sexta-feira, 28 de abril de 2017

O navio a deriva onde os marujos se dividem entre navegar e combater os capitães do mato que se espalham pelo convés diante do olhos felizes da elite que está em terra firme


Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS.



O navio a deriva onde os marujos se dividem entre navegar e combater os capitães do mato que se espalham pelo convés diante do olhos felizes da elite que está em terra firme




A grande paralisação convocada pela greve geral no dia 28 de abril, que ainda ocorre no momento em que escrevo, me instiga profundas reflexões.

          Penso sobre o papel social desempenhado nos últimos anos pela corrente ideológica mais progressista em relação a políticas públicas e que se define como “esquerda”, da qual faço parte, de que maneira muitos de nossos representantes deixaram-se absorver pela institucionalidade, a ponto de apostarem muito em jogos políticos, que embora algumas vezes necessários, acabam flertando perigosamente com representantes de um status quo outrora veementemente combatido e que de forma alguma permitiriam avanços sociais imperiosos em uma sociedade tão desigual quanto a brasileira.

          O verdadeiro e criminoso desmonte da legislação trabalhista e previdenciária que repassa aos mais pobres e vulneráveis a conta de gestões que coniventemente embricaram-se com grandes desvios, mas que em hipótese alguma pertenceram a um único partido, como desonestamente a Rede Globo e seus comparsas atribuem, transforma-se em um dos maiores se não o maior ataque a classe trabalhadora no Brasil.

          Os trabalhadores da indústria privada que entenderam a necessidade de parar e lutar pelos seus direitos, mas que não puderam realizar em razão de ameaças e risco de perda de emprego, o que fere diretamente a constituição que assegura o direito a greve e somente em razão disso tentaram e outros conseguiram comparecer em seu local de trabalho, isso eu entendo perfeitamente. Mas os funcionários públicos que foram contra a paralisação? Os funcionários públicos que aproveitaram para descansar e não sair de casa encarando o dia de hoje como uma folga? Os trabalhadores autônomos que passavam com seus carros particulares verbalizando xingamentos? Os que incautamente acreditam que a manifestação de hoje era meramente política na tentativa de defender o Partido dos Trabalhadores (PT)? Os que enxergam com viés reducionista sem manifestar a menor consciência de classes? E uma parcela da classe média que não percebe que a médio prazo estará mais empobrecida com essas medidas e perderá o seu amado “padrão de consumo”? E os incautos que não formam uma opinião consistente embasada em leituras e observações apropriadas e depois repetem o mantra “É a minha opinião”?

Manifestação em frente a empresa de transportes coletivo Soul em Alvorada-RS

          Dentre as reflexões que no inicio do texto citei que havia sido instigado, essa é uma das mais preocupantes. Com a plena consciência da construção social, me indago e repasso essa indagação de como em termos práticos poderemos ajudar a libertar muitos de nossos pares desse comportamento tipico de “Capitão do Mato”? Como dialogar com quem não quer ouvir? Como demonstrar que a realidade a qual muitos foram inseridos é um mero apêndice da construção social coletiva que faz questão de demarcar territórios nas esferas decisivas, mas que vende esse falso discurso de que uma renda média ou alta te faz pertencer a uma classe que não te quer, a não ser como verdadeiramente MASSA DE MANOBRA!!!

          Quem não detém os meios de produção, mas age como tal não é rico, é apenas um capitão do mato do século XXI infiltrado em um navio a deriva e prejudicando os marujos que lutam para salvar a embarcação. E tudo isso sob o olhar feliz da classe dominante que se regozija em terra firme.

Com o companheiro de lutas pela educação e colaborador do Blog Humanidades em debate Professor Eduardo Schutz.

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