terça-feira, 22 de novembro de 2016

Espaços de luta marcados pela divisão: Reflexões acerca da atual conjuntura de ataques ao magistério gaúcho e a fragmentação do Cpers Sindicato.

Espaços de luta marcados pela divisão: Reflexões acerca da atual conjuntura de ataques ao magistério gaúcho e a fragmentação do Cpers Sindicato.

Sérgio Pires é Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e bacharelando em Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Quem, assim como eu, está chegando na casa dos 40 anos, deve recordar bem das grandes greves do magistério gaúcho, que através de um dos maiores sindicatos da América Latina, o Cpers Sindicato, mobilizava as lutas da categoria, e dessa maneira conseguiram, mais do que manter direitos, conquistar outros tantos.

Ao ingressar no sindicato, enquanto trabalhador em educação, termo esse que desagrada uma parcela da categoria, mas que busca ser um agregador de outras categorias que compõe o quadro de pessoal das escolas, como os servidores, sejam de secretários, monitores, merendeiras e serventes, no entendimento que todas as funções exercidas no interior das escolas é de igual e fundamental importância.

A medida em que participava das reuniões de núcleo, pude observar que existe, dentro do sindicato, um grande número me correntes ideológicas, muitas delas vinculadas a partidos políticos, mas o que me chamou atenção de fato, não foi essa pluralidade de pensar, uma vez que isso é perfeitamente normal e fundamental nos processos democráticos em todas as esferas, mas sim foi a grande concorrência entre essas correntes, não apenas na disputa de ideias e articulações de luta, mas, principalmente, pela tomada do aparelho sindical.

Essas disputas, que ficam muito mais latentes nas eleições de núcleo, direção central e conselhos, possuem todas as práticas das disputas político-partidárias, ou seja, o que se observa nas disputas partidários pelo executivo e legislativo, com candidatos fazendo uso de discursos acusatórios no lugar de discursos propositivos, também se observa das disputas internas do sindicato.

Essa constatação que trago, não é feita apenas por meio de observação, mas sim de uma experiência real, oriunda de minha participação na disputa pela diretoria de determinado núcleo.

 Muito fiquei espantado ao ver outrora companheiros de assembleias e caminhadas ao Piratini, se defrontando, não pela disputa propositiva, mas sim através de conchavos, mentiras e ataques pessoais, que em nada acrescentavam em um debate político-sindical sério e propositivo.

Anos mais tarde, na minha primeira graduação em Ciências Sociais, foi que pude compreender o que motivava tal acirramento, especialmente pela leitura de um autor chamado Robert Michells. Na sua “Lei de Bronze das Oligarquias”, ele nos mostra, a partir de sua análise da política sindical na Europa, o quanto, na medida em que se apodera da máquina sindical, mais o partido ou movimento ideológico que o aparelhou se distancia de suas bases, e dessa maneira, o foco principal das lutas mobilizadas pelo sindicato já não mais representa os interesses da categoria, mas sim a manutenção do aparelhamento do aparato sindical por essas correntes ou partidos.

Confesso que me afastei da atividade sindical, muito pela desilusão sofrida no processo eleitoral, que imaginei de forma totalmente diferente, e também pela escassez de tempo que um aluno de ensino superior normalmente tem, ainda mais aqueles, como eu, que conciliaram toda a graduação com família e trabalho.

Mesmo estando de fora das atividades, tenho observado atentamente o desenrolar das tentativas de mobilização do Cpers nestes últimos dois anos, e pude perceber, de modo muito claro, como essas disputas internas aumentaram no atual contexto político, tanto estadual, quanto federal.

Vivemos um período que ficará marcado na história, em que nossa democracia representativa sofreu uma grande derrota, onde uma presidenta, eleita democraticamente pela maioria dos eleitores, sofreu um processo de impedimento, com embasamentos políticos e não jurídicos justificando este processo. No mesmo período, começaram de forma mais forte os ataques ao funcionalismo gaúcho, através de políticas, que segundo o governo, visam sanar os cofres do estado.

Nesses dois casos, podemos observar as atuações, dentro do sindicato, dos núcleos e da direção central. No caso do processo de impedimento da presidenta Dilma, a direção central, assim como outros sindicatos, mobilizou-se contra o golpe, ao passo que, nos núcleos de oposição, o discurso era outro, voltado para que fossem realizadas novas eleições.

Pois bem, quando se trata dos ataques a diversas categorias dos servidores públicos estaduais, a direção central tem tentado construir agendas de luta e mobilização, através da realização de paralisações, aulas abertas à comunidade, conversas com os alunos para que estes possam conhecer os motivos da mobilização, até culminarmos essas ações em uma assembleia geral, muito importante, que definirá os rumos das lutas e possível greve no final do ano letivo. Contudo, essa articulação não encontra eco nos núcleos de oposição, que não estão construindo na base a mobilização da categoria para aderir a esses planos de luta propostos pela central, o que mostra o alto grau de fragmentação do sindicato.

Esta fragmentação tem proporcionado vitórias a apenas 1 interessado: o governo, que, estando bem articulado, tanto nas secretarias quanto no legislativo estadual, prepara um grande pacote de maldades que atingirá o funcionalismo de tal modo que o transformará, se encaminhado para a extinção dos serviços públicos, em uma política de estado mínimo, carro chefe da ideologia política dos partidos de direita.

Este é um momento de grande perigo, em que precisamos de todos construindo a luta, e para tanto, faz-se necessário urgentemente, a união dos partidos ou movimentos ideológicos de esquerda que formam esse sindicato, que dirigem núcleos ou que integram os conselhos. Somente com uma forte coesão, uma articulação com a base, séria e comprometida, podemos fazer frente a esses ataques que visam retirar nossos direitos enquanto servidores públicos, e barrar a precarização e o sucateamento do setor públicos gaúcho, garantindo assim a população serviços de qualidade.

Que nossas disputas internas sejam esquecidas ao menos por um momento, e concentremos nossas forças em nome de um bem maior para todos!!

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