Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS
A perda do senso crítico e a massificação nociva dos discursos inconsistentes
Confesso
com muito pesar o meu temor em relação ao título dessa reflexão.
O quadro global, mas buscando um recorte apenas do nosso país para
não nos estendermos muito, vem sendo permeado por um contexto
turbulento.
Desigualdade
social em grande crescimento, recessão econômica, hostilidades
crescentes a grupos minoritários, crise política e institucional,
enfim um quadro que dá força para quem traz em suas análises um
viés pessimista, ou simplesmente realista para alguns.
O
Grande Escritor Umberto Eco disse uma frase contundente e muito
polemizada que “As redes sociais deram voz a uma legião de
imbecis” , sem entrar no mérito ou juízo de valor dessa
afirmativa, atrevo-me a usar essa frase como um ponto de partida
reflexivo de como as tecnologias podem influenciar determinadas
partes do coletivo, principalmente os que anseiam por protagonismo
social, a formatarem suas opiniões e seus conhecimentos sem
aterem-se aos veículos e a mecanização adequada para constituição
adequada da sua opinião.
O
saber é plural em suas
manifestações, advém tanto do empirismo cotidiano, da oralidade
popular, da academia, mesmo que essa se distancie em determinados
momentos do povo. E é justamente esse saber que vem da ciência,
principalmente das humanas que detém a incumbência de refletir
sobre a sociedade, que está sendo suprimido em todos os segmentos
sociais.
Dentro
das próprias academias, cursos que também fazem ciência, mas não
com intuito de refletir a sociedade, são os primeiros a
desconsiderar quem se dedica a essa temática, talvez por isso
Médicos recentemente formados repitam gestos constrangedores e
machistas ao extremo em suas redes sociais, grupos
de outros cursos hostilizem negros e índios nos campus que
frequentam, enfim o que se passa na academia que deveria ser o berço
do pensar e da pluralidade causa uma grande perplexidade.
O cidadão fora da academia, envolvido com a labuta diária e o seu
cotidiano, sem quase nada de tempo cedido pelo “Deus do Capital”,
conhecido pelos nomes “Exploração dos empresários”,
“Necessidade absurda de consumo” “Em busca de maior status”,
e com doses nocivas e homeopáticas de “Jornal Nacional”, “Globo
News”, “Revista Veja”, “Reality Shows variados” formará o
conteúdo das suas opiniões de que forma?
Livros
ou leitores digitais beiram ao ultraje, não são mais necessários,
basta seguir algum youtuber e de preferência nem assisti-lo na
íntegra, a final basta compartilhar aquela postagem editada de 3min,
aliás editada por alguém
que tem interesses que o cidadão sequer entende. E nesse mosaico de
informações fragmentadas e que passam léguas de uma boa leitura,
de uma boa consulta, forma-se aquela frase que praticamente
transformou-se em um mantra:
"É A MINHA OPINIÃO! EU NÃO CONCORDO E PRONTO. Seu petralha…, Seu
coxinha…"
Estamos
nos encaminhando cada vez mais para um anacronismo, um reducionismo,
uma dicotomia infrutífera, por que não lemos, não estudamos e
apenas ouvimos o que nos interessa e encontra respaldo em nosso senso
comum.
Grande
parte da sociedade que se ofendeu com a frase de Umberto Eco,
legitima a colocação ao se comportar dessa maneira e talvez por
isso em muitas timelines os discursos de um cidadão homofóbico,
machista, racista como o Deputado Bolsonaro ganhem assustadoramente
grande repercussão em todos os extratos sociais e agora em algumas
camisetas estampadas. Eu
já tive o desprazer de cruzar com alguém na rua vestindo tal peça
de roupa
Infelizmente,
onde a leitura crítica se ausenta, cria-se terreno fértil para
lideranças desse quilate, cria-se o ambiente perfeito para
proliferação do pensamento reacionário, do desrespeito ao próximo
e a si mesmo, da imposição de questões religiosas sobre decisões
políticas e perpetua-se acima de tudo o direito quase divino das
elites continuarem pisando em cima do povo, povo esse, que
paradoxalmente para sentir prazer em ceder suas costas como tapete e
compartilhar suas ideias embasadas em castelos de areia diante da
onda que se aproxima.
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