Espaços
de luta marcados pela divisão: Reflexões acerca da atual conjuntura de ataques
ao magistério gaúcho e a fragmentação do Cpers Sindicato.
Sérgio Pires é Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e bacharelando em Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Quem,
assim como eu, está chegando na casa dos 40 anos, deve recordar bem das grandes
greves do magistério gaúcho, que através de um dos maiores sindicatos da
América Latina, o Cpers Sindicato, mobilizava as lutas da categoria, e dessa
maneira conseguiram, mais do que manter direitos, conquistar outros tantos.
Ao
ingressar no sindicato, enquanto trabalhador em educação, termo esse que
desagrada uma parcela da categoria, mas que busca ser um agregador de outras
categorias que compõe o quadro de pessoal das escolas, como os servidores,
sejam de secretários, monitores, merendeiras e serventes, no entendimento que
todas as funções exercidas no interior das escolas é de igual e fundamental
importância.
A
medida em que participava das reuniões de núcleo, pude observar que existe,
dentro do sindicato, um grande número me correntes ideológicas, muitas delas
vinculadas a partidos políticos, mas o que me chamou atenção de fato, não foi
essa pluralidade de pensar, uma vez que isso é perfeitamente normal e
fundamental nos processos democráticos em todas as esferas, mas sim foi a
grande concorrência entre essas correntes, não apenas na disputa de ideias e
articulações de luta, mas, principalmente, pela tomada do aparelho sindical.
Essas
disputas, que ficam muito mais latentes nas eleições de núcleo, direção central
e conselhos, possuem todas as práticas das disputas político-partidárias, ou
seja, o que se observa nas disputas partidários pelo executivo e legislativo,
com candidatos fazendo uso de discursos acusatórios no lugar de discursos
propositivos, também se observa das disputas internas do sindicato.
Essa
constatação que trago, não é feita apenas por meio de observação, mas sim de
uma experiência real, oriunda de minha participação na disputa pela diretoria
de determinado núcleo.
Muito fiquei espantado ao ver outrora companheiros
de assembleias e caminhadas ao Piratini, se defrontando, não pela disputa
propositiva, mas sim através de conchavos, mentiras e ataques pessoais, que em
nada acrescentavam em um debate político-sindical sério e propositivo.
Anos
mais tarde, na minha primeira graduação em Ciências Sociais, foi que pude
compreender o que motivava tal acirramento, especialmente pela leitura de um
autor chamado Robert Michells. Na sua “Lei de Bronze das Oligarquias”, ele nos
mostra, a partir de sua análise da política sindical na Europa, o quanto, na
medida em que se apodera da máquina sindical, mais o partido ou movimento ideológico
que o aparelhou se distancia de suas bases, e dessa maneira, o foco principal
das lutas mobilizadas pelo sindicato já não mais representa os interesses da
categoria, mas sim a manutenção do aparelhamento do aparato sindical por essas
correntes ou partidos.
Confesso
que me afastei da atividade sindical, muito pela desilusão sofrida no processo
eleitoral, que imaginei de forma totalmente diferente, e também pela escassez
de tempo que um aluno de ensino superior normalmente tem, ainda mais aqueles,
como eu, que conciliaram toda a graduação com família e trabalho.
Mesmo
estando de fora das atividades, tenho observado atentamente o desenrolar das
tentativas de mobilização do Cpers nestes últimos dois anos, e pude perceber,
de modo muito claro, como essas disputas internas aumentaram no atual contexto
político, tanto estadual, quanto federal.
Vivemos
um período que ficará marcado na história, em que nossa democracia
representativa sofreu uma grande derrota, onde uma presidenta, eleita
democraticamente pela maioria dos eleitores, sofreu um processo de impedimento,
com embasamentos políticos e não jurídicos justificando este processo. No mesmo
período, começaram de forma mais forte os ataques ao funcionalismo gaúcho,
através de políticas, que segundo o governo, visam sanar os cofres do estado.
Nesses
dois casos, podemos observar as atuações, dentro do sindicato, dos núcleos e da
direção central. No caso do processo de impedimento da presidenta Dilma, a
direção central, assim como outros sindicatos, mobilizou-se contra o golpe, ao
passo que, nos núcleos de oposição, o discurso era outro, voltado para que
fossem realizadas novas eleições.
Pois
bem, quando se trata dos ataques a diversas categorias dos servidores públicos
estaduais, a direção central tem tentado construir agendas de luta e
mobilização, através da realização de paralisações, aulas abertas à comunidade,
conversas com os alunos para que estes possam conhecer os motivos da
mobilização, até culminarmos essas ações em uma assembleia geral, muito
importante, que definirá os rumos das lutas e possível greve no final do ano
letivo. Contudo, essa articulação não encontra eco nos núcleos de oposição, que
não estão construindo na base a mobilização da categoria para aderir a esses
planos de luta propostos pela central, o que mostra o alto grau de fragmentação
do sindicato.
Esta
fragmentação tem proporcionado vitórias a apenas 1 interessado: o governo, que,
estando bem articulado, tanto nas secretarias quanto no legislativo estadual,
prepara um grande pacote de maldades que atingirá o funcionalismo de tal modo
que o transformará, se encaminhado para a extinção dos serviços públicos, em
uma política de estado mínimo, carro chefe da ideologia política dos partidos
de direita.
Este
é um momento de grande perigo, em que precisamos de todos construindo a luta, e
para tanto, faz-se necessário urgentemente, a união dos partidos ou movimentos
ideológicos de esquerda que formam esse sindicato, que dirigem núcleos ou que
integram os conselhos. Somente com uma forte coesão, uma articulação com a
base, séria e comprometida, podemos fazer frente a esses ataques que visam
retirar nossos direitos enquanto servidores públicos, e barrar a precarização e
o sucateamento do setor públicos gaúcho, garantindo assim a população serviços
de qualidade.
Que
nossas disputas internas sejam esquecidas ao menos por um momento, e
concentremos nossas forças em nome de um bem maior para todos!!
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