outras indagações que o resultado nas urnas acabou impondo.
Durante essas reflexões, algumas pessoas vêm destacando certa postura arrogante da esquerda abstendo-se do diálogo, o que em parte, concordo e visualizo. Mas e aquelas pessoas que nos chegam dispostas a não ter diálogo? Que nos chegam com toda sorte de preconceitos enraizados e nenhuma perspectiva de aceitar algo fora do padrão heteronormativo, do seu grupo étnico, ou da sua classe social? Pessoas que gritam diante de nós clamando pela volta da ditadura militar? Pessoas que se enfurecem com programas sociais e se calam diante das mamatas inaceitáveis dos Políticos e dos Magistrados?
São dúvidas que a minha reflexão me traz e confesso me sentir um tanto quanto impotente em como dirimi-las, mas algo é certo, é imperioso que a esquerda reflita em conjunto, troque experiências e que paulatinamente em nosso cotidiano apare essas arestas e consiga se comunicar com parte desse grupo mais intransigente, pois o País contempla a todos e não apenas os que comungam de sonhos de um mundo mais plural e amplamente respeitado.
Saber ouvir é fundamental, para que possamos aos poucos também ser ouvido. Enfim não colocar em um balaio de gatos os pensamentos destoantes, sob o risco de continuarmos perdendo espaços fundamentais e por via de regra perdermos todos enquanto sociedade.
Afinal de contas onde está escrito que um adversário ideológico está proibido de ter ideias plausíveis? Ou nos reinventamos ou podemos ficar alijados das esferas que decidem, pois a “Direita” soube cooptar um público que nem era tão extremista e soube se articular para se solidificar eleitoralmente e definir as políticas de acordo com suas convicções.





quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A instituição escola e o aluno do século XXI.

A instituição escola e o aluno do século XXIl.

Letícia Roxo é licenciada em História pela FAPA, professora da rede pública estadual.

A sociedade, com o passar de algumas décadas, se transformou muito, prioriza a agilidade, informação, tecnologia. A escola neste contexto também mudou, em parte. Temos alunos que pertencem a sociedade moderna, com características atuais, mas uma instituição que ainda não se adaptou a essa realidade na sua totalidade.

            Atualmente, o aluno tem informação disponível em vários meios, tais como, televisão, internet, revista, jornal. E ele utiliza destes meios todos, muitas vezes, ao mesmo tempo. O que lhe proporciona absorver a informação, mas o que não significa compreendê-la e interpretá-la. O aluno busca agilidade, rapidez e as multitarefas realizadas ao mesmo tempo. Este aluno representa a sociedade atual. Nos dias de hoje não há como conseguir fugir da tecnologia. Ela está presente em todos os lugares: autoatendimento do banco, supermercado, cinema, no celular. Nada mais justo que a escola se adapte a nova era e passe a usufruir destas ferramentas tecnológicas, pois os alunos já as utilizam e parecem estar a “anos-luz” a nossa frente.

            No entanto a escola precisa se reformular, se adaptar a essa realidade. Temos ainda muitas dificuldades pedagógicas e culturais para tanto. Temos uma escola, ainda conteudista, rígida no que se refere a currículo, antiquada tecnologicamente e com algumas resistências a modernização. Embora tenhamos muitos professores buscando inovar, se qualificar, trabalhar utilizando novos recursos e modernizar suas metodologias, ainda percebemos uma grande resistência docente.

            Infelizmente a escola não avançou muito em relação ao avanço da tecnologia, da mudança do perfil do aluno, e do interesse curricular sobre essa nova realidade. Precisamos entender este processo para intervir nele.  Cabe a nós fazermos parte da sociedade tão ágil e moderna.

            O professor, na grande parte, tem interesse em se modernizar, em utilizar novos recursos e modificar sua prática em sala de aula para atender esse novo aluno. Porém não sabe exatamente como fazer, ele clama por ajuda, formação, qualificação. Precisamos de exemplos, de incentivo, de infraestrutura para podermos nos atualizar.

            O papel da equipe diretiva e da mantenedora da instituição de ensino neste contexto é apoiar seus professores, incentivar e divulgar formações continuadas, fazer um levantamento dos docentes que necessitam de ajuda e os que podem ajudar fazendo uma rede de cooperação intra e extraescolar. Da mesma forma a escola necessita fazer um levantamento do perfil dos seus alunos, conhecer seu contexto social, suas habilidades e interesses. Não esquecendo a parte física das escolas, procurar manter seus acervos atualizados, laboratório de informática funcionando. Materiais e equipamentos diversos solicitados pelos professores. Sabemos da dificuldade de se administrar os recursos escassos do governo, mas é necessário ter prioridades.

            Quanto a minha atuação profissional diante desta realidade tão complexa é a de buscar, sempre que possível, atender as necessidades dos meus alunos, com as ferramentas que tenho disponíveis. Procuro trabalhar o conteúdo curricular que me é imposto relacionando com a atualidade. Realizando trabalhos diferenciados em sala de aula. Mas muitas vezes vejo o que é necessário ser feito, mas sou barrada na dúvida de como fazer. Procuro me atualizar, fazer cursos, mas ainda estou engatinhando no que diz respeito a práticas mais condizentes com a essa nova perspectiva de sociedade e de aluno. Procuro pesquisar com os alunos seus interesses e como gostariam de realizar tal tarefa. Promovendo a interatividade e a participação em sala de aula, mudando muitas vezes meu planejamento para anexar ideias de alunos e colegas. Compreendo a necessidade de alteração do meu plano e tento, sempre que possível, alterá-lo para atender as necessidades e expectativas dos alunos. Sinto-me satisfeita quando os resultados e objetivos são alcançados, mas um pouco desconfortável com certas mudanças que fogem completamente do meu campo de domínio. O que analisando mais friamente, chego à conclusão de que é normal, pois certas situações nos tiram da “zona de conforto”, nos fazem conhecer o temido desconhecido.

            Como aprendiz sou curiosa, o que acredito que seja o primeiro impulso para o aprendizado. Minha prática docente me faz procurar conhecimentos múltiplos para atender meus alunos. Sou adepta das inovações, da tecnologia, recursos digitais e procuro conhecer os que se apresentam disponíveis para a ação da minha profissão. Percebo a necessidade de ampliar e colocar em exercício minhas ideias pedagógicas. Pois, realmente, acredito que o uso de ferramentas como internet, computador, celular podem ajudar a desenvolver a aprendizagem dos nossos alunos, qualificando o conhecimento que constroem.

            Mas a realidade ainda nos mostra que a maioria dos professores está intimidada pela necessidade de aprendizado tecnológico e que luta contra o uso, pela falta de conhecimento. Acredito que a vontade de mudar do professor e a escola são a chave para a transformação. E que as formações, os cursos, as trocas de experiências veem ao encontro dessa mudança tão desejada por nós que pensamos e realizamos a prática pedagógica. Afinal, nunca é tarde para aprender, para agregar ferramentas, métodos. Cabe a nós, professores, sermos agentes transformadores.  

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Espaços de luta marcados pela divisão: Reflexões acerca da atual conjuntura de ataques ao magistério gaúcho e a fragmentação do Cpers Sindicato.

Espaços de luta marcados pela divisão: Reflexões acerca da atual conjuntura de ataques ao magistério gaúcho e a fragmentação do Cpers Sindicato.

Sérgio Pires é Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e bacharelando em Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Quem, assim como eu, está chegando na casa dos 40 anos, deve recordar bem das grandes greves do magistério gaúcho, que através de um dos maiores sindicatos da América Latina, o Cpers Sindicato, mobilizava as lutas da categoria, e dessa maneira conseguiram, mais do que manter direitos, conquistar outros tantos.

Ao ingressar no sindicato, enquanto trabalhador em educação, termo esse que desagrada uma parcela da categoria, mas que busca ser um agregador de outras categorias que compõe o quadro de pessoal das escolas, como os servidores, sejam de secretários, monitores, merendeiras e serventes, no entendimento que todas as funções exercidas no interior das escolas é de igual e fundamental importância.

A medida em que participava das reuniões de núcleo, pude observar que existe, dentro do sindicato, um grande número me correntes ideológicas, muitas delas vinculadas a partidos políticos, mas o que me chamou atenção de fato, não foi essa pluralidade de pensar, uma vez que isso é perfeitamente normal e fundamental nos processos democráticos em todas as esferas, mas sim foi a grande concorrência entre essas correntes, não apenas na disputa de ideias e articulações de luta, mas, principalmente, pela tomada do aparelho sindical.

Essas disputas, que ficam muito mais latentes nas eleições de núcleo, direção central e conselhos, possuem todas as práticas das disputas político-partidárias, ou seja, o que se observa nas disputas partidários pelo executivo e legislativo, com candidatos fazendo uso de discursos acusatórios no lugar de discursos propositivos, também se observa das disputas internas do sindicato.

Essa constatação que trago, não é feita apenas por meio de observação, mas sim de uma experiência real, oriunda de minha participação na disputa pela diretoria de determinado núcleo.

 Muito fiquei espantado ao ver outrora companheiros de assembleias e caminhadas ao Piratini, se defrontando, não pela disputa propositiva, mas sim através de conchavos, mentiras e ataques pessoais, que em nada acrescentavam em um debate político-sindical sério e propositivo.

Anos mais tarde, na minha primeira graduação em Ciências Sociais, foi que pude compreender o que motivava tal acirramento, especialmente pela leitura de um autor chamado Robert Michells. Na sua “Lei de Bronze das Oligarquias”, ele nos mostra, a partir de sua análise da política sindical na Europa, o quanto, na medida em que se apodera da máquina sindical, mais o partido ou movimento ideológico que o aparelhou se distancia de suas bases, e dessa maneira, o foco principal das lutas mobilizadas pelo sindicato já não mais representa os interesses da categoria, mas sim a manutenção do aparelhamento do aparato sindical por essas correntes ou partidos.

Confesso que me afastei da atividade sindical, muito pela desilusão sofrida no processo eleitoral, que imaginei de forma totalmente diferente, e também pela escassez de tempo que um aluno de ensino superior normalmente tem, ainda mais aqueles, como eu, que conciliaram toda a graduação com família e trabalho.

Mesmo estando de fora das atividades, tenho observado atentamente o desenrolar das tentativas de mobilização do Cpers nestes últimos dois anos, e pude perceber, de modo muito claro, como essas disputas internas aumentaram no atual contexto político, tanto estadual, quanto federal.

Vivemos um período que ficará marcado na história, em que nossa democracia representativa sofreu uma grande derrota, onde uma presidenta, eleita democraticamente pela maioria dos eleitores, sofreu um processo de impedimento, com embasamentos políticos e não jurídicos justificando este processo. No mesmo período, começaram de forma mais forte os ataques ao funcionalismo gaúcho, através de políticas, que segundo o governo, visam sanar os cofres do estado.

Nesses dois casos, podemos observar as atuações, dentro do sindicato, dos núcleos e da direção central. No caso do processo de impedimento da presidenta Dilma, a direção central, assim como outros sindicatos, mobilizou-se contra o golpe, ao passo que, nos núcleos de oposição, o discurso era outro, voltado para que fossem realizadas novas eleições.

Pois bem, quando se trata dos ataques a diversas categorias dos servidores públicos estaduais, a direção central tem tentado construir agendas de luta e mobilização, através da realização de paralisações, aulas abertas à comunidade, conversas com os alunos para que estes possam conhecer os motivos da mobilização, até culminarmos essas ações em uma assembleia geral, muito importante, que definirá os rumos das lutas e possível greve no final do ano letivo. Contudo, essa articulação não encontra eco nos núcleos de oposição, que não estão construindo na base a mobilização da categoria para aderir a esses planos de luta propostos pela central, o que mostra o alto grau de fragmentação do sindicato.

Esta fragmentação tem proporcionado vitórias a apenas 1 interessado: o governo, que, estando bem articulado, tanto nas secretarias quanto no legislativo estadual, prepara um grande pacote de maldades que atingirá o funcionalismo de tal modo que o transformará, se encaminhado para a extinção dos serviços públicos, em uma política de estado mínimo, carro chefe da ideologia política dos partidos de direita.

Este é um momento de grande perigo, em que precisamos de todos construindo a luta, e para tanto, faz-se necessário urgentemente, a união dos partidos ou movimentos ideológicos de esquerda que formam esse sindicato, que dirigem núcleos ou que integram os conselhos. Somente com uma forte coesão, uma articulação com a base, séria e comprometida, podemos fazer frente a esses ataques que visam retirar nossos direitos enquanto servidores públicos, e barrar a precarização e o sucateamento do setor públicos gaúcho, garantindo assim a população serviços de qualidade.

Que nossas disputas internas sejam esquecidas ao menos por um momento, e concentremos nossas forças em nome de um bem maior para todos!!

Capitalizando lucros e socializando misérias. O hibridismo de um Governo irresponsável



Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS


Capitalizando lucros e socializando misérias. O hibridismo de um Governo irresponsável


Quem são os amigos de Sartori? Para quem ele governa? Por que ele pretende destruir o funcionalismo público gaúcho? Seria Sartori e seus aliados pertencentes a um grupo de alienígenas dispostos a mensurar a capacidade de resistência do ser humano diante de uma administração patética e nociva? Essas e outras perguntas você descobrirá no programa “Um tolo repórter” na programação da sua querida Rede Bobo de televisão.
Os ataques constantes e inconsequentes que a administração de José Ivo Sartori vem fazendo ao funcionalismo público gaúcho, são mais do que uma solução simplista e inadequada frente a um problema de fluxo de caixa. Ao tensionar a vida de milhares de trabalhadores com calotes vergonhosos, privatizações, extinções de empresas o homem do “Meu partido é o Rio Grande” atira contra o seus próprios pés.
Repassando uma noção básica de primeiro semestre de economia ou administração, o equilíbrio por mais necessário que seja não pode simplesmente suprimir totalmente a economia interna dentro de uma cidade, estado ou nação, é necessário que internamente relações comerciais se estabeleçam propiciando a fluidez de um caixa que não está ligado diretamente a exportações e por isso precisa movimentar o dinheiro que se traduz em mais arrecadação e condição de investimentos básicos.
Ao perseguir os mais desfavorecidos Sartori deixa de aquecer o mercado interno e do ponto de vista político deixa de atender os princípios de uma administração pública decente e lembrando ao ilustre Governador que a função do estado “primeira” não é a de gerar lucros, mas sim a de garantir condições básicas a população do estado que ele governa.
Sem segurança as pessoas não circulam, sem salários as pessoas não consomem, sem investimentos na saúde as pessoas morrem, sem investimentos na educação fomentamos mais a criação de analfabetos funcionais, ou , talvez ai esteja a sacada, fomentamos a criação de eleitores do Sartori e outros da mesma estirpe, enfim o caos gerado por alguém que deveria buscar soluções plausíveis ao invés das batidas decisões neoliberais de simplesmente encolher o estado e deixar que as pessoas se virem buscando através da estimulada “meritocracia” um lugar ao sol com protetor, guarda-sol e cervejinha gelada.
A agenda neoliberal brasileira prega como tábua de salvação as privatizações, mas desde que eles fiquem com o lucro, pois quando surgem os prejuízos os neoliberais brasileiros fazem questão de repartir o custo com os mais pobres, ou seja sempre capitalizando as benesses e socializando as durezas com o restante da população.
Sartori cumpre a risca essa agenda Neoliberal sonhada pelos Tucanos e capitaneada pelo golpista mor que ocupa a presidência do Brasil e o PMDB cumpre também a risca o seu papel de ave de rapina sempre dilapidando e deixando em maus lençóis não apenas os incautos que votam em sua legenda, mas também a outros brasileiros que assistem na primeira fila a derrocada da nação sem poder intervir.

  O slogan de Sartori deveria ser: “Meu partido é o golpe, a agenda neoliberal e o atendimento dos fetiches do planalto” bem mais coerente do que se dizer do Rio Grande.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Tolkien e o Cenário Político Brasileiro: Ficção e Realidade em uma breve analogia entre a Terra Média e a Terra Brasílis.

Tolkien e o Cenário Político Brasileiro: Ficção e Realidade em uma breve analogia entre a Terra Média e a Terra Brasílis.

Sérgio Pires é Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Bacharelando em Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia, pela UFRGS.

Para os amantes do cinema, assim como eu, apreciar bons filmes é uma prática que nos traz satisfação e prazer. Nada mais deleitoso para um cinéfilo que entrar nas grandes salas de cinema (que confesso, sou saudosista dos cinemas de bairro), e deparar-se com a tela grande, sentar-se confortavelmente em sua poltrona e esperar o início do filme; ou ainda, encontrar, em meio a dezenas de títulos, aquele filme, a muito tempo assistido, e que a muito tempo se buscava...é quase como encontrar um tesouro de grande valor.

Os filmes servem para nosso entretenimento, para nos transportar para outras dimensões e realidades não imaginadas, ou, de modo mais enfático, nos mostrar duras realidades vividas por personagens, reais ou fictícios, nos proporcionando as mais variadas reações: desde risadas descontroladas até lágrimas que nossos olhos deixam escapar...essa é a magia do cinema, que tem a capacidade de tocarmos profundamente e de mexer com nossas emoções.

Dentre as centenas de filmes que já assisti, uma trilogia me marcou muito, e que, seguramente, já devo ter assistido mais de 20 vezes, com a mesma empolgação da primeira: O Senhor dos Anéis (The Lord of the rings). Desde sua estreia no cinema até o lançamento do terceiro e último da trilogia, assisto admirado pela criatividade inventiva de Tolkien, criador da estória, que com sua obra descortinou em nossa frente um mundo repleto de personagens marcantes e uma estória fantástica...

Nestes últimos meses, enquanto realizava minhas “Jornadas Senhor dos Anéis” - quem é cinéfilo sabe do que estou falando - pude observar de modo mais atento o enredo, bem como o desenvolver da trama, e não pude deixar de traçar um paralelo entre a ficção de Tolkien e o cenário político de nosso país. Existem muitas semelhanças, como veremos a seguir:

1)    A Terra Média vivia tempos de paz, com sua diversidade de povos e culturas – homens, elfos, anões, hobbits, ents, etc. Nesse período foram forjados os “anéis de poder”, distribuídos a cada liderança dos povos. Até que uma grande ameaça surgiu: Sauron, o senhor da escuridão, havia forjado em segredo um anel mestre, e colocou nele toda a sua essência, um anel para todos dominar. Sentindo-se fortalecido e reunindo seus exércitos, planejava tomar a Terra Média e subjugar os povos. Em uma grande união para defender sua liberdade, os povos confrontaram as tropas de Sauron, saindo-se vitoriosos contra a escuridão de Mordor. Contudo, o “Um Anel”, não fora destruído, mantendo assim a ameaça do retorno de Sauron. E assim a vida seguiu, enquanto o anel esperava o tempo certo para voltar.

O Brasil vivia sua jovem democracia, com sua diversidade de ideologias políticas, contudo, as classes conservadoras, possuidoras de grande poder econômico e sentindo-se ameaçadas pelas políticas populistas do Governo Jango e desprovidas de cargos nas esferas de poder, uniram-se para derrubar esse governo, cooptando a grande mídia, comprometida e interesseira, criando e propagando o monstro da “invasão comunista no Brasil”, setores conservadores da sociedade brasileira, e junto com os militares (que em suas altas patentes tem membros oriundos dessas classes mais abastadas), foi dado o golpe civil-militar de 1964. Após o período de sombras da ditadura, com a abertura, voltamos a ter um governo democrático, com eleições diretas posteriormente, e a diversidade de ideologias políticas pode se fazer presente novamente, sem riscos a quem “pensar diferente”.

Analogia: Nesse primeiro momento, podemos comparar as fases do filme e de nossa história: A diversidade dos povos da Terra Média pode ser comparada com a pluralidade do pensamento político que existia no Brasil antes do Golpe de 64, que apesar de suas diferenças, se uniram em prol do bem comum, no caso, o fim do regime. A grande sombra de Mordor, que avançava sobre a Terra Média, é a onda conservadora no Brasil, que avançou muito no período pré-golpe. Os anéis de poder podemos comparar com as negociações internas de nossa política partidária, onde em troca de poder, determinados grupos ficam comprometidos com o grupo hegemônico, em um sistema de troca, mesmo que isso entre em conflito com os princípios ideológicos. Os exércitos de Orcs pode ser comparado com as grandes massas que, insufladas pela grande mídia, saíram as ruas por “Deus, Pátria e Família”.  E, por fim, quando o anel se perde nos riachos da Terra Média, trazendo um período de paz, podemos comparar com o período de abertura e o retorno das eleições diretas.

2)    O Anel de Poder é descoberto por Smeagoll, do Povo do Rio, sua cobiça pelo anel o faz matar, e por isso banido para as montanhas. O anel tem vontade própria, e se esforça para ser encontrado, e isso acontece através da mais improvável das criaturas, um hobbit chamado Bilbo. Ele o leva para o Condado. Nesse tempo, as forças de Sauron se reagruparam, e aumentaram seu número com novas alianças, almejando um novo confronto com os povos da Terra Média, que foi pouco a pouco tomada pela escuridão de Mordor, e auxiliado pelos Nazgul, os exércitos de Sauron foram tomando cidade por cidade, com o objetivo de subjugar a todos.

A reconstrução da democracia no Brasil foi um processo longo, ainda em curso eu diria, por ser uma jovem democracia em comparação com outros países. Contudo, muito do que se via na política, refletia o quanto a sociedade brasileira era desigual, apresentando abismos gigantescos entre os que tinham muito, e os que nada tinham. Questões como o acesso a saúde de qualidade e educação eram verdadeiros empecilhos para se desenvolver uma cidadania de fato para a grande maioria da população do país. Esse cenário sofreu alterações com a eleição de um governo de esquerda, popular, ainda que distanciado de sua essência, mas que, no decorrer de seus mandatos, pode criar políticas de distribuição de renda, de acesso a saúde, assim como de acesso ao ensino superior aos mais pobres, trazendo assim uma certa equidade, ainda que em um grau muito pequeno, nas relações sociais.

Analogia: Nessa segunda parte, podemos ver que, assim como Sauron, a classe conservadora do Brasil ficou recuada, se reestruturando, cooptando novos seguidores e simpatizantes de sua ideologia. Os grandes Caciques da política brasileira, que aqui podemos compará-los aos Nazgul, arregimentaram seus exércitos de eleitores, novas alianças foram construídas.

Podemos fazer uma comparação de Saruman com as classes médias, que, tendo um crescimento no poder econômico, pensou que pertenciam a classe alta, e se rebelaram contra o governo que os beneficiou, assim como Saruman ao se aliar a Sauron e esquecer as alianças com os povos da Terra Média.

Bilbo, em nossa interpretação, representa as alianças erradas em uma política de coalisão, os erros estratégicos na política, que fazem com que o poder corra o risco de cair em mãos erradas. Smeagol pode ser comparado com aqueles políticos que articularam o novo golpe, que almejam o poder a qualquer custo, pois sempre o perseguiram.

Quando a arte imita a vida...

            Do mesmo modo como na trilogia “Senhor dos Anéis”, a política brasileira atravessa por um período de grandes e sérios conflitos. A grande sombra que emana de Mordor está se espalhando pelo nosso país, conquistando cidade por cidade...

            A grande “Onda Conservadora”, representada por aqueles grupos sociais que detém a hegemonia do poder econômico, teve, desde a abertura democrática, tempo para recuar, se fortalecer e se reestruturar, e agora, assim como as sombras de Mordor, essa onda está avançando pelo país inteiro. Esse movimento teve início quando, em um erro imperdoável de estratégia, um partido que representa essa onda, teve acesso aos círculos decisórios do país, e assim como o “Um Anel” traiu Isildor, este partido promoveu um golpe político para tomar o poder, e o conseguiu. Essa foi a primeira batalha perdida para a escuridão. A segunda batalha foi perdida nas eleições municipais, onde os caciques políticos (nazgul), conseguiram eleger seus comandados, espalhando ainda mais a escuridão da onda conservadora, que assim como na trilogia, essa onda não tem como objetivo apenas dominar, mas sim transformar a seu bel prazer o mundo a sua volta, e o está fazendo.

             Na ficção ainda podemos contar com heróis como Aragorn, Legolas, Gimli, Frodo, Sam e Gandalf, mas, e na vida real? Com quem podemos contar? Cada um de nós terá que ser um pouco como eles nesta grande luta que já se iniciou. E quanto aos nossos povos (partidos de oposição)? Estarão unidos? Marcharão novamente contra os exércitos de Sauron? Esse é sem dúvida o principal questionamento acerca da resistência aos ataques que não param. O quanto estamos coesos e unidos para lutarmos juntos contra a escuridão que encobre o céu de nosso país, estado e município? Que possamos fazer essa reflexão fundamental para os próximos capítulos de nosso filme da vida real.



quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A intolerância nossa do dia a dia e os desdobramentos reacionários no atual contexto brasileiro

A intolerância nossa do dia a dia e os desdobramentos reacionários no atual contexto brasileiro



Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS


Divergir e não partir para agressão física ou verbal, ou ao menos manter o respeito e a polidez no embate do campo das ideias, deveria ser algo natural, pelo menos no século XXI, visto que o processo de evolução nos remete a este estágio.
                   No atual contexto brasileiro onde o caos político gerado por um governo impopular e golpista, acaba deflagrando diariamente um terreno de disputa acirrado entre variados grupos sociais e nesse ínterim parece estar se tornando corriqueiro a ação direta da cólera como mediação e veredicto final para os embates ideológicos.
           Cada vez mais os posicionamentos à direita ou à esquerda se pautam por uma intolerância e truculência demasiada em relação ao seu oposto e se pautam menos em leituras e releituras dos seus principais pensadores, para balizarem-se nos preceitos do senso comum, e o que é pior, além de reproduzirem um pensamento superficial e demasiadamente incompleto, tentam impô-lo com a intenção de praticamente excluir o adversário da existência.
              Não acredito em neutralidade ideológica, no momento em que nos propomos a discutir determinado ponto, estaremos trazendo todas as nossas referências e preferências em relação ao tema discutido, porém não desejo apagar da existência o meu opositor ideológico, quiçá contribuir com meu ponto de vista e se por ventura a razão estabelecer-se em meus argumentos.
              O caso do pai que assassinou o filho em Goiás e logo após cometeu suicídio por divergências ideológicas já é profundamente lamentável do ponto de vista humanístico, e o que o torna mais bizarro foram as repercussões em determinados “perfis das redes sociais” de apoio a tal atitude esdrúxula, colocando o pai como vítima de um filho “vagabundo” que lhe causara tamanho desgosto, aliás, se tratando de termos pejorativos a grande mídia contribui de maneira sistemática com sua cobertura totalmente parcial ao adjetivar negativamente os movimentos sociais que no atual contexto brasileiro lutam contra uma série de medidas austeras e descabidas. Boa parte dos grandes jornais costuma dizer que as ocupações nas Universidades e Escolas brasileiras , por exemplo, são transtornos e em algumas vezes noticiam até que baderneiros estão prejudicando os alunos que querem estudar e dessa forma vai se disseminando em cada conversa de “boteco”, em cada perfil de rede social, em cada futebol com a turma no final do expediente uma grande animosidade de ambas as partes.
              Eu na dúvida sempre converto a esquerda, mas isso não me confere o direito de querer exterminar o pensamento contrário e para não desejar isso, vigio-me e leio constantemente sobre as pautas que o cotidiano propõe antes de sair com uma metralhadora de conceituações empíricas e distantes do real conhecimento.


          Em tempos: Não preciso odiar meus adversários ideológicos é bem mais fácil solidificar os meus conceitos e contribuir para que aquilo que considero melhor possa ser estendido ao coletivo, até por que o dissolução só deveria acontecer no campo intelectual e nunca transferir-se e extinguir o respeito pelo meu próximo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Trump Lá, Bolsonaro aqui? Talvez


Professor  Eduardo Schutz, Licenciado em História pela Universidade Luterana do Brasil e Bacharelando em História pela UFRGS

  Trump Lá, Bolsonaro aqui? Talvez!
Sem dúvida alguma, a eleição de Donald Trump chocou o mundo ocidental. Mesmo não dispondo de grande simpatia de considerável parte do eleitorado estadunidense – agora sabemos que da maioria, ao menos daqueles que foram às urnas -, Hillary Clinton era esperada como a provável sucessora da Barack Obama à Casa Branca.
Todos nos enganamos! A Vitória abraçou Trump.
A vitória de Trump está sendo contestada por milhares de manifestantes nos EUA. Desde o anúncio final, muitos se manifestam nas ruas e contestam a eleição do bilionário. No Brasil, um dos mais polêmicos representantes da extrema direita, o deputado federal Jair Bolsonaro, já declarou sua satisfação com a eleição estadunidense e disse que o Brasil seguirá o mesmo caminho em 2018. Sua fala reforça a ideia que o mesmo tem de participar do próximo pleito eleitoral para concorrer ao Planalto gerando plêiade de sentimentos divergentes na sociedade brasileira. De um lado há os grupos que apoiam Bolsonaro, muitos em virtude das fortes críticas tecidas pelo deputado ao PT e a ex-presidenta Dilma, ou por serem simpatizantes da Ditadura Militar ou mesmo de pautas reacionárias e conservadoras como a proibição da união homoafetiva, aborto, etc, mas há também aqueles que se opõem às posturas homofóbicas, machistas e racistas do parlamentar e que constantemente as denunciam nas instâncias cabíveis.
Trump lá, Bolsonaro aqui? Talvez! Existem tantas semelhanças entre os dois casos? Será que as chances de eleição do referido deputado são reais? Mas afinal, os estadunidenses elegeram Donad Trump por não saberem votar? E aqui no Brasil, sabemos votar ou não? Parece-nos que tal questão é permeada por uma ideia equivocada sobre a capacidade de escolha dos eleitores lá e aqui. Existe quem saiba votar e quem não saiba votar? Como definir? Eu sei e o outro não sabe. Assim, muitos de nós justificamos os problemas do país. Gostamos de dizer “o povo é burro e não sabe votar”, agora dizem “os ‘americanos’” são burros também, não sabem votar. E quem, pelo amor de Rá, sabe votar? Todos sabem votar!
O resultado eleitoral nos EUA demonstra que grande parte dos eleitores se identifica com muitas ideias defendidas pelo candidato eleito – ou que não tenham simpatia pelo que Hillary Clinton representava politicamente -, consideremos elas boas ou ruins. No Brasil, Bolsonaro ganha a simpatia de muitas pessoas, pois há em nossa sociedade um extrato considerável de indivíduos que odeiam o PT – mesmo que por influência da mídia -, que são homofóbicos, machistas e racistas. Deliram sobre os governos militares achando que a situação do país era melhor naquele período, mas desconhecem de fato o que se passou na Ditadura. Nos EUA, muitos são xenófobos, por isso votaram em Trump. Discordamos daqueles que justificam tais escolhas por burrice ou pela famigerada denúncia de não saber votar. Todos votam conforme seus interesses, alguns com maior ou menor clareza sobre seu candidato, seja por ingenuidade ou por desinteresse ou descrença no sistema.
Os quase 14 anos do PT no poder parece não ter ensinado muito ao partido e as esquerdas de uma forma geral, a direita vem conquistando seu espaço no Estado novamente, a esquerda parece desacreditada e sem saber o que fazer.


O processo democrático nos prega peças, muitas vezes nós mesmos nos pregamos peças eleitorais. Se toda a vez que as urnas nos apresentarem um resultado contrário àquele que gostaríamos e nos limitarmos a dizer que “as pessoas não sabem votar!” Bom, aí temos um grande problema, a falta de reflexão. A esquerda precisa se reorganizar no Brasil caso queira ser capaz de evitar que nomes como Bolsonaro ou de qualquer outro representante da direita conservadora, seja liberal ou não, venha a se eleger como presidente em 2018.