quinta-feira, 13 de abril de 2017

A perda do senso crítico e a massificação nociva dos discursos inconsistentes




Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS







A perda do senso crítico e a massificação nociva dos discursos inconsistentes

          Confesso com muito pesar o meu temor em relação ao título dessa reflexão. O quadro global, mas buscando um recorte apenas do nosso país para não nos estendermos muito, vem sendo permeado por um contexto turbulento.

          Desigualdade social em grande crescimento, recessão econômica, hostilidades crescentes a grupos minoritários, crise política e institucional, enfim um quadro que dá força para quem traz em suas análises um viés pessimista, ou simplesmente realista para alguns. 

          O Grande Escritor Umberto Eco disse uma frase contundente e muito polemizada que “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis” , sem entrar no mérito ou juízo de valor dessa afirmativa, atrevo-me a usar essa frase como um ponto de partida reflexivo de como as tecnologias podem influenciar determinadas partes do coletivo, principalmente os que anseiam por protagonismo social, a formatarem suas opiniões e seus conhecimentos sem aterem-se aos veículos e a mecanização adequada para constituição adequada da sua opinião.

          O saber é plural em suas manifestações, advém tanto do empirismo cotidiano, da oralidade popular, da academia, mesmo que essa se distancie em determinados momentos do povo. E é justamente esse saber que vem da ciência, principalmente das humanas que detém a incumbência de refletir sobre a sociedade, que está sendo suprimido em todos os segmentos sociais.

          Dentro das próprias academias, cursos que também fazem ciência, mas não com intuito de refletir a sociedade, são os primeiros a desconsiderar quem se dedica a essa temática, talvez por isso Médicos recentemente formados repitam gestos constrangedores e machistas ao extremo em suas redes sociais, grupos de outros cursos hostilizem negros e índios nos campus que frequentam, enfim o que se passa na academia que deveria ser o berço do pensar e da pluralidade causa uma grande perplexidade.

          O cidadão fora da academia, envolvido com a labuta diária e o seu cotidiano, sem quase nada de tempo cedido pelo “Deus do Capital”, conhecido pelos nomes “Exploração dos empresários”, “Necessidade absurda de consumo” “Em busca de maior status”, e com doses nocivas e homeopáticas de “Jornal Nacional”, “Globo News”, “Revista Veja”, “Reality Shows variados” formará o conteúdo das suas opiniões de que forma?

          Livros ou leitores digitais beiram ao ultraje, não são mais necessários, basta seguir algum youtuber e de preferência nem assisti-lo na íntegra, a final basta compartilhar aquela postagem editada de 3min, aliás editada por alguém que tem interesses que o cidadão sequer entende. E nesse mosaico de informações fragmentadas e que passam léguas de uma boa leitura, de uma boa consulta, forma-se aquela frase que praticamente transformou-se em um mantra:

"É A MINHA OPINIÃO! EU NÃO CONCORDO E PRONTO. Seu petralha…, Seu coxinha…"

          Estamos nos encaminhando cada vez mais para um anacronismo, um reducionismo, uma dicotomia infrutífera, por que não lemos, não estudamos e apenas ouvimos o que nos interessa e encontra respaldo em nosso senso comum.

          Grande parte da sociedade que se ofendeu com a frase de Umberto Eco, legitima a colocação ao se comportar dessa maneira e talvez por isso em muitas timelines os discursos de um cidadão homofóbico, machista, racista como o Deputado Bolsonaro ganhem assustadoramente grande repercussão em todos os extratos sociais e agora em algumas camisetas estampadas. Eu já tive o desprazer de cruzar com alguém na rua vestindo tal peça de roupa

          Infelizmente, onde a leitura crítica se ausenta, cria-se terreno fértil para lideranças desse quilate, cria-se o ambiente perfeito para proliferação do pensamento reacionário, do desrespeito ao próximo e a si mesmo, da imposição de questões religiosas sobre decisões políticas e perpetua-se acima de tudo o direito quase divino das elites continuarem pisando em cima do povo, povo esse, que paradoxalmente para sentir prazer em ceder suas costas como tapete e compartilhar suas ideias embasadas em castelos de areia diante da onda que se aproxima.

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