sexta-feira, 21 de abril de 2017

BREVE RELATO SOBRE A CRIAÇÃO DO CURSINHO POPULAR MINERVINO DE OLIVEIRA EM ALVORADA


Rafael Freitas, Historiador Alvoradense, Membro fixo do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata e Comunicador da Rádio Comunitária a Voz do Morro










BREVE RELATO SOBRE A CRIAÇÃO DO CURSINHO POPULAR MINERVINO DE OLIVEIRA EM ALVORADA

          Eis que em dezembro de 2016 surgiu a ideia de criar um cursinho pré vestibular popular em Alvorada, depois que essa cidade teve a experiência similar com o chamado Zumbi dos Palmares. E no mesmo lugar, na União das Associações de Moradores de Alvorada. Era uma conversa para a minha pesquisa sobre Luis Carlos Solim e sobre outras questões envolvendo política, como o início da criação do ativo do Coletivo Negro Minervino de Oliveira na cidade, quando o Sr. Raul Pereira perguntou “Porque vocês não fazem um cursinho na UAMA?”. 

           Unindo todas as ideias, entre conversas com o pessoal da UAMA, de cursinhos como o próprio Zumbi dos Palmares, Esperança Popular da Restinga em Porto Alegre, entre outros momentos de ricas reflexões e debates, os dois membros iniciais do Coletivo organizaram uma primeira formação aberta tendo em vista a formação da equipe de organização do cursinho.
            A formação ocorreu em 19 de janeiro de 2017 e teve como palestrante o militante da Resistência Popular professor Pablo, que abordou a importância da inserção no ensino superior para as classes populares. A próxima formação abordou os Panteras Negras. E muitas outras ocorrerão, pois o Coletivo está aberto a todos os que também lutam contra o racismo e pela pauta histórica das lutas de classe em Alvorada, que é confrontar a discriminação econômica que somente será abolida quando nossa sociedade não se dividir em classes sociais.
          O primeiro nome pensado para o cursinho foi Luis Carlos Solim, um ainda ilustre desconhecido para a população alvoradense. Mas ao ouvir um pouco sobre a trajetória de Minervino de Oliveira, o sr Raul, que faz parte da diretoria da UAMA, foi aluno e um apoio na coordenação do cursinho Zumbi enquanto esteve ali na UAMA por cerca de três anos, foi um entusiasta em dar esse nome para o cursinho popular. Sugestão aceita por mim e por Rafael Melo. O próximo passo foi produzir o logotipo.
          Todos os participantes do cursinho são voluntários e possuem ligação sentimental com Alvorada, almejando que a solidariedade não seja mais apenas os dizeres do pórtico de entrada na cidade, mas uma realidade. Foram estabelecidos os valores do cursinho, como o combate ao racismo, ao machismo, a discriminação religiosa e econômica. Bem como foram também definidos os seus deveres, de promover debates e atividades que reforcem o papel do cidadão; de empoderar alunos e alunas para que eles ocupem seus espaços de direito, dentro e fora de Alvorada; de promover o diálogo entre alunos sobre atualidades, direitos do cidadão e o debate político, para cada estudante exercer a cidadania de forma prática; instigar o debate sobre minorias e cultivar o respeito ao próximo; respeitar os espaços de fala de cada um e incentivar a participação coletiva.
          O Coletivo Negro Minervino de Oliveira alvoradense hoje possui seu secretariado, sempre visando estimular o surgimento de novas lideranças comunitárias. E o Pré Vestibular Popular Minervino de Oliveira hoje tem definida a sua equipe de organização, formada por um diretor geral, uma coordenação administrativa e uma coordenação pedagógica. Aonde seus integrantes não são todos do Coletivo Negro, que não é dono do cursinho. Não há um dono, como se o cursinho fosse uma propriedade privada. Além disso, pode-se dizer que também não há hierarquias, mas divisão de tarefas, aonde todos se ajudam. A instância máxima é a reunião geral, aonde há debates, votações, definição de tarefas, e as decisões coletivas são mais importantes do que as opiniões pessoais. O lema do cursinho: é popular, é nosso!
          Muitos dos membros da equipe de organização estiveram presentes desde a primeira reunião, como Fabiano Soria Vaz, Fabiano Boldrini, Davi D’Ávila Souza, Diuliane Andrade, Marcito Luz e Catiana Leite. Popular desde a sua organização portanto, o cursinho quando estava com vagas abertas para candidatos a fazer parte do seu alunado colava cartazes por Alvorada com os dizeres:“Já pensou em fazer faculdade? Estão abertas pré inscrições para interessados em fazer cursinho pré vestibular popular em Alvorada. As atividades serão realizadas na sede da UAMA- Tobias Barreto, 324, Bela Vista, Alvorada-RS (próximo à praça central) no turno da noite.”
          Tivemos mais de uma centena de interessados. Surgiram novas preocupações e passamos a buscar uma sede mais adequada para atender a essa demanda por cursinho popular em Alvorada. Chegamos ao Instituto Federal do Rio Grande do Sul, campus Alvorada.

 Foto da primeira reunião para divulgar a ideia de criar o Pré Vestibular Popular Minervino de Oliveira
          Na primeira aula, tivemos 51 alunos, que passaram a vivenciar experiências de educação popular. Eu afirmei, durante a minha fala na aula inaugural, ocorrida dia 17 de abril, que a educação popular seria a nossa utopia. Pois eu reflito muito se será possível uma educação popular de verdade em uma sociedade capitalista como a nossa aonde se insere Alvorada? O que envolve educação popular deverá ser tema de eventos ligados ao cursinho, mas enquanto isso, ela continuará sendo o nosso rumo. Quiçá o nosso alunado possa ano que vem, dentro do ensino superior, ensinar o que é educação popular, bastando apenas descrever o que viveram desde dia 17 de abril. Mês que é histórico para Alvorada.

 Fotografia tirada no primeiro dia de aula com os estudantes e parte da equipe de organização do cursinho popular Minervino de Oliveira
          O cursinho Minervino de Oliveira não deve ser um modelo para as experiências que virão, mas um cursinho popular entre outros como Transenem, Dandara, Colep, Território Popular, Zumbi dos Palmares, Lima Barreto, e diversos outros. Cada lugar e tempo tem as suas características e nenhum cursinho deve ser mera cópia de outro. Como o Minervino de Oliveira não está sendo uma mera reprodução, mas sim uma criação sem recalque e sem duplicata. 

          Com polígrafo autoral, camiseta com estética própria, que estarão movimentando a nossa história. Somos homens, mulheres, negros, brancos, católicos, de terreiro, ateus, de Alvorada, de Cachoeirinha, entre muitas outras variedades, todos da classe trabalhadora, organizados para inserir a periferia no ensino superior. Pois a periferia de Alvorada provou que quer estudar! Esse objetivo está sendo alcançado, pois o Instituto Federal do Rio Grande do Sul, campus Alvorada, é um espaço que abriga desde ensino médio até mestrado. Estamos  bem unidos fazendo a luta por meio da educação, em um cursinho sem amos, o Minervino de Oliveira!
           Encerro esse relato particular dizendo muito obrigado a companheirada: Rafael Melo, Marcito Luz, Debora Quadros, Matheus Kucharski, Lahis Brandão, Jhosi, Davi, Diuli, Edison, Lucas Morone, Janice, Leandro, Vanessa Matos, Fabiano Vaz, Fabiano Boldrini, Ana Paula Preto, Catiana Leite, Ana Paula Santos, Jairo Silva, Grazi Rodrigues, Kethlyn Martinez, Lucas Costa, Andreia Raupp, Julia Gomes, Wagner Cardoso. Christian. O grupo é grande e não acaba aqui. Todos com o mesmo objetivo, o cursinho popular Minervino de Oliveira, que não deve por questão de justiça ser o cursinho desse ou daquele indivíduo. Os nomes abaixo também fazem parte desse grande coletivo, e muito obrigado a cada um. Como todos nós temos nossas tarefas, a primeira deles é estudar! A segunda é também estudar!



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