Daniel da Luz Machado é Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade São Judas Tadeu e Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS.
O navio a deriva
onde os marujos se dividem entre navegar e combater os capitães do
mato que se espalham pelo convés diante do olhos felizes da elite
que está em terra firme
A
grande paralisação convocada pela greve geral no dia 28 de abril,
que ainda ocorre no momento em que escrevo, me instiga profundas
reflexões.
Penso
sobre o papel social desempenhado nos últimos anos pela corrente
ideológica mais progressista em relação a políticas públicas e
que se define como “esquerda”, da qual faço parte, de que
maneira muitos de nossos representantes deixaram-se absorver pela
institucionalidade, a ponto de apostarem muito em jogos políticos,
que embora algumas vezes necessários, acabam flertando
perigosamente com representantes de um status quo outrora
veementemente combatido e que de forma alguma permitiriam avanços
sociais imperiosos em uma sociedade tão desigual quanto a
brasileira.
O
verdadeiro e criminoso desmonte da legislação trabalhista e
previdenciária que repassa aos mais pobres e vulneráveis a conta de
gestões que coniventemente embricaram-se com grandes desvios, mas
que em hipótese alguma pertenceram a um único partido, como
desonestamente a Rede Globo e seus comparsas atribuem, transforma-se
em um dos maiores se não o maior ataque a classe trabalhadora no
Brasil.
Os
trabalhadores da indústria privada que entenderam a necessidade de
parar e lutar pelos seus direitos, mas que não puderam realizar em
razão de ameaças e risco de perda de emprego, o que fere
diretamente a constituição que assegura o direito a greve e somente
em razão disso tentaram e outros conseguiram comparecer em seu local
de trabalho, isso eu entendo perfeitamente. Mas os funcionários
públicos que foram contra a paralisação? Os funcionários públicos
que aproveitaram para descansar e não sair de casa encarando o dia
de hoje como uma folga? Os trabalhadores autônomos que passavam com
seus carros particulares verbalizando xingamentos? Os que
incautamente acreditam que a manifestação de hoje era meramente
política na tentativa de defender o Partido dos Trabalhadores (PT)?
Os que enxergam com viés reducionista sem manifestar a menor
consciência de classes? E uma parcela da classe média que não
percebe que a médio prazo estará mais empobrecida com essas medidas
e perderá o seu amado “padrão de consumo”? E os incautos que
não formam uma opinião consistente embasada em leituras e
observações apropriadas e depois repetem o mantra “É a minha
opinião”?
Manifestação em frente a empresa de transportes
coletivo Soul em Alvorada-RS
Dentre
as reflexões que no inicio do texto citei que havia sido instigado,
essa é uma das mais preocupantes. Com a plena consciência da
construção social, me indago e repasso essa indagação de como em
termos práticos poderemos ajudar a libertar muitos de nossos pares
desse comportamento tipico de “Capitão do Mato”? Como dialogar
com quem não quer ouvir? Como demonstrar que a realidade a qual
muitos foram inseridos é um mero apêndice da construção social
coletiva que faz questão de demarcar territórios nas esferas
decisivas, mas que vende esse falso discurso de que uma renda média
ou alta te faz pertencer a uma classe que não te quer, a não ser
como verdadeiramente MASSA DE MANOBRA!!!
Quem
não detém os meios de produção, mas age como tal não é rico, é
apenas um capitão do mato do século XXI infiltrado em um navio a
deriva e prejudicando os marujos que lutam para salvar a embarcação.
E tudo isso sob o olhar feliz da classe dominante que se regozija em
terra firme.
Com o companheiro de lutas
pela educação e colaborador do Blog Humanidades em debate Professor Eduardo Schutz.
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